Schulz: a reforma do mercado de trabalho inclui uma redução das cotações patronais e uma pressão maior nos desempregados para retornar ao mercado de trabalho (Eric Vidal / Reuters)
AFP
Publicado em 21 de fevereiro de 2017 às 16h50.
O líder dos social-democratas alemães, Martin Schulz, primeiro nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de setembro, à frente da chanceler alemã, Angela Merkel, faz campanha promovendo um programa de esquerda tachado por seus críticos de demagógico.
Ex-presidente do Parlamento Europeu, Schulz atacou na segunda-feira um símbolo da social-democracia alemã, ao criticar as reformas do mercado de trabalho, de viés liberal, impulsionadas entre 2003 e 2005 pelo ex-chanceler Gerhard Schroeder (SPD).
Estas medidas, conhecidas como "Agenda 2010", foram defendidas durante anos pelo partido social-democrata SPD.
A reforma do mercado de trabalho inclui uma redução das cotações patronais e uma pressão maior nos desempregados para retornar ao mercado de trabalho.
A reforma permitiu à Alemanha sair do marasmo econômico e reduzir sua taxa de desemprego a um nível historicamente baixo.
Mas também contribuiu para a criação de uma geração de "trabalhadores pobres", que deve se conformar com contratos precários.
"Nós também cometemos erros", disse Schulz na segunda-feira, em uma reunião com militantes, ao comentar a Agenda 2010 e descrevendo uma situação catastrófica para os funcionários do país.
"O importante, quando se vê que houve erros, é corrigi-los", acrescentou.
O candidato do SPD, que disputa com Merkel a chancelaria alemã, prometeu estender o tempo em que os desempregados recebem seguro desemprego, garantir aposentadorias e também por fim aos contratos laborais curtos.
Um questionamento total das reformas de Schroeder nos anos 2000.
Nesta terça-feira, o jornal econômico Handelsblatt criticou com ironia um Schulz que "orienta a social-democracia para a esquerda", qualificando-o de o "Robin Hood do SPD".
Com esse posicionamento, o ex-presidente da Eurocâmara aproxima o partido - que continua sendo membro da coalizão governamental da chanceler conservadora e que até agora tinha uma linha mais centrista - do trabalhismo britânico de Jeremy Corbyn ou do socialismo do aspirante francês à Presidência, Benoit Hamon.
A esquerda radical alemã, Die Linke, aplaudiu a guinada do SPD pela mão de Martin Schulz, e não exclui uma eventual coalizão depois das eleições de setembro.
Mas a direita conservadora e o setor patronal criticam o candidato social-democrata.
Um dos encarregados do partido de Merkel, a União Democrata-cristã da Alemanha (CDU), Michael Fuchs, acusou Schulz de ceder à "social-demagogia", com posições irrealistas e sua tendência de ofuscar a situação do país.
Para o ministro das Finanças, Wolfgang Schauble, o candidato social-democrata cede "à demagogia" com seus discursos e promessas de ruptura, quando o desemprego no país é muito baixo.
Entre os social-democratas, Martin Schulz, tem uma vantagem de proporção ante o ex-líder do SPD, Sigmar Gabriel, muito impopular, que substituiu no fim de janeiro: não pertence à coalizão governamental e não deve assumir diretamente a política impulsionada também pelos social-democratas desde 2013.
Esta margem de manobra lhe permite se posicionar como o homem da mudança. Seu talento de orador, com o qual fala "a linguagem do povo", permitiu-lhe galvanizar não só os simpatizantes do SPD.
O SPD, que tinha apenas 20% das intenções de voto, a quinze pontos do partido de Merkel, teve nas ultimas semanas uma recuperação espetacular.
Os social-democratas estão agora par a par, às vezes à frente do partido da chanceler, ameaçada pelo movimento nacionalista anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD).
Uma pesquisa publicada no domingo pelo jornal Bild dava ao SPD 33% das intenções de voto contra 32% para o partido de Merkel.