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Rússia e EUA trocam farpas em público, mas negociam sobre Aleppo

Segundo Lavrov, ele e John Kerry decidiram retomar as consultas para permitir a saída de todos os combatentes do leste da cidade de Aleppo

Aleppo: Lavrov se mostrou cauteloso a respeito das possibilidades de prosperar desta enésima iniciativa para solucionar a tragédia de Aleppo (Abdalrhman Ismail / Reuters)

Aleppo: Lavrov se mostrou cauteloso a respeito das possibilidades de prosperar desta enésima iniciativa para solucionar a tragédia de Aleppo (Abdalrhman Ismail / Reuters)

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EFE

Publicado em 8 de dezembro de 2016 às 18h38.

Hamburgo - Estados Unidos e Rússia trocaram várias farpas dialéticas nesta quinta-feira no Conselho da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), principalmente em torno da Ucrânia, mas, em particular, assentaram as bases para continuar negociando sobre a Síria.

Segundo explicou o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, ele e seu homólogo americano, John Kerry, decidiram retomar as consultas para permitir a saída de todos os combatentes do leste da cidade de Aleppo, palco de intensos combates e bombardeios durante semanas e que está cada vez mais perto de cair nas mãos do regime sírio.

Lavrov se mostrou cauteloso a respeito das possibilidades de prosperar desta enésima iniciativa para solucionar a tragédia de Aleppo e anunciou que o exército sírio deteve suas ações militares na cidade para permitir a saída de civis.

Além disso, advertiu que os rebeldes que não abandonarem a cidade nesta janela de oportunidade serão tratados como terroristas.

Este pequeno avanço, que deveria começar a concretizar-se no sábado em uma reunião de militares e diplomatas em Genebra, é o fruto de uma intensa agenda de encontros de ambos titulares das Relações Exteriores, entre elas duas bilaterais, apesar da troca de farpas registrada nas sessões abertas da OSCE.

Em seu discurso público, Kerry ressaltou a necessidade de defender a democracia e os direitos humanos, "princípios atemporais" que "devem ser defendidos constantemente", e advertiu para o "perigo do populismo autoritário".

Lavrov, por sua parte, exigiu "respeito" para seu país e um tratamento igualitário, além do fim dos "duplos padrões" e da "coerção", para restabelecer a "confiança" e assegurar a paz no continente.

O ministro russo tachou de "mitos" as considerações em torno da "ameaça russa" e sugeriu que o Ocidente acabe com a "retórica beligerante" e não lance "alegações e requerimentos" antes de sentar-se para dialogar.

O ministro das Relações Exteriores da Espanha, Alfonso Dastis, que se reuniu na terça-feira com Kerry e hoje com Lavrov, mostrou em Hamburgo um cauteloso otimismo perante a possibilidade de uma trégua e pediu para que se concentre agora em negociar para avançar rumo a um "acordo político", ao ser perguntado sobre a opção de impor sanções a Moscou por sua participação na guerra síria.

"É preciso ser otimista. Queremos que haja um acordo", declarou Dastis, para ressaltar que o "empenho principal" da Espanha é solucionar o "drama humanitário" e conseguir uma evacuação que envolva o maior número possível de pessoas.

Sobre o conflito na Ucrânia, no entanto, não se percebeu nenhum avanço durante o encontro da OSCE.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha e presidente rotativo da OSCE, Frank-Walter Steinmeier, qualificou de "inaceitável" a situação no leste da Ucrânia e se mostrou "descontente" com a implementação dos Acordos de Minsk, pactuados em 2015 pelos presidentes da Rússia e da Ucrânia, Vladimir Putin e Petro Poroshenko, respectivamente.

Steinmeier lamentou a falta de "vontade política" dos atores implicados, desde a manutenção das tréguas à iniciada das medidas de desarmamento e distensão.

Neste ponto, a alta representante da União Europeia (UE) para Política Externa, Federica Mogherini, criticou a Rússia, à qual acusou de "flagrante violação" dos princípios da OSCE e das leis europeias, e ressaltou que o bloco "nunca reconhecerá" a anexação da Crimeia.

A este respeito, Dastis considerou "imperativo" resolver a crise na Ucrânia, que divide a Europa em tempos de incerteza, e pediu para isso uma solução política.

Já o ministro das Relações Exteriores do Cazaquistão, Erlan Idrissov, salientou a importância de resolver a crise ucraniana, porque tem repercussões globais, comentou que "não há alternativa ao diálogo" e considerou, a este respeito, que "a OSCE é única com potencial para facilitar a negociação e promover o consenso".

Em um encontro com os veículos de comunicação, Steinmeier frisou que a OSCE tem um "valor incalculável" em momentos de grande "tensão entre Oriente e Ocidente" e acrescentou que esta organização pode frear a escalada de conflitos em seu âmbito territorial, embora seja essencial "a disposição" das partes. EFE

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