Agência de notícias
Publicado em 26 de outubro de 2024 às 10h43.
No início deste ano, a Rússia forneceu dados de satélite para ajudar os rebeldes houthis do Iêmen a atacar navios no Mar Vermelho, informou o Wall Street Journal (WSJ). De acordo com o jornal americano, que conversou com "uma pessoa familiarizada com o assunto" e duas autoridades de Defesa europeias anônimas, as informações foram transmitidas por membros da Guarda Revolucionária do Irã estacionados no país e usadas para atingir embarcações com mísseis e drones.
Os ataques, realizados em janeiro, levaram a uma queda drástica no tráfego de uma importante rota de navegação, por onde circulavam entre 12% e 15% do comércio mundial. Centenas de navios foram redirecionados para o extremo sul da África desde então, fazendo o preço do transporte marítimo de contêineres disparar.
A milícia do Iêmen integra o chamado "Eixo da Resistência", financiado pelo Irã, e tem atacado navios comerciais no Mar Vermelho desde o início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque terrorista do grupo palestino Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.
Segundo o grupo, os ataques são uma forma de apoiar a causa palestina, e têm como alvos navios de bandeira ou propriedade de empresas de Israel, ou que tenham como destino portos israelenses, mesmo que seja uma passagem rápida. Em novembro, um navio cargueiro chegou a ser capturado pela milícia, em uma ação cinematográfica que contou com um helicóptero.
Em mais de 100 ataques houthis ao longo de quase um ano, quatro marinheiros foram mortos e dois navios afundaram, enquanto um navio e sua tripulação permanecem detidos desde que foram sequestrados em novembro passado. Como resposta, os EUA e o Reino Unido enviaram uma coalizão naval para a região e bombardearam alvos houthis no Iêmen.
“Para a Rússia, qualquer conflito em qualquer lugar é uma boa notícia, porque afasta ainda mais a atenção do mundo da Ucrânia e faz com que os EUA tenham que destinar recursos (sistemas Patriot ou projéteis de artilharia), e com o Oriente Médio em jogo, fica claro onde os EUA escolherão — disse ao WSJ Alexander Gabuev, diretor do Carnegie Russia Eurasia Center, um centro de estudos com sede em Berlim.
Um porta-voz do governo russo não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários do Wall Stret Journal. Um porta-voz Houthi não quis comentar.
A informação, publicada na quinta-feira, surge em meio a alertas de Washington de que uma crescente coordenação entre países anti-Ocidente pode estar criando uma ameaça mais ampla e urgente para a segurança internacional após denúncias sobre o envio de milhares de soldados norte-coreanos para apoiar a Rússia na guerra contra a Ucrânia.
De acordo com The Economist, o grupo formado pelo governos ditatoriais de China, Irã, Coreia do Norte e Rússia, batizado de "quarteto do caos" pela revista, estaria trocando ativamente armas, suprimentos industriais e, mais importante, conhecimento.
O intercâmbio entre eles funcionaria assim: Teerã e Pyongyang fornecem drones a Moscou, enquanto este compartilha informações com Teerã sobre como bloquear drones e desabilitar sistemas de GPS. Moscou também envia armamento militar ocidental apreendido para o regime dos aiatolás para que possam analisar os kits, além de oferecer ajuda aos houthis.
Pequim, por sua vez, participaria com envio de microeletrônicos e maquinários para Moscou. O governo dos EUA estima que 90% das importações de microeletrônicos da Rússia e 70% de seu maquinário agora vêm da China, sendo que grande parte disso é de uso duplo (cívico-militar), o que significa que pode ser usado para fabricar armas que alimentam a indústria de guerra russa.
O grupo ganhou até um acrônimo: CRINK, formado por suas iniciais em inglês.
O movimento Houthi, também conhecido como Ansarallah (Apoiadores de Deus), é uma das partes envolvidas na guerra civil do Iêmen, que já dura quase uma década. Ele surgiu nos anos 1990, quando seu líder, Hussein al-Houthi, lançou o “Believing Youth” (Juventude Crente), um movimento de reavivamento religioso de uma subseção secular do Islã xiita chamada Zaidismo.
Os zaidis governaram o Iêmen durante séculos, mas foram marginalizados pelo regime sunita que chegou ao poder após a guerra civil de 1962. O movimento de al-Houthi foi fundado para representar os zaidis e resistir ao sunismo radical, principalmente às ideias wahabitas da Arábia Saudita. Seus seguidores ficaram conhecidos como houthis.
Eles assumiram o controle de grande parte do Norte do Iêmen desde que invadiram a capital, Sana, em 2014, aumentando gradualmente suas capacidades militares e vencendo efetivamente uma guerra contra uma coalizão liderada pela Arábia Saudita que passou anos tentando derrotá-los. Agora que os combates mais intensos na guerra civil do Iêmen diminuíram em grande parte, o grupo armado tem funcionado cada vez mais como um governo de fato.