Sebastián Piñera: revista Forbes avaliou sua fortuna em 2,7 bilhões de dólares, o equivalente a cerca de R$ 13,4 bilhões (Dan Kitwood/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 7 de fevereiro de 2024 às 07h11.
Morreu nesta terça-feira, aos 74 anos, o ex-presidente chileno Sebastián Piñera, vítima de um acidente de helicóptero. Com dois mandatos no país, Piñera foi um bilionário hábil com trajetória política marcada por revoltas da população e acusações de corrupção.
Além disso, era ex-acionista de uma multinacional, um canal de televisão e um time de futebol. No dia de sua morte, a revista Forbes avaliou sua fortuna em 2,7 bilhões de dólares, o equivalente a cerca de R$ 13,4 bilhões.
Ex-acionista da empresa de aviação chilena LAN — hoje a multinacional LATAM —, de um canal de televisão e do clube de futebol Colo Colo, Piñera foi o primeiro presidente de direita desde o retorno da democracia após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). No entanto, antes de se envolver na política, foi empresário bem-sucedido e investidor, segundo a Forbes.
O patrimônio líquido de Piñera, avaliado pela revista no dia de sua morte, estava estimado em R$ 13,4 bilhões. A riqueza, de acordo com a revista, foi construída com os investimentos feitos na Latam e, também, em empresas de cartão de crédito.
O acidente que matou o ex-presidente aconteceu na localidade de Lago Ranco, 920 quilômetros ao sul de Santiago. À frente do país por dois mandatos (de 2010 a 2014 e 2018 a 2022), Piñera foi um dos fundadores do partido Renovação Nacional, uma das principais formações da direita tradicional do país.
"Com profundo pesar, comunicamos o falecimento do ex-presidente da República do Chile, Sebastián Piñera Echeñique, aos 74 anos de idade. O ex-chefe de Estado morreu depois que seu helicóptero se chocou enquanto viajava com outras três pessoas, que sobreviveram", comunicou a assessoria do ex-mandatário. As causas do acidente, que ocorreu por volta das 15h no horário local (o mesmo de Brasília), ainda não foram descobertas.
Piñera era quem pilotava o helicóptero, de sua propriedade. A aeronave, um modelo Robinson 66, foi encontrada submersa pela Marinha a 40 metros de profundidade no lago. Seu corpo ainda não pôde ser retirado do local. O Serviço Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres (Senapred) informou que, além da Marina, o Corpo de Bombeiros, Carabineros e Samu ainda atuam na região.
Segundo a imprensa chilena, a família de Piñera tem uma propriedade em Bahía Coique, para onde tem o costume de viajar todos os verões, sobrevoando o Lago Ranco. Ainda de acordo com a mídia local, a terça-feira foi chuvosa na região, com condições climáticas complexas.
A ministra do Interior, Carolina Tohá, informou que o presidente Gabriel Boric, que deve se pronunciar em breve, instruiu que seja realizado um funeral de Estado para o ex-presidente, além de ser declarado luto nacional — o país já enfrenta um pela morte de mais de 130 pessoas nos incêndios florestais que assolam o Centro e o Sul do país.
— Ele terá todas as honras e reconhecimentos republicanos que merece — disse Tohá no Palácio de La Moneda, a sede presidencial chilena. — O presidente Piñera nos governou e vamos lembrá-lo pela forma como doou e dedicou sua vida ao serviço público.
A morte do ex-presidente direitista foi amplamente lamentada por autoridades chilenas e internacionais, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Surpreso e triste com a morte de Sebastián Piñera, ex-presidente do Chile. Convivemos, trabalhamos pelo fortalecimento da relação dos nossos países e sempre tivemos um bom diálogo, quando ambos éramos presidentes, e também quando não éramos. Muito triste seu falecimento de forma tão abrupta. Meus sentimentos aos seus familiares e amigos de Piñera por esta perda", publicou o perfil de Lula no X, antigo Twitter.
Por sua vez, a ex-presidente socialista chilena Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018) disse: "sempre valorizei o compromisso do ex-presidente Piñera com o nosso país e a democracia, bem como o seu trabalho incansável e serviço à nação. Que descanse em paz".
O Gabinete do presidente Javier Milei, da Argentina, também lamentou a morte de Piñera, enviando "condolências aos familiares, amigos e ao povo chileno em nome do Estado Argentino".
Também o fez o ex-presidente da Argentina, Mauricio Macri: "Realmente é uma perda total, insubstituível. Hoje me despeço de um amigo e de um líder notável. Todo o meu carinho para sua família", escreveu o ex-presidente argentino no X.
"Sinto a maior dor pela morte do meu grande amigo e colega Sebastián Piñera. Um líder único, um ser humano íntegro e um amigo como poucos que sempre apoiaram a Colômbia. Minha solidariedade a toda a sua família", escreveu o ex-presidente colombiano Iván Duque, muito próximo de Piñera, no X.
O partido Renovação Nacional também lamentou profundamente a morte, destacando sua "marca indelével na política chilena". "Sua vida foi dedicada ao serviço público, demonstrando um compromisso com o bem-estar do Chile e de seu povo. O ex-presidente Piñera foi um líder que constantemente buscou unir o país, transcendendo diferenças políticas para trabalhar pelo bem comum", disse o partido em comunicado.
Piñera nasceu em Santiago em 1º de dezembro de 1949, filho do ex-embaixador José Piñera Carvallo e Magdalena Echenique Rozas, e teve uma carreira de sucesso como empresário antes de entrar na política. Casado com Cecilia Morel desde 1973, com quem teve quatro filhos, Piñera era engenheiro comercial formado pela Universidade Católica do Chile e pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Antes de ingressar na política, Piñera construiu uma carreira de sucesso como empresário, sendo um dos principais empreendedores do país. Ele foi fundador e principal acionista de várias empresas, incluindo a companhia aérea LAN Chile (atual Latam Airlines), o canal de televisão Chilevisión e Blanco y Negro, que administra o clube de futebol Colo-Colo.
Sua incursão na política começou nos anos 1980, quando se tornou senador independente após participar ativamente do plebiscito de 1988 contra a ditadura de Pinochet. Mais tarde, em 2005, foi candidato presidencial pela Renovação Nacional, perdendo para Bachelet nas eleições de 2006. Em 2010, liderando a centro-direita, foi eleito presidente, servindo até 2014. Em 2018, foi reeleito para um segundo mandato, encerrando em 2022, sendo sucedido por Boric.
Durante seu último mandato, Piñera enfrentou a crise social de outubro de 2019, quando protestos massivos desencadeados pelo aumento das tarifas do metrô acabaram se transformando em uma grande reivindicação contra um modelo de mercado livre com a ausência do Estado na educação, saúde, pensões e sem assistência social.
A pandemia de Covid-19 se somou à convulsão social; a polarização política cresceu devido ao debate sobre a mudança da Constituição; e, além disso, houve uma crise econômica que o Chile não experimentava há 30 anos