"O voto a Le Pen não é um voto contra a República porque se expressa dentro do marco da República", defendeu o presidente e candidato conservador em um comício (Martin Bureau/AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de abril de 2012 às 17h45.
Paris - Durante entrevistas e comícios, o socialista François Hollande e o conservador Nicolas Sarkozy buscaram nesta terça-feira, cada um com seu jeito, cortejar os eleitores da ultradireitista Marine Le Pen, cujos 6,7 milhões de seguidores no primeiro turno de domingo poderiam ser relevantes na rodada do dia 6 de maio.
"O voto a Le Pen não é um voto contra a República porque se expressa dentro do marco da República", defendeu o presidente e candidato conservador em um comício em Longjumeau, nos arredores de Paris, em rejeição àqueles que consideram o apoio à líder da Frente Nacional (FN) como algo fora do sistema.
Entre esses seguidores, que outorgaram ao partido um recorde histórico de 17,9%, a imigração se apresenta segundo pesquisas recentes como a principal preocupação, e esse foi um dos temas que marcaram o discurso de Le Pen e que a imprensa considera estratégico para os dois adversários.
Durante a campanha, Sarkozy não fez referência a uma hipotética aliança com a extrema direita, mas lançou mensagens que parecem pensadas especialmente para atrair seus seguidores.
"Não podemos continuar recebendo tantos estrangeiros", disse em declarações concedidas à emissora pública "France 2", onde explicou que sua intenção é reduzir pela metade o número de estrangeiros que chegam a cada ano e aproveitou para ressaltar que a intenção de seu oponente é regularizar todos.
Além disso, o direito ao voto dos estrangeiros nas eleições locais se apresentou como um dos temas de destaque do dia. Para Sarkozy, o voto continuará como "exclusivo dos cidadãos franceses", e Hollande afirma que de acordo com seu programa, esta medida será iniciada ao longo de seu eventual mandato.
Segundo a imprensa, nestas duas últimas semanas a equipe do socialista tem diante de si o trabalho de convencer que a direita não possui o monopólio do "patriotismo", enquanto o presidente insistirá em sua vontade de renegociar o tratado de Schengen e restaurar as fronteiras econômicas.
Exemplo do desejo de gerar confiança em todos os eleitores e lançar uma mensagem esperançosa foi o deslocamento de Hollande a Aisne nesta terça-feira, departamento onde quase foi superado por Le Pen, que obteve 26,33% dos votos contra seus 27,1%.
"Eu me dirijo a todos os eleitores e eleitoras. Não faço distinções", disse o candidato, que em entrevista ao jornal "Libération" divulgada nesta terça-feira indicou que parte do eleitorado de Le Pen procede da esquerda e "deveria voltar ao lado do progresso, da igualdade e da mudança".
Com vontade de desmentir esta suposta caça aos eleitores da extrema direita divulgada pela imprensa nacional, o socialista quis deixar claro que não mudou e não irá modificar sua política nesta segunda parte das eleições.
"Não quero seduzir nem fazer concessões. Os franceses querem um presidente que mantenha sua postura, não um que mude de propostas", acrescentou na emissora "TF1" o favorito segundo todas as pesquisas, que disse ter sido coerente e constante desde o início das disputas.
A vontade de se distanciar dessa interpretação da imprensa foi comentada nesta terça-feira também pelo primeiro-ministro, François Fillon, segundo o qual, como apontou no telejornal do "Canal+", essa estratégia não tem nenhum sentido.
Para o chefe do Governo francês, o papel dos responsáveis políticos é agora analisar os resultados do primeiro turno, liderado por Hollande (28,63%) e Sarkozy (27,18%), e extrair as consequências destes índices e do "voto de crise" da ultradireitista.