Hosni Mubarak estava há 30 anos no poder no Egito (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2011 às 16h51.
Brasília - Embora seja um “bonito marco” na história do Oriente Médio, a renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, deve ser encarada como o início de um longo processo político que desencadeará novos conflitos sociais. A opinião é do especialista em História Contemporânea e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bernardo Kocher.
“Mubarak foi descartado, mas os militares e seus interesses econômicos permanecem apegados ao poder e vão querer repactuar o sistema político preservando-se”, afirmou Kocher à Agência Brasil, explicando que tanto Mubarak -, um ex-comandante da Força Aérea egípcia que lutou contra Israel na Guerra do Yom Kipur (1973) - quanto seus dois últimos antecessores governaram com o apoio do segmento militar.
Com a renúncia de Mubarak e do vice Omar Suleiman, o país será governado pelo Conselho Supremo das Forças Armadas até novembro deste ano. Só então tomará posse o candidato que vencer as eleições que já estavam programadas para acontecer em setembro. O processo de transição política será comandado pelo atual ministro da Defesa, marechal Mohamed Sayed Tantawi, de 79 anos.
“O papel dos militares na política e na economia egípcia é muito profundo e a população não vai poder descansar porque as forças que mantiveram Mubarak e seus antecessores no poder são as mesmas que agora vão controlar o país temporariamente. Não creio que os militares vão ceder tudo [o que a população reivindica], mas algo eles vão ter que ceder pois as manifestações dos últimos 18 dias são também um repúdio ao poder militar, ao monopólio do poder político pelos militares”, disse Kocher.
Para o professor, longe de pôr fim à revolta popular pautada pela necessidades que o sistema político egípcio não estava mais sendo capaz de suprir, a renúncia de Mubarak, após quase 30 anos no poder, permitirá que a sociedade egípcia passe a exigir, do futuro governo, respostas para demandas sociais até então sufocadas por uma ditadura sustentada pelo poderio militar do Estado. E, com certeza, mudará a maneira “equivocada e estereotipada” com que o Ocidente enxerga as sociedades islâmicas.
“Creio que, nos próximos anos, o processo político egípcio será marcado por conflitos. As demandas sociais que estavam represadas agora virão todas à tona”, disse Kocher, que considera cedo prever o que irá acontecer no Egito a partir de hoje. “Vai depender da correlação de forças que vão ser montadas. O que é certo é que haverá conflitos, pois o grupo dominante que estava junto com o ex-presidente ainda não desistiu do poder.