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Rússia e Ucrânia trocam acusações sobre violação da trégua de Páscoa

Putin anunciou de maneira surpreendente no sábado uma "trégua humanitária" de 30 horas pela Páscoa

Fiel reza na Páscoa em Kiev durante invasão russa. (Sergei SUPINSKY/AFP)

Fiel reza na Páscoa em Kiev durante invasão russa. (Sergei SUPINSKY/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 20 de abril de 2025 às 13h49.

Rússia e Ucrânia trocaram acusações neste domingo (20) sobre a violação da trégua de Páscoa declarada pelo presidente russo, Vladimir Putin, que o chefe de Estado ucraniano, Volodimir Zelensky, se comprometeu a respeitar.

Putin anunciou de maneira surpreendente no sábado uma "trégua humanitária" de 30 horas pela Páscoa, uma pausa dos combates que teria sido a mais significativa em mais de três anos de conflito.

Desde o início da trégua, às 15h GMT (12h00 de Brasília) de sábado, Zelensky acusou a Rússia de prosseguir com os ataques e, neste domingo, o chefe de Estado ucraniano relatou novos ataques.

O Ministério da Defesa da Rússia denunciou que, apesar da trégua, "unidades ucranianas tentaram executar ataques durante a noite contra posições russas nas áreas de Sukha Balka e Bahatyr", em Donetsk, uma região do leste da Ucrânia parcialmente controlada pela Rússia.

O ministério acrescentou que os ataques "foram repelidos".

As autoridades russas também anunciaram que registraram ataques dos ucranianos nas regiões fronteiriças de Briansk, Kursk e Belgorod, que causaram mortes de civis e deixaram feridos.

Zelensky acusou a Rússia de executar "operações" em Pokrovsk e Siversk, na frente leste, e afirmou que o Exército russo "continua utilizando armamento pesado".

Ele relatou 46 ofensivas russas e 901 ataques neste domingo.

O presidente ucraniano reiterou a proposta de estabelecer "um cessar-fogo total, incondicional e justo que se estenda, no mínimo, por 30 dias".

Correspondentes da AFP na frente leste relataram que ouviram explosões na manhã de domingo, mas que a situação parecia mais calma.

"Criar a impressão de cessar-fogo"

Um comandante ucraniano de uma unidade de drones, que falou com a AFP sob a condição de anonimato, declarou que "a atividade do inimigo diminuiu consideravelmente" nas regiões de Zaporizhzhia, no sul, e em Kharkiv, no nordeste, e mencionou apenas "incidentes isolados".

Serguii, um oficial ucraniano da região de Sumy, fronteiriça com a Rússia, indicou que a noite de sábado e o domingo foram "tranquilos", em comparação com a situação habitual, e que não há disparos de artilharia russa.

"Na manhã da Páscoa, podemos dizer que o Exército russo tenta criar a impressão de um cessar-fogo, enquanto em algumas áreas continuam as tentativas isoladas de avançar e provocar baixas na Ucrânia", destacou Zelensky.

A Força Aérea ucraniana não reportou nenhum bombardeio com drones ou mísseis na manhã deste domingo.

A ordem de Putin de suspender os combates no fim de semana de Páscoa, entre 18h00 (12h00 de Brasília) de sábado e meia-noite (18h00 de Brasília) de domingo, foi anunciada após meses de tentativas frustradas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de mediar uma trégua entre Moscou e Kiev.

Na sexta-feira, Washington ameaçou abandonar as conversações caso não observe avanços nas tentativas de encerrar o conflito, que começou em fevereiro de 2022 com a invasão da Rússia ao território da Ucrânia.

Zelensky respondeu no sábado, na rede social X, que "se a Rússia está repentinamente disposta a comprometer-se de verdade (...) a Ucrânia agirá de acordo, refletindo as ações da Rússia".

"Não podemos confiar na Rússia"

Em Kiev, muitas pessoas expressaram dúvidas sobre o respeito à trégua por parte da Rússia.

"Eles já quebraram promessas. Infelizmente, não podemos confiar na Rússia", afirmou Olga Grachova, uma comerciante de 38 anos.

Natalia, uma médica de 41 anos, lamentou que as ofertas da Ucrânia não sejam correspondidas. "Ninguém responde", disse.

Em Moscou, Yevgueni Pavlov, 58 anos, afirmou que a Rússia não deve dar uma trégua à Ucrânia.

"Não há necessidade de dar um descanso para eles. Se pressionamos, significa que devemos pressionar até o final", declarou à AFP.

Outras tentativas de estabelecer uma trégua em datas importantes do calendário cristão, como a Páscoa de 2022 e o Natal ortodoxo de 2023, fracassaram.

Em seu discurso de Páscoa neste domingo, Zelensky declarou que o significado da celebração religiosa é o retrocesso do mal e o triunfo da vida.

"Hoje, estas palavras ressoam no coração de todos os ucranianos. E reforçam nossa fé, que, apesar de tudo, não vacilou durante 1.152 dias de guerra", afirmou.

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