Homem em barricada perto do local de conflitos entre manifestantes contra o governo e tropas de choque em Kiev (David Mdzinarishvili/Reuters)
Da Redação
Publicado em 29 de janeiro de 2014 às 17h59.
Moscou/Kiev - O presidente russo, Vladimir Putin, aumentou nesta quarta-feira a pressão sobre a Ucrânia ao dizer que a Rússia vai esperar até que o país forme um novo governo antes de implementar plenamente um acordo de resgate de 15 bilhões de dólares que Kiev precisa com urgência.
Putin repetiu a promessa de honrar totalmente o acordo de ajuda à Ucrânia, mas deixou em aberto quando será concedida a nova parcela, num momento em que o governo ucraniano enfrenta dificuldades para conter mais de dois meses de turbulência desde que o presidente do país, Viktor Yanukovich, desistiu de um tratado com a União Europeia.
Um dia depois de o primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, renunciar na esperança de acalmar a oposição e os protestos de rua, a Rússia reforçou nesta quarta-feira os controles de fronteira sobre as importações da Ucrânia, no que parece ser uma forma de lembrar Yanukovich a não instalar um governo que mude o rumo do país na direção do Ocidente.
O novo primeiro-ministro interino da Ucrânia prometeu tentar limitar os danos econômicos causados por protestos de rua às vezes violentos e disse esperar que a Rússia desembolse uma nova parcela de 2 bilhões de dólares "muito em breve".
Putin tem menos senso de urgência. "Eu pedirei ao governo (russo) que cumpra todos os nossos acordos financeiros plenamente", disse ele, repetindo uma promessa feita na terça-feira, depois da renúncia do governo em Kiev.
No entanto, ele indicou que a última parcela está em suspenso, segundo comentários que fez durante uma reunião com altos funcionários do governo russo, dos quais algumas partes foram divulgadas pela TV russa.
"Vamos esperar pela formação de um governo ucraniano", afirmou ele, antes de dizer no encontro: "Mas eu peço a vocês, mesmo na atual situação, que não percam contato com nossos colegas (ucranianos)". Ele acrescentou que as conversas deveriam continuar antes da formação do novo governo na Ucrânia.
Putin concordou com o pacote de ajuda à Ucrânia em dezembro, dando à ex-república soviética um socorro que a oposição e o Ocidente consideraram como um prêmio pelo país ter abandonado os planos de assinar acordos comerciais e políticos com a União Europeia e, em vez disso, prometer estreitar relações com a Rússia.
Ocidente Alarmado
A preocupação com a Ucrânia está aumentando no Ocidente. A chanceler alemã, Angela Merkel, telefonou a Putin e Yanukovich nesta quarta-feira, fazendo um apelo pelo diálogo construtivo entre o governo e a oposição em Kiev.
"Não se deve permitir novamente a espiral da violência", disse Merkel, segundo o relato de um porta-voz do governo alemão.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Anders Fogh Rasmussen, foi mais direto e acusou a Rússia pelo recuo do governo ucraniano na assinatura dos acordos com a UE.
"Um pacto associativo com a Ucrânia teria sido um grande impulso à segurança Euro-Atlântica, e eu realmente lamento que não possa ter sido firmado", disse ele ao jornal francês Le Figaro. "O motivo é bem-conhecido: a pressão que a Rússia exerce sobre Kiev." A Ucrânia precisa urgentemente do dinheiro russo. Dados coletados pelo banco UniCredit antes do pacote de ajuda estimam a necessidade de financiamento bruto externo em 3,8 bilhões de dólares somente nos três primeiros meses deste ano, do qual fazem parte 2,29 bilhões para o gás, coberto pelo acordo com Moscou.
O valor sobe para 5,5 bilhões de dólares em abril-junho, incluindo o reembolso de um título de 1 bilhão que vence nessa época. No conjunto, o governo iria precisar de 17,44 bilhões de dólares neste ano para pagar suas contas externas, incluindo o gás russo.