Belarus: para o ministério russo das Relações Exteriores, Belarus tem sido transparente no caso (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 28 de maio de 2021 às 11h30.
Última atualização em 28 de maio de 2021 às 12h14.
A Rússia expressou nesta sexta-feira (28) apoio a Belarus e voltou a criticar as sanções europeias contra seu aliado, acusado pelo Ocidente de desviar um avião comercial para prender um opositor.
Novos elementos parecem indicar, no entanto, que o alerta de bomba, que as autoridades bielorrussas mencionaram como desculpa para justificar o desvio no domingo do voo Atenas-Vilnius a Minsk, é uma encenação, como afirma a União Europeia (UE).
O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, conta com o apoio da Rússia e será recebido nesta sexta-feira pelo colega russo Vladimir Putin. A reunião tem como tema oficial a integração econômica.
Para o ministério russo das Relações Exteriores, Belarus tem sido transparente no caso. A porta-voz da diplomacia de Moscou, Maria Zakharova, acusou os 27 países membros da UE de comportamento "irresponsável que coloca em risco a segurança dos passageiros" ao pedir que as companhias aéreas evitem o espaço aéreo bielorrusso.
A decisão da UE provocou o cancelamento de vários voos da Air France. A Austrian Airlines anunciou o cancelamento do voo Viena-Moscou depois que as autoridades russas rejeitaram uma mudança de rota para evitar o espaço aéreo de Belarus.
Alguns países temem que estas seriam medidas de represália russas, o que o Kremlin negou, alegando motivos "técnicos". A autoridade aérea russa Rossaviatsia explicou o atraso na confirmação dos planos de voo pelo "aumento de demandas das companhias aéreas".
O presidente bielorrusso rebateu durante a semana as acusações dos países ocidentais, que consideram que o avião foi desviado para possibilitar a detenção do dissidente Roman Protasevich.
Lukashenko defendeu o desvio do avião como uma ação legal "para proteger o povo" de uma suposta ameaça de bomba no avião e alegou que não sabia que Protasevich estava a bordo. Também disse que as críticas são uma tentativa de seus adversários de enfraquecer seu mandato.
Moscou afirma que não tem nenhum motivo para duvidar das explicações de Minsk.
As suspeitas de encenação, no entanto, foram reforçadas por dois elementos.
A empresa Proton Technologies, com sede na Suíça, responsável pelo endereço da conta eletrônica responsável pela ameaça de bomba, revelou que "a mensagem foi enviada depois que o avião foi desviado".
O site Dossier.center publica uma foto apresentada como a do e-mail, cuja hora de envio é 9H57 GMT. Mas a transcrição das conversas entre o voo FR4978 e os controladores aéreos bielorrussos, publicada por Minsk, estabelece que o piloto foi informado da ameaça às 9H30 GMT, e um minuto depois recebeu a recomendação de pousar na capital bielorrussa.
As autoridades de Belarus afirmam que o aeroporto de Minsk recebeu uma mensagem eletrônica assinada pelo movimento islamita Hamas informando sobre uma bomba a bordo.
A Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) decidiu investigar o incidente de 23 de maio e destacou a importância de "compreender se algum Estado membro da OACI violou o direito internacional da aviação".
Protasevich, que foi detido no aeroporto de Minsk com sua companheira Sofia Sapega, foi visto pela última vez em um vídeo divulgado pelas autoridades bielorrussas na segunda-feira, no qual supostamente admite ter ajudado a organizar distúrbios, uma acusação que pode provocar uma pena de 15 anos de prisão.
A mãe do jornalista fez um apelo emocionado na quinta-feira em Varsóvia."Quero que transmitam nosso pedido pelo mundo, aos representantes dos governos, aos dirigentes da UE, aos dirigentes americanos: grito, suplico, ajudem a libertar meu filho", declarou Natalia Protasévich.
Nesta sexta-feira, a Lituânia anunciou a expulsão de dois diplomatas bielorrussos por "atividades incompatíveis com estatuto de um diplomata".