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Santos diz que deixará governo da Colômbia orgulhoso, mas também frustrado

Presidente do país deixa o cargo na semana que vem lamentando não ter conseguido fazer mais para unir a nação e reduzir a desigualdade

Juan Manuel Santos: "Nós fomos o país latino-americano que mais reduziu a desigualdade, mas, ainda assim, a desigualdade aqui é vergonhosa" (Carlos Julio Martinez/Reuters)

Juan Manuel Santos: "Nós fomos o país latino-americano que mais reduziu a desigualdade, mas, ainda assim, a desigualdade aqui é vergonhosa" (Carlos Julio Martinez/Reuters)

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Reuters

Publicado em 31 de julho de 2018 às 17h53.

Bogotá - O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que apostou seu legado no encerramento de uma guerra de cinco décadas com rebeldes marxistas, deixa o cargo na semana que vem satisfeito por ter supervisionado um acordo de paz histórico, mas frustrado por não ter conseguido fazer mais para unir a nação e reduzir a desigualdade.

Aclamado internacionalmente por negociar a paz com as antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Santos foi criticado por muitos colombianos que dizem que ele se vendeu aos rebeldes em troca do Prêmio Nobel da Paz e deixou o país mais perigoso.

Mas Santos, de 66 anos, diz que dorme bem de noite, orgulhoso de ter silenciado as armas das Farc e ter iniciado negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN), o último grupo rebelde ainda ativo na Colômbia.

"Tenho mais cabelos brancos agora e sou avô, mas estou calmo e muito satisfeito com os resultados", disse o presidente de dois mandatos à Reuters antes de passar a faixa para o presidente eleito de direita Iván Duque em 7 de agosto.

"Politicamente me sinto um pouco frustrado, gostaria de ter deixado o país mais unido. Acreditem, eu tentei, mas não foi possível."

Descendente de uma das famílias mais prósperas da nação, Santos não levava a crer que lideraria um processo de paz com as Farc, que confrontaram uma dúzia de governos durante um conflito que matou mais de 220 mil pessoas e deslocou milhões.

Ele foi um dos ministros da Defesa mais rígidos do país no governo do ex-presidente linha-dura Álvaro Uribe, infligindo alguns dos golpes mais duros no grupo e obrigando-o a se refugiar cada vez mais nas selvas antes de levá-lo à mesa de negociação.

Sua decisão pegou Uribe de surpresa e o transformou em um inimigo, que acusou seu antigo protegido de trair as vítimas das Farc e se mostrar incapaz de prender criminosos de guerra. Uribe afirma que o acordo com os guerrilheiros abriu caminho para novas gangues de criminosos.

Os antigos aliados passaram anos trocando farpas em confrontos públicos nos quais o poderoso Uribe e seu partido repudiaram o processo de paz, quase o inviabilizando completamente quando Santos convocou um referendo sobre o acordo final.

A rejeição na votação se tornou a maior crise política e frustração de Santos, que conseguiu aprovar um pacto renegociado no Congresso.

"Aquilo foi um balde de água fria que afetou todos nós", disse.

Embora a negociação de paz seja a parte mais duradoura de seu legado presidencial, Santos também observou uma queda no desemprego e um declínio na pobreza.

"Nós fomos o país latino-americano que mais reduziu a desigualdade, mas, ainda assim, a desigualdade aqui é vergonhosa", disse ele.

Santos pretende se afastar totalmente da política, escrever um livro e usar seu Prêmio Nobel para viajar o mundo fazendo palestras em prol da paz.

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