Igreja da Multiplicação dos Pães e Peixes: as chamas destruíram o teto, deixando aparecer o céu entre as vigas carbonizadas (AFP / MENAHEM KAHANA)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2015 às 14h23.
Tabgha - O santuário de Tabgha, construído no local onde, segundo a tradição, Jesus fez o milagre da multiplicação dos pães, foi incendiado na madrugada desta quinta-feira em Israel, em um ato de ódio religioso.
A polícia israelense anunciou a detenção de 16 jovens colonos judeus que supostamente estariam envolvidos no ataque, mas que foram rapidamente liberados.
"Em um setor próximo à igreja, 16 jovens foram detidos como parte da investigação para verificar o incidente que aconteceu de madrugada nesta igreja do leste de Israel", afirmou a porta-voz da polícia, Luba Samri.
Duas salas do complexo que cerca a chamada Igreja da Multiplicação, na margem noroeste do lago de Tibériade, foram atingidas pelo incêndio, que provocou indignação.
"Graças a Deus, a igreja está em bom estado. Estamos contentes que nada tenha acontecido com a igreja", declarou à AFP o padre Matthias, da ordem dos beneditinos alemães que administra o local.
As chamas destruíram o teto, deixando aparecer o céu entre as vigas carbonizadas. Frades e freiras caminhavam pelos escombros, entre portas e móveis destruídos pelo fogo.
Duas pessoas que estavam no local no momento do incêndio foram levadas ao hospital após inalarem muita fumaça, segundo um porta-voz da polícia, Micky Rosenfeld.
A suspeita de um ato de intolerância religiosa foi imediatamente levantada. Em um muro do templo, os autores deixaram uma pichação em hebraico pedindo a eliminação dos deuses pagãos de Israel, segundo um fotógrafo da AFP, uma referência a uma oração judaica pronunciada três vezes por dia.
Há vários anos, ativistas de extrema-direita e colonos cometem atos de vandalismo e agressões contra palestinos, árabes-israelenses, assim como contra locais de culto muçulmanos e cristão, como parte de uma campanha que chamam de "O preço a pagar".
Investigação prosseguirá
O santuário de Tabgha já havia sido cenário de um ataque em abril de 2014, pouco antes da visita do papa Francisco a Terra Santa. Segundo líderes católicos, jovens judeus destruíram cruzes e atacaram religiosos.
Em poucas horas, a polícia deteve 16 jovens que vivem em colônias judaicas da Cisjordânia, 10 deles em Yitzhar, conhecida como um reduto extremista onde alguns colonos já estiverem envolvidos em atos de ódio religioso.
Eles, contudo, foram rapidamente soltos sem que nenhuma queixa tenha sido registrada, "após serem interrogados. A investigação prosseguirá", indicou a polícia em um comunicado.
A liberação do grupo não dissipou a suspeita de um ato de ódio religioso.
"Entre a pichação e o incêndio, podemos fazer uma conexão e deduzir quem fez isso", disse um assessor da Igreja Católica Romana na Terra Santa, Wadie Abu Nassar, na rádio pública. O incidente já tem provocado grande comoção muito além das fronteiras de Israel, ele previu. "A imagem internacional de Israel será atingida", ressaltou.
"A terrível profanação de um lugar de oração antigo e sagrado é um ataque contra a própria essência do nosso país", declarou o presidente israelense, Reuven Rivlin. "O governo e a sociedade israelense têm o dever de proteger e preservar os lugares sagrados de todas as religiões", insistiu.
O embaixador alemão em Israel, Andreas Michaelis, disse estar "chocado" com o incidente. "Condeno energicamente estes ataques e todas as formas de violência" contra lugares de oração ou contra aqueles que oficiam lá, afirmou em um comunicado. Ele apelou para o reforço da proteção das instituições religiosas.