Fragata russa Almirante Gorshkov realizou exercícios militares em Cuba, ação interpretada por analistas como uma demonstração de força de Moscou (Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 18 de junho de 2024 às 14h05.
Última atualização em 18 de junho de 2024 às 14h05.
A Rússia iniciou, nesta terça-feira, uma série de exercícios navais no Pacífico que durarão dez dias. Ao todo, 40 navios, lanchas e barcos, além de 20 aviões e helicópteros, passarão pelas águas do Mar do Japão e do Mar de Okhotsk, no Extremo Oriente da Rússia. A medida coincide com a visita do presidente russo, Vladimir Putin, à Coreia do Norte – e ocorre apenas um dia após a frota de navios de guerra russos deixar o porto de Havana, ação interpretada por analistas como uma demonstração de força de Moscou em meio às tensões com os EUA e outras nações ocidentais que apoiam Kiev na guerra na Ucrânia.
“Em várias etapas [dos exercícios], os marinheiros treinarão combates antissubmarinos e ataques com mísseis contra frotas de navios de um inimigo convencional”. Eles irão, ainda, simular respostas a possíveis “ataques aéreos e navais de drones”, de acordo com comunicado do Ministério da Defesa, que incluiu imagens de navios e um submarino no porto de Vladivostok, onde é a base da frota russa no Pacífico.
Também nesta terça, Putin agradeceu o “firme apoio” da Coreia do Norte à sua “operação militar especial” na Ucrânia. A fala ocorreu horas antes do russo chegar a Pyongyang para uma visita excepcional, durante a qual está prevista a assinatura de um acordo de parceria estratégica entre os dois países, cuja aliança é percebida como uma ameaça pelo Ocidente. Embora ambos sejam aliados desde o final da Guerra na Coreia (1950-1953), seus laços se estreitaram quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em 2022. Em comum, os dois são tratados como “párias” e recebem pressão do Ocidente e aliados, além das sanções internacionais.
“A Rússia apoiou [a Coreia do Norte] e seu povo heroico em sua luta para defender seu direito de escolher por si mesmos o caminho da independência, originalidade e desenvolvimento no enfrentamento com o inimigo astuto, perigoso e agressivo”, escreveu Putin numa coluna publicada no jornal oficial norte-coreano Rodong Simnun e na agência de notícias KCNA. “[A Rússia] continuará a apoiá-los constantemente no futuro”, continuou o presidente, que também afirmou que Pyongyang “apoia firmemente” a ofensiva russa na Ucrânia – e agradeceu por isso.
As potências ocidentais acusam há meses os norte-coreanos de fornecer munições à Rússia para a guerra na Ucrânia. Em troca, Pyongyang recebe assistência tecnológica, diplomática e alimentar. O assessor diplomático de Putin, Yuri Ushakov, apresentou a viagem como importante para ambos os países, que são atingidos por sanções ocidentais, e mencionou a “possível” assinatura de “um acordo de cooperação estratégica global”. O líder russo estará acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e pelo ministro da Defesa, Andrei Belousov.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a visita de Putin mostra o quanto a Rússia precisa do apoio de líderes autoritários para levar a cabo sua ofensiva no território ucraniano. Já o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que o que preocupa é “o aprofundamento da relação entre esses dois países”.
Putin, que é alvo de um mandado de prisão internacional do Tribunal Penal Internacional, reduziu suas viagens ao exterior, mas realizou algumas para visitar aliados importantes, como a China. Nesta terça-feira, Pequim instou a Otan a “deixar de culpar” a China pela guerra na Ucrânia – fala que ocorreu após Stoltenberg acusar o gigante asiático de agravar o conflito com seu apoio a Moscou.
A aliança entre Rússia e Coreia do Norte fez com que o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, apelasse à comunidade internacional a contrapor a “amizade” entre Putin e Kim Jong-un aumentando os envios de armas a Kiev. À AFP, Kuleba disse que “a melhor maneira de responder é continuar fortalecendo a coalizão diplomática para uma paz justa e duradoura na Ucrânia”.
A visita de Putin ocorre nove meses depois de ter recebido Kim no Extremo Oriente russo, onde ambos os líderes se cobriram de elogios, mas não fecharam – pelo menos oficialmente – nenhum acordo. Em março, a Rússia utilizou seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU para encerrar o sistema de monitoramento das sanções impostas à Coreia do Norte, que foram instauradas principalmente devido ao programa nuclear de Pyongyang.
Algumas horas antes da chegada de Putin a Pyongyang, dezenas de soldados norte-coreanos cruzaram brevemente a fronteira fortificada com a Coreia do Sul, mas recuaram rapidamente diante de tiros de advertência, um ato que os comandos militares de Seul estimam ter sido acidental. Este é o segundo incidente do tipo em menos de duas semanas.
A Coreia do Sul disse que “acompanha de perto os preparativos” da visita de Putin. Seul forneceu uma importante ajuda militar à Ucrânia, país que o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol visitou no mês passado, e participa das sanções ocidentais impostas contra Moscou.