Cidade de Riad, na Arábia Saudita: plano levou muitos outros imigrantes ilegais a fugir para outros países (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2013 às 09h23.
Riad - A alta dos preços, o fechamento de lojas e a paralisação de setores como a construção mostram a outra cara da recente campanha lançada pela Arábia Saudita para expulsar do país os imigrantes em situação irregular.
Este plano, que na primeira semana de aplicação resultou na prisão de cerca de 33 mil pessoas, levou muitos outros imigrantes ilegais a fugir para outros países, enquanto os que ficaram têm medo de sair às ruas.
Desta forma, os trabalhos que antes eram realizados pelos imigrantes ficaram vagos e as consequências já são notáveis.
Toneladas de lixo se amontoam nas ruas dos bairros residenciais de cidades como Meca, lojas habitualmente lotadas fecharam suas portas e quase metade das empresas de construção têm paralisado seus projetos devido à grande dependência de trabalhadores estrangeiros.
Além disso, profissionais como encanadores, eletricistas, carpinteiros ou pintores subiram o preço de seus serviços diante da redução de mão-de-obra no país.
"Não foi feito um estudo de mercado para evitar consequências como as que estamos vendo, como o aumento dos preços e a repentina ausência de trabalhadores", lamentou à Agência Efe um empresário saudita identificado como Luay.
Segundo estimativas da imprensa local, 20 mil escolas precisam de trabalhadores da limpeza e motoristas de ônibus. Além disso, só nas últimas duas semanas os preços dos alimentos subiram cerca de 20% no mercado nacional.
O presidente da Comissão de Alimentos e Bebidas na Câmara do Comércio e Indústria, Saif Sherbatli, explicou à imprensa que o impacto da campanha de inspeção afeta principalmente o mercado das frutas e verduras, onde inclusive a exportação foi paralisada.
Sherbatli advertiu sobre a possível estagnação do comércio, mas também opinou que a campanha "é de interesse público por questões de segurança e para frear os abusos trabalhistas".
O governo saudita iniciou no começo de novembro uma intensa campanha de perseguição e detenção de imigrantes irregulares com o objetivo de "lutar contra os infratores da lei de residência e trabalho".
Embora a intenção das autoridades seja aumentar a contratação de trabalhadores locais, expulsando a mão-de-obra estrangeira, empresários como Luay consideram que houve uma má gestão em um país onde a taxa de desemprego gira em torno dos 12%.
Um dos setores mais afetados pela campanha é o da construção, devido à grande dependência dos trabalhadores temporários e sazonais.
Segundo um relatório divulgado pela imprensa, os investidores calculam que os custos nesse setor aumentarão cerca de 50%.
O Comitê Nacional de Empreiteiros sauditas pediu "flexibilidade" nas inspeções de trabalho para diminuir os danos econômicos e propôs a eliminação da campanha para empresas de construção "pela escassez de trabalhadores e aumento dos salários em 30%".
"Considerar que os trabalhadores temporários são delinquentes é muito prejudicial para os grandes projetos que dependem desse tipo de empregados", disse o presidente da comissão, Fahd el Hamadi.
A longo prazo, as previsões dos analistas variam sobre as consequências da perseguição aos imigrante ilegais.
O economista Abdelhamid Amari expressou à Efe seu otimismo e considerou que estas medidas serão positivas para a economia local, com o argumento do desaparecimento da economia paralela.
"Os impostos pagos pelos trabalhadores não correspondem às suas receitas efetivas, já que costumam declarar quantidades menores e isso representa a economia paralela", disse.
As remessas dos trabalhadores estrangeiros superaram US$ 33 bilhões ano passado no país, enquanto os custos trabalhistas se estimam em US$ 23,3 bilhões, segundo números oficiais divulgados pelo Ministério do Trabalho saudita.