Donald Trump: presidente dos EUA anunciou novo programa de caça ( Andrew Harnik / Getty Images via AFP)
Agência de notícias
Publicado em 21 de março de 2025 às 15h54.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, negou que o bilionário Elon Musk seria informado nesta sexta-feira sobre o planejamento de contingência do Exército americano para uma possível guerra com a China — ao mesmo tempo em que anunciou o programa do caça F-47, que ele promete ser um jato furtivo “de última geração”.
Na noite de quinta-feira, o New York Times, citando fontes familiarizadas com os planos, afirmou que Musk veria a estratégia dos EUA em uma apresentação liderada pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth, e pelos principais comandantes militares do país.
Horas após a notícia ter sido publicada pela imprensa internacional, autoridades do Pentágono e o próprio Trump negaram que a reunião seria sobre planos militares envolvendo a China. Nas redes sociais, o republicano afirmou que Pequim não seria “sequer mencionado ou discutido”. Nesta sexta, Trump reforçou que nunca teria permitido que o plano fosse compartilhado com Musk “ou qualquer pessoa do tipo”, reconhecendo os interesses comerciais do sul-africano com a China.
— Eu não quero que outras pessoas vejam, que ninguém veja um potencial plano de guerra com a China. Nós não queremos ter uma guerra com a China, mas posso dizer que, se tivermos, estamos muito bem preparados para lidar com isso — disse Trump. — Sabe, Elon tem negócios na China e ele poderia ser suscetível a isso (conflito de interesses), talvez, mas foi uma história completamente falsa.
Dar ao bilionário acesso a alguns dos segredos militares mais bem guardados do país seria uma expansão dramática de seu já extenso papel no governo americano. Também destacaria questões sobre os conflitos de interesse de Musk, que transita pela burocracia federal enquanto administra empresas que são grandes empreiteiras do governo. CEO da Space X e da Tesla, Musk é um dos principais fornecedores do Pentágono e tem interesses financeiros na China.
— Elon Musk é um patriota. Elon Musk é um inovador. Elon Musk fornece muitas capacidades das quais nosso governo e nossas forças armadas dependem, e sou grato por isso — disse Hegseth, acrescentando que as reportagens afirmando que Musk veria o plano tinham a intenção de “minar qualquer relação que o Pentágono tenha com ele”. — Nós o recebemos hoje no Pentágono para falar sobre [o departamento de eficiência governamental], para falar sobre eficiência, para falar sobre inovações. Foi uma ótima conversa informal.
Os planos de guerra do Pentágono, conhecidos no jargão militar como O-plans ou planos operacionais, estão entre os maiores segredos das Forças Armadas. Se um país estrangeiro descobrisse como os EUA planejaram combatê-lo em uma guerra, poderia reforçar suas defesas e corrigir suas vulnerabilidades, tornando os planos muito menos eficazes. Além do The Times, o Wall Street Journal, também citando fontes não identificadas com conhecimento direto do assunto, publicou que Musk receberia detalhes sobre esses planejamentos porque os solicitou.
Os relatos mais recentes ressaltam o papel sem precedentes que Musk desempenha simultaneamente no governo e na economia dos EUA. Um dos assessores mais próximos de Trump, ele investiu dezenas de milhões de dólares na campanha para a reeleição do presidente. Além de seu papel à frente do chamado Departamento de Eficiência Governamental, cujo objetivo é reduzir gastos e a folha de pagamento federal, Musk mantém contratos federais bilionários, incluindo com o Pentágono.
Simultaneamente, Musk e a Tesla dependem fortemente da China. A fábrica de Xangai, inaugurada com apoio do governo chinês, representa mais da metade das entregas globais da empresa. Em público, Musk evita criticar Pequim e, no passado, já sugeriu que Taiwan poderia se tornar uma “zona administrativa especial” da China, irritando políticos da ilha democrática. Seus negócios e declarações levantam questões sobre se ele deveria ter acesso a segredos militares dos EUA.
O planejamento para uma guerra com a China domina o pensamento do Pentágono há décadas, bem antes de um possível confronto com Pequim passar a ser mais convencional no Capitólio. Os EUA estruturaram suas forças Aéreas, Marinha e Espaciais — e mais recentemente seus fuzileiros navais e Exército — tendo em mente essa possibilidade.
Após negar o envolvimento de Musk nos planos de guerra com Pequim, Trump mudou o foco do discurso para a defesa — e revelou o programa do caça F-47, que ele definiu como a aeronave “mais avançada, mais capaz e mais letal já construída”. O republicano anunciou que uma versão experimental do caça já tem voado secretamente há quase cinco anos, e que o governo está confiante de que ele irá superar “massivamente as capacidades de qualquer outra nação”.
— O F-47 está equipado com tecnologia furtiva de última geração. Ele é virtualmente invisível e tem um poder sem precedentes, o maior poder de qualquer jato desse tipo já fabricado — disse o republicano sobre o caça, cuja designação pode ser uma homenagem a ele próprio, que é o 47º presidente dos Estados Unidos.
A Boeing Co. irá projetar e construir o caça, que, ainda segundo Trump, “garantirá que os EUA continuem dominando os céus”. A decisão encerra mais de dois anos de disputa entre os gigantes do setor pela fase de desenvolvimento em grande escala do caça tripulado Next Generation Air Dominance (NGAD). O novo jato, que substituirá o F-22 Raptor, foi projetado para operar em conjunto com drones, que estão sendo desenvolvidos em um programa separado.
Embora poucos detalhes sobre o projeto tenham sido divulgados, dados orçamentários publicados no ano passado mostraram que a Força Aérea pretende investir até US$ 20 bilhões em pesquisa e desenvolvimento do NGAD até 2029. Para a Boeing, assumir o projeto representa uma vitória após perder o programa do caça F-35 para a Lockheed Martin em 2001.
No entanto, além dos desafios habituais de um contrato de defesa tão grande e complexo, a Boeing também precisará lidar com Musk, assessor de corte de custos da administração Trump, que já criticou publicamente o F-35 e questionou a necessidade de caças tripulados diante dos avanços da tecnologia de drones. O bilionário já pediu que o Pentágono pare de comprar itens de alto custo, incluindo os caças F-35 da Lockheed Martin, que custam mais de US$ 12 bilhões anuais ao governo.
Se tudo correr conforme o planejado, o novo caça entrará em operação na década de 2030. Embora o F-22 possua tecnologia furtiva e capacidade de cruzeiro supersônico, ele foi desenvolvido antes da aposta militar dos EUA na utilização de drones como extensão de seu poder. Assim como o F-22, o novo caça foi projetado para combates ar-ar. Já o F-35, embora tenha essa mesma capacidade, também é utilizado para coletar e distribuir informações sobre alvos aéreos e terrestres.