Navalny: Memoriais improvisados e pequenos protestos em homenagem ao opositor foram rapidamente dispersados pela polícia russa (AFP/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 17 de fevereiro de 2024 às 12h37.
A Rússia manteve o silêncio neste sábado, 17, sobre a repentina morte na prisão de Alexei Navalny, principal opositor do Kremlin, apesar dos protestos e das crescentes acusações das potências ocidentais sobre sua responsabilidade.
O governo britânico convocou os diplomatas da embaixada russa na sexta-feira para "deixar claro que responsabilizava totalmente" a Moscou pela morte e pediu uma "investigação completa e transparente".
O presidente americano, Joe Biden, afirmou que seu homólogo russo, Vladimir Putin, "é responsável" pela morte de Navalny. A União Europeia a atribuiu ao "regime russo".
A morte de Navalny demonstra "a fraqueza do Kremlin e o medo de qualquer adversário", declarou em Paris o presidente francês, Emmanuel Macron, junto com seu homólogo ucraniano Volodimir Zelensky, que assegurou que é "óbvio" que o opositor "foi assassinado como milhares de outros (...) por culpa de uma única pessoa, Putin".
Neste sábado, o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, também responsabilizou Putin e seu regime.
Os ministros das Relações Exteriores do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), reunidos em Munique, observaram um minuto de silêncio por Navalny.
Já China, aliado cada vez mais importante do Kremlin, não comentou a morte, um "assunto interno da Rússia".
Putin também não se manifestou, mas o Kremlin considerou "totalmente inaceitáveis" as acusações do Ocidente.
"Ainda não foi realizado um exame pericial e o Ocidente já tirou conclusões", indicou a porta-voz da chancelaria, María Zajárova, segundo a agência de notícias estatal TASS.
Memoriais improvisados e pequenos protestos em homenagem ao opositor foram rapidamente dispersados pela polícia russa, que segundo grupos de direitos humanos, prenderam cerca de 177 pessoas.
Em Moscou, a polícia prendeu ao menos 15 pessoas em frente a um monumento às vítimas da repressão soviética, segundo o informativo independente Sota.
Vídeos publicados por este veículo mostram uma mulher sendo detida, apoiadores indignados e retirando flores de um monumento na praça Lubianka, enquanto a polícia cercava o local.
Navalny, condenado por "extremismo", cumpria uma pena de 19 anos em uma remota colônia penitenciária do Ártico, após julgamentos, segundo muitas vozes, com motivações políticas.
As autoridades russas forneceram poucos detalhes sobre as circunstâncias da morte e se limitaram a garantir que todos os esforços foram empenhados para reanimar o opositor, cuja saúde ficou debilitada com a prisão, um envenenamento em 2020 e uma greve de fome em 2021.
"O prisioneiro Navalny A.A. sentiu-se mal após uma caminhada e quase imediatamente perdeu a consciência", indicou o serviço penitenciário de Yamal em nota.
A porta-voz do opositor, Kira Yarmish, afirmou neste sábado que a mãe de Navalny, Liudmila Navalnaya, foi notificada de que ele morreu às 14H17 locais (06h17 em Brasília) e pediu que seu corpo seja entregue à família "imediatamente".
Segundo autoridades, o corpo está em Salekhard, localidade próxima à prisão.
Porém, a equipe de Navalny afirmou que seu advogado, que chegou a esta cidade neste sábado com a mãe do opositor, ligou para o necrotério e foi informado que "o corpo de Alexei não estava" lá.
Sua morte, aos 47 anos e três na prisão, tira de cena o principal nome de uma oposição exausta, a um mês da eleição presidencial, que, provavelmente, consolidará o poder de Vladimir Putin, após anos de repressão.
Na quinta-feira, Navalny participou de duas videoconferências com um tribunal da região de Vladimir e não se queixou de seu estado de saúde, segundo a agência estatal de notícias Ria Novosti.
Sua mãe declarou que viu seu filho na segunda-feira "saudável e bem humorado", informou o jornal independente Novaya Gazeta, citando uma postagem no Facebook.
A prisão não minou a determinação de Navalny, que não deixou de criticar Putin.
Em seu julgamento por "extremismo", denunciou "a guerra mais estúpida e sem sentido do século XXI", em referência à ofensiva russa na Ucrânia.
Em um documentário filmado antes de seu retorno à Rússia no início de 2021, Navalny deixou uma mensagem ao povo russo.
"Não se rendam. Não devem, não podem se render", declarou. "A única coisa necessária para o mal vencer é que as pessoas boas não façam nada".