Vaticano: nada transcendeu por ora dessa reunião, mas antes dela, o Papa recebeu os dois convidados separadamente (Osservatore Romano/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de dezembro de 2016 às 15h47.
Os desacordos sobre o processo de paz colombiano entre o presidente Juan Manuel Santos e seu antecessor Alvaro Uribe permaneceram intactos nesta sexta-feira, mesmo depois da mediação do papa Francisco, em um dia que poderia ter sido histórico para a Colômbia.
O papa Francisco recebeu no Vaticano os dois presidentes que se encontram em lados totalmente opostos quanto ao recente acordo de paz com a guerrilha das Farc para colocar fim a 50 anos de conflito.
Coincidindo com a visita prevista de Santos à Santa Sé, dentro de sua viagem pela Europa, o sumo pontífice convocou inesperadamente Uribe para uma reunião conjunta, em uma aparente tentativa de aproximar suas posições.
Nada transcendeu por ora dessa reunião, mas antes dela, o Papa recebeu os dois convidados separadamente.
"O papa falou da 'cultura do encontro' e assinalou a importância de um diálogo sincero entre todos os atores da sociedade colombiana neste momento histórico", afirmou um comunicado do Vaticano.
"Precisamos de sua ajuda", disse Santos a Francisco durante os 20 minutos em que permaneceram reunidos.
"Ele me reiterou também seu apoio ao novo acordo de paz e sua pronta implementação", declarou Santos à imprensa, depois de um almoço com o presidente italiano, Sergio Mattarella.
O novo Prêmio Nobel da Paz presenteou o Papa com a caneta - feita com uma bala - que em 24 de novembro serviu para assinar com o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Londoño (Timochenko), o renegociado acordo de paz, depois que uma primeira versão foi rejeitada em referendo popular.
Uribe, por sua vez, reiterou ante o Papa suas críticas ao acordo de paz, segundo declarou à imprensa.
"Não podem nos impor tudo isso, Sua Santidade", afirmou Uribe à imprensa, ao fim de sua reunião com Santos e Francisco.
O ex-presidente, o mais ferrenho detrator do processo de paz com a guerrilha de seu país, explicou que o que está pedindo é que sejam reformulados vários pontos.
"Houve modificações, mas existem alguns pontos muito delicados queo governo não quer reformular", enfatizou.
Entre os temas que mais preocupaUribe, figura o da "imunidade total para os delitos de crime contra a humanidade".
"Neste momento, há colombianos que estão na prisão e que cometeram delitos menores do que os das Farc e que vã ficar em zonas de concentração se aceitarmos isso, mas nas mínimas condições penitenciárias", pediu Uribe.
O ex-presidente continua se opondo ao acordo referendado há duas semanas pelo Congresso colombiano, apesar de o acordo ter sido renegociado para incluir propostas da oposição.
Uribe, agora senador, chegou nesta sexta a Roma procedente de Bogotá.
Já Santos realiza uma viagem pelo Velho Continente depois de ter ido a Oslo para receber o Nobel da Paz, que aceitou "em nome das vítimas do conflito na Colômbia".
"A guerra, que causou tanto sofrimento e angústia à nossa população, de alto a baixo do nosso belo país, terminou", declarou, solene, o presidente em seu discurso.