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Saída da Otan é fim da galinha dos ovos de ouro para muitos afegãos

Preocupação aumenta entre afegãos cuja renda depende de projetos financiados pela comunidade internacional, que às vezes dão margem à prática de corrupção

Segundo um relatório, os EUA desperdiçaram até US$ 60 milhões nas guerras devido a problemas como a pouca supervisão de terceirizados, corrupção e falta de planejamento (Joel Saget/AFP)

Segundo um relatório, os EUA desperdiçaram até US$ 60 milhões nas guerras devido a problemas como a pouca supervisão de terceirizados, corrupção e falta de planejamento (Joel Saget/AFP)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2011 às 09h30.

Cabul - À medida que as tropas dos Estados Unidos e da Otan se retiram do Afeganistão, a preocupação aumenta entre afegãos cuja renda depende de projetos financiados pela comunidade internacional, que às vezes dão margem à prática de corrupção.

Para quem ganhou grandes quantias de dinheiro com contratos para fornecer provisões às tropas estrangeiras ou para reconstruir o país, esta situação representa um futuro incerto e o fim da galinha dos ovos de ouro.

O caso do afegão Abdul Qudos Gulbahari, de 43 anos, é um exemplo. Diretor-geral da construtora Musawer Mansoor, é hoje um terceirizado milionário graças a suas relações com o Exército americano, mas há pouco mais de uma década vendia verduras em um pequeno armazém de madeira no centro de Cabul.

Tudo mudou após a invasão dos EUA, depois dos ataques de 11 de setembro.

"Eu costumava ter problemas para chegar ao fim do mês, mas quando os talibãs foram afastados do poder, em 2001, pedi dinheiro emprestado a amigos e parentes e comprei um ônibus", explicou em entrevista na capital afegã.

Nesse veículo, Gulbahari transportou diariamente de 2002 a 2004 20 trabalhadores até a Base Aérea de Bagram, a mais importante do país e controlada pelos EUA, que está situada na província oriental de Parwan, perto de Cabul.

Graças a esse primeiro trabalho e fruto dos contatos feitos na base aérea, Gulbahari conseguiu contratos de construção de estradas com os americanos, o mais recente de US$ 4,5 milhões.

"Meu negócio cresceu por conta do muito que trabalhei, mas me preocupa, assim como a muitos afegãos, o que acontecerá quando as tropas da Otan abandonarem o país em 2014", afirmou o construtor, para o qual trabalham 200 empregados.

"A saída das tropas dos EUA terá um impacto negativo total para a economia afegã", acrescentou a fonte, que destacou que há cerca de 6 mil afegãos trabalhando na Base Aérea de Bagram como faxineiros, tradutores, guardas, entre outras funções.


Para alguns, como o analista econômico afegão Ahmad Zia, após a saída das tropas estrangeiras o futuro de alguns empresários locais será inevitavelmente "o tráfico de drogas ou insurgência".

"Muitos fundos de ajuda são entregues a grupos da oposição afegã, ficam com os estrangeiros ou vão parar nas mãos dos senhores da guerra, algo que trouxe a corrupção entre a população, que descobriu como ganhar dinheiro fácil", ressaltou Zia.

Segundo um relatório divulgado em agosto, os EUA desperdiçaram entre US$ 31 milhões e US$ 60 milhões nas guerras do Iraque e Afeganistão na última década devido a problemas como a pouca supervisão de terceirizados, corrupção e falta de planejamento.

De acordo com o relatório, elaborado pelo Senado americano, isso significa que "todos os dias são desperdiçados US$ 12 milhões".

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, apontou há duas semanas a comunidade internacional como corresponsável pelo aumento da corrupção nas instituições públicas afegãs.

"A existência de estruturas paralelas estrangeiras é uma das razões da corrupção", disse o governante durante um discurso em Cabul na presença de diplomatas estrangeiros.

As declarações de Karzai eram uma crítica velada às equipes de reconstrução provincial, uma parte do desdobramento das forças da missão da Otan centrada na promoção do desenvolvimento nas diversas províncias do país asiático.

Com maior ou menor transparência, não são poucas as pessoas no Afeganistão que começaram com um pequeno contrato e que agora ganham grandes quantias de dinheiro através de acordos civis e militares que mudaram o estilo de vida dos afegãos mais privilegiados.

"Se o senhor quer comprar os melhores produtos dos EUA, então o senhor deve vir a este bazar", disse Taj Mohammed, de 57 anos, encarregado de uma loja no mercado de Bush, em Cabul, cujo nome é uma homenagem ao ex-presidente americano.

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