Agência de notícias
Publicado em 17 de julho de 2024 às 10h37.
A Rússia anunciou nesta quarta-feira, 17, uma troca envolvendo 190 prisioneiros de guerra com a Ucrânia, por meio de um acordo intermediado pelos Emirados Árabes Unidos. Segundo os termos discutidos publicamente, cada lado envolvido no conflito aceitou libertar 95 prisioneiros capturados ao longo do conflito.
"Como resultado de um processo de negociação, 95 militares russos (...) foram devolvidos", anunciou o Ministério da Defesa russo em uma publicação no Telegram. O órgão russo também acrescentou que um número igual de soldados ucranianos foi libertado em contrapartida.
No início de junho, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que o país mantinha 6.465 prisioneiros de guerra ucranianos. Em Kiev, autoridades confirmam um total de 1.348 russos detidos.
Este é o sexto acordo entre russos e ucranianos mediado pelos Emirados Árabes Unidos apenas neste ano, que resultaram na soltura de 1,4 mil pessoas. A monarquia do Golfo tem atuado como importante mediador de questões internacionais — Abu Dhabi também atua com intermediário das conversas entre Israel e Hamas no Oriente Médio.
A troca foi vista por analistas como um sinal de que os dois lados do conflito superaram o abate de um avião na região russa de Belgorod, em janeiro, que as autoridades russas disseram que transportava 65 prisioneiros ucranianos que seriam libertados como parte de uma troca. As autoridades em Kiev contestaram esta afirmação.
Por outro lado, o acordo não parece diminuir as tensões diplomáticas entre os países em guerra. Um dia antes da troca, na terça-feira, a Ucrânia liderou um grupo de 50 países em uma condenação sobre a "hipocrisia" da Rússia na ONU, após o ministro de Relações Exteriores russo presidir uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre multilateralismo para criar um mundo "mais justo".
"No contexto de sua guerra de agressão brutal contra a Ucrânia, o tema do debate é uma nova prova da hipocrisia da Rússia", disse à imprensa o embaixador ucraniano, Sergiy Kyslytsya, ao ler uma declaração conjunta de cerca de 50 países, incluindo Estados Unidos, França e Reino Unido. — [A reunião] "não deve distrair a comunidade internacional das violações flagrantes da Carta da ONU por parte da Rússia e do seu recurso abusivo ao Conselho de Segurança, ao tentar se apresentar cinicamente como guardiã da ordem multilateral.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, que criticou "polêmicas inúteis", acusou diretamente os Estados Unidos.
"Sejamos honestos, nem todos os Estados representados nesta sala reconhecem o princípio básico da Carta da ONU nem a igualdade soberana de todos os Estados. Os Estados Unidos declaram há muito tempo, através das palavras de seus presidentes, a sua própria 'excepcionalidade'", denunciou Lavrov, antes de fazer um apelo "à restauração da diplomacia profissional, à cultura do diálogo, à capacidade de ouvir e escutar".
Em meio às tensões diplomáticas e no campo de batalha, a Rússia reagiu com cautela, na terça-feira, ao convite do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para uma futura cúpula de paz sobre o conflito na Ucrânia — Kiev já organizou uma reunião neste ano, mas vetou a participação de Moscou.
Zelensky se mostrou favorável à participação da Rússia em uma segunda cúpula de paz, em uma declaração na segunda-feira. O presidente ucraniano disse ter estabelecido uma meta para que em novembro "tenhamos um plano totalmente preparado" para a nova organizar a cúpula.
"Acredito que os representantes russos deveriam participar desta segunda cúpula", disse.
Em um comentário na terça, o principal porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou disse que a primeira cúpula da paz, realizada em meados de junho na Suíça, não alcançou seu fim, sendo necessário entender melhor qual seria a nova proposta.
"A primeira cúpula da paz não foi uma cúpula da paz de nenhuma maneira. Então, talvez seja necessário entender primeiro o que ele quer dizer", disse Peskov ao canal de notícias Zvezda, ao comentar a declaração de Zelensky.
O mandatário ucraniano não mencionou o fim das hostilidades, mas o estabelecimento de um plano sobre três temas: a segurança energética da Ucrânia — cuja infraestrutura foi devastada pelos bombardeios russos —, a livre navegação no Mar Negro e a troca de prisioneiros.
A Rússia ainda ocupa cerca de 20% do território ucraniano e as perspectivas de um cessar-fogo, e mesmo de uma paz duradoura entre Kiev e Moscou, são mínimas nesta fase, após quase dois anos e meio do ataque russo em grande escala.
Entretanto, é a primeira vez que Zelensky levanta a ideia de negociações com a Rússia sem a retirada prévia de suas tropas do território ucraniano.
No passado, o presidente da Ucrânia havia afirmado que não queria negociar com Moscou enquanto Vladimir Putin estivesse no poder. Também chegou a firmar um decreto que tornava ilegais as negociações com a Rússia.