Consumidores escolhe uma peça de queijo em um supermercado de Krasnodar, na Rússia (Andrey Rudakov/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2014 às 16h44.
Zurique - Na sede da Intercheese, na Suíça, o telefone atualmente não para de tocar. E geralmente se escuta uma voz russa do outro lado da linha.
Desde 7 de agosto, quando o governo de Vladimir Putin proibiu muitas importações de alimentos de países que apoiam as sanções relacionadas ao papel do país na crise da Ucrânia, pelo menos 14 importadores russos entraram em contato com a Intercheese.
O motivo do aumento nos negócios é que a Suíça não se somou à União Europeia, aos EUA, ao Canadá, à Austrália e à Noruega, que sancionaram a Rússia.
“Os importadores russos estão em busca dos queijos que eles já não podem conseguir com os europeus - mozarela, gouda e edam”, disse Daniel Daetwyler, diretor-geral da empresa de capital fechado Intercheese.
A companhia com sede em Beromünster vendeu 20 toneladas de queijo para a Rússia em 2013 e aumentará as vendas para o país das variedades mais afetadas pelo embargo da União Europeia, mas não conseguirá satisfazer a demanda, disse Daetwyler.
O queijo é o produto agropecuário de exportação mais importante da Suíça e a neutralidade do país está dando aos produtores locais uma vantagem na venda de gruyère e emmenthal para 142,5 milhões de russos.
Os produtores suíços embarcaram 431 toneladas de queijo para a Rússia no ano passado, segundo a Administração Aduaneira Suíça, apenas uma fração das quase 63.000 toneladas exportadas para todo o mundo.
Importações russas
“Se a proibição continuar, é possível que exportemos mais queijo para a Rússia”, disse Jacques Bourgeois, diretor do Sindicato dos Agricultores Suíços, por telefone, acrescentando que o gruyère está entre os queijos suíços com maior potencial, pois suas exportações aumentaram nos últimos anos.
“Mas a Suíça é um país pequeno, não podemos simplesmente dobrar a nossa produção de um dia para o outro. Se houver mais demanda, é claro que teremos que ver o que podemos entregar. Ficaremos satisfeitos com cada quilo adicional que pudermos exportar”.
No ano passado, a Rússia importou US$ 25 bilhões dos produtos que agora estão na lista de proibidos, sendo que US$ 9,5 bilhões deste total vieram de países que agora estão na lista negra, segundo estimativas da Capital Economics Ltd.
As polícias de fronteira da Rússia e da Bielorrússia devolveram caminhões cheios de queijo, iogurte e carne, disseram autoridades da Lituânia e da Estônia na semana passada.
A zona do euro exportou mais de 292.000 toneladas de produtos lácteos para a Rússia no ano passado, sendo que os Países Baixos forneceram quase um quarto, seguidos da Alemanha e da França, segundo a Eurostat.
“As empresas suíças lucrarão com o embargo”, disse David Escher, diretor da Swiss Cheese Marketing AG, em entrevista por telefone.
“Se houver um novo mercado e houver uma nova demanda, isso pode ser interessante para a Suíça, que claramente tem uma vantagem porque pode continuar exportando. Levará algum tempo para estimar em que medida”.
‘Substituto perfeito’
O entusiasmo com o aumento da demanda dos importadores russos é parcialmente ofuscado pelas possíveis consequências de um inesperado levantamento da proibição.
“Existe um grande risco relacionado a isso”, disse Daetwyler, da Intercheese. “Nós podemos produzir uma enorme quantidade de mozarela, mas se as sanções forem repentinamente canceladas, nós teremos um estoque cheio e enfrentaremos os mesmos problemas que os nossos vizinhos na Europa estão tendo agora”.
A carne também está na lista de compras suíças dos importadores russos, de acordo com a Micarna, produtora de carne com sede em Courtepin, Suíça.
A empresa foi contatada até mesmo antes da proibição à importação de alimentos, com pedidos de carne suína, especialmente bacon e salsicha, e de fígado, disse Daniel Signer, diretor de marketing da Micarna, por e-mail.
“Nós acreditamos que eles se anteciparam a um boicote”, disse Signer, acrescentando que no curto prazo a demanda por produtos suíços à base de carne já aumentou.
“Se for algo economicamente sensível e o procedimento de exportação estiver garantido, nós tentaremos atender a demanda”.