Vladmir Putin, presidente russo: Putin exige o fim da expansão da Otan para o leste (DANIEL LEAL / Colaborador/Getty Images)
AFP
Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 01h25.
Última atualização em 7 de março de 2022 às 12h01.
*Esta reportagem foi atualizada até 24 de fevereiro. Confira neste link as últimas notícias sobre a guerra na Ucrânia.
A Rússia iniciou, na madrugada desta quinta-feira (24), uma invasão da Ucrânia, com ataques aéreos em todo o país, incluindo na capital Kiev, e a entrada de forças terrestres ao norte, leste e sul, segundo os guardas de fronteira ucranianos, que registram suas primeiras perdas.
A ofensiva provocou clamor internacional, ao qual Moscou não deu ouvidos.
Dois dias depois de reconhecer a independência dos territórios separatistas ucranianos no Donbas, o presidente russo, Vladimir Putin, que disse que queria "defendê-los" contra a agressão ucraniana, lançou a invasão.
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"Tomei a decisão de uma operação militar", declarou Putin em um discurso na madrugada. "Vamos nos esforçar para alcançar uma desmilitarizaração e uma desnazificação da Ucrânia", afirmou.
"Não temos nos nossos planos uma ocupação dos territórios ucranianos, não pretendemos impor nada pela força a ninguém", assegurou, apelando aos soldados ucranianos "a deporem as armas".
Ele repetiu suas acusações infundadas de um "genocídio" orquestrado pela Ucrânia nos territórios separatistas pró-Rússia no leste do país e utilizou como argumento o pedido de ajuda dos separatistas e a política agressiva da Otan em relação à Rússia, da qual a Ucrânia seria uma ferramenta.
Pouco depois começaram a ser ouvidas explosões em várias cidades ucranianas, da capital, Kiev, a Kharkov, a segunda cidade do país na fronteira com a Rússia, mas também em Odessa e Mariupol, às margens do Mar Negro.
Sirenes de alerta para bombardeios soam a cada 15 minutos em Lviv, a cidade para onde os Estados Unidos e vários outros países transferiram suas embaixadas, e em Odessa.
O embaixador da Ucrânia em Washington pediu ajuda nesta quinta-feira, segundo o New York Times. O embaixador afirmou que pelo menos 40 soldados ucranianos já foram mortos pela Rússia, bem como civis, e que o local do desastre de Chernobyl estava sob ataque.
"É impossível dizer que a usina nuclear de Chernobyl está segura após um ataque completamente sem sentido dos russos", afirmou Mykhailo Podolyak, conselheiro do gabinete presidencial ucraniano.
A polícia da Rússia deteve pelo menos 800 pessoas em protestos antiguerra que ocorrem em 42 cidades russas nesta quinta-feira, segundo informações do grupo de monitoramento de protestos OVD-Info, que tem documentado a repressão contra a oposição russa durante anos.
Após o ataque militar russo, nesta quinta-feira, 24, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, decretou lei marcial no país. A medida derruba leis civis e as substitui por regras militares em todo o território nacional.
“A Rússia realizou ataques contra nossa infraestrutura militar e nossos guardas de fronteira. Ouviram-se explosões em muitas cidades da Ucrânia. Estamos introduzindo a lei marcial em todo o território do nosso país”, declarou Zelensky.Ainda não há detalhes de como a lei marcial será implantada, mas a adoção desse regime significa dizer que agora, na Ucrânia, quem toma as decisões são os chefes das Forças Armadas.
A adoção da lei marcial acontece em momentos de riscos à população, como em casos de confrontos armados de grande proporção.
O presidente ucraniano também "ordenou infligir o máximo de baixas ao agressor", indicou o comandante-em-chefe das Forças Armadas ucranianas, o general Valery Zaluzni, assegurando que o Exército "reage com dignidade" aos ataques inimigos.
Os guardas de fronteira disseram que as forças terrestres russas entraram no território ucraniano pela Rússia e Belarus, informando três mortes em suas fileiras.
No metrô de Kiev, dezenas de pessoas tentavam se abrigar ou deixar a cidade, de trem ou por estrada.
"Acordei com o som de bombas, fiz as malas e fugi", contou à AFP Maria Kachkoska, de 29 anos, agachada em estado de choque no metrô.
Mesmo quando ainda era escuro, o trânsito era similar ao da hora do rush. Carros cheios de famílias corriam para fora da cidade, para o oeste ou para áreas rurais, longe da fronteira russa, a 400 km de distância.
A polícia da Ucrânia disse que a Rússia realizou 203 ataques contra o país desde o começo do dia, com combates ocorrendo em praticamente todos os lugares no território ucraniano.
A guarda de fronteira disse que as Forças Armadas ucranianas estão combatendo tropas russas na cidade de Sumy, no leste do país. O ministro da Defesa da Ucrânia disse que alguns soldados russos foram feitos prisioneiros em meio aos pesados combates.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou em sua conta no Twitter que as forças militares da Rússia estão tentando tomar a usina nuclear desativada de Chernobyl, localizada na fronteira ucraniana com Belarus.
"Nossos defensores estão dando suas vidas para que a tragédia de 1986 não se repita", afirmou o mandatário, em referência o desastre nuclear após a explosão de um reator da usina, então sobre o controle da União Soviética.
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Segundo Zelensky, a primeira-ministra da Suécia, Magdalena Andersson, foi avisada do fato. "Esta é uma declaração de guerra contra toda a Europa", escreveu o presidente ucraniano. Com informações da Associated Press.
O Ministério da Defesa da Rússia informou nesta quinta-feira que as Forças Armadas do país destruíram 74 instalações militares da Ucrânia, entre elas 11 bases aéreas. O ministro da Defesa, Sergei Shoigu, determinou que os soldados ucranianos sejam tratados "com respeito" e disse que os que entregarem suas armas receberão oferta para deixar a região por "corredores seguros". A pasta ainda confirmou a perda de um jato de ataque Su-25 por "erro do piloto".
Updated map: Russian attacks have now been reported in all parts of Ukraine pic.twitter.com/g8npi4BeDN
— BNO News (@BNONews) February 24, 2022
Os mercados mundiais foram imediatamente atingidos. Logo após o discurso de Putin, o petróleo subiu acima de US$ 100 o barril pela primeira vez em mais de sete anos, e a Bolsa de Valores de Hong Kong caiu mais de 3%.
Após uma interrupção, a Bolsa de Moscou reabriu e operava em queda de 34%.
Os Estados Unidos devem apresentar um projeto de resolução na mesa do Conselho de Segurança da ONU condenando a Rússia por sua "guerra" na Ucrânia.
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Em Chuguev, perto de Kharkiv, uma mulher e seu filho lamentavam a morte de um homem por um míssil, uma das primeiras vítimas desse ataque. "Eu pedi que ele fosse embora", repetia o filho, ao lado de um velho carro e da cratera deixada pelo projétil que caiu entre dois prédios de cinco andares.
O exército russo assegurou que visa apenas locais militares ucranianos com "armas de alta precisão". E alegou ter destruído bases aéreas ucranianas e de defesa antiaérea, enquanto Kiev declarou ter abatido cinco aviões russos e um helicóptero.
O embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, disse que seu país tem como alvo "a junta governante em Kiev".
Em um vídeo postado no Facebook, o presidente ucraniano declarou lei marcial em todo o país. "Não entrem em pânico", "vamos vencer", disse.
A Ucrânia anunciou o fechamento do seu espaço aéreo para a aviação civil. Os voos foram cancelados nos aeroportos das principais cidades do sul da Rússia, perto da Ucrânia, e Moscou fechou o Mar de Azov ao transporte.
Horas após a invasão russa, os supermercados de Kiev, capital da Ucrânia, já enfrentam corrida por alimentos. A reportagem do Estadão/Broadcast encontrou prateleiras vazias nesta quinta-feira em um estabelecimento nas proximidades da Praça da Independência, área central da cidade, e filas nos caixas. O temor é de desabastecimento.
O alarme soou no final da madrugada desta quinta-feira após a Rússia invadir a Ucrânia. Bombardeios foram registrados até mesmo em Kiev, que está a 700 quilômetros da fronteira.
Apesar da recomendação do governo, a população, com medo da guerra, tem fugido de Kiev pelas estradas e ferrovias. Congestionamentos são registrados em todas as saídas da capital.
O ataque russo, após meses de tensão e esforços diplomáticos para evitar uma guerra, provocou uma torrente de condenação internacional.
"Presidente Putin, em nome da humanidade, leve suas tropas de volta à Rússia!", pediu o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, visivelmente exausto, durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, denunciou um "ataque injustificado". "O presidente Putin escolheu uma guerra premeditada que trará perdas catastróficas de vidas e sofrimento humano", afirmou em um comunicado.
"Apenas a Rússia é responsável pela morte e a destruição que este ataque provocará", insistiu, depois de destacar que "o mundo fará com que a Rússia preste contas".
Ele também conversou com o presidente ucraniano, prometendo seu apoio.
Além disso, Biden convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional para a manhã desta quinta-feira para discutir os últimos desdobramentos na Ucrânia, disse uma autoridade da Casa Branca em meio á invasão em escala total da Ucrânia pela Rússia.
O presidente francês, Emmanuel Macron, atual presidente do Conselho da União Europeia, pediu aos europeus "unidade" e convocou um conselho de segurança no Palácio do Eliseu.
"Os líderes russos enfrentarão um isolamento sem precedentes", alertou Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE.
Os 27 países da UE, que se reúnem em uma cúpula excepcional nesta quinta-feira à noite em Bruxelas, preparam um novo conjunto de sanções que serão "as mais severas já implementadas", acrescentou.
O presidente da Lituânia declarou estado de emergência nesta quinta-feira, dizendo ao Exército do país, que é membro da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), para se deslocar ao longo de suas fronteiras em resposta a "possíveis distúrbios e provocações devido a grandes forças militares concentradas na Rússia e em Belarus".
O estado de emergência, declarado horas depois que as forças russas invadiram a Ucrânia, será válido por duas semanas. O Parlamento se reunirá ainda nesta quinta-feira para votar se confirma ou cancela a decisão do presidente Gitanas Nauseda.
Governada por Moscou no passado, mas agora parte da Otan e da União Europeia, a Lituânia faz fronteira com Belarus e com o enclave russo de Kaliningrado.