O secretário de Estado amerciano John Kerry (E)e o presidente russo Vladimir Putin, em Sochi, Rússia (Aleksei Nikolsky/AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de maio de 2015 às 10h19.
Sochi - O presidente russo, Vladimir Putin, e o secretário de Estado americano, John Kerry, tiveram uma reunião de quase quatro horas em Sochi (sul), nesta terça-feira.
Em sua conta no Twitter, Kerry considerou o encontro com Putin "franco" e "produtivo", em um primeiro sinal de distensão entre Moscou e Washington, após mais de um ano de crise na Ucrânia.
"É importante conservar as linhas de comunicação entre os Estados Unidos e a Rússia, no momento em que nos debruçamos sobre questões mundiais urgentes", tuitou Kerry.
O secretário também se reuniu com o chanceler russo, Serguei Lavrov, em um dia que permitiu um "melhor entendimento" bilateral.
Em entrevista coletiva conjunta, Lavrov considerou que a reunião levou a um "melhor entendimento, mas não estivemos sempre de acordo durante nossa conversa". Kerry estimou, por sua vez, que as sanções contra a Rússia podem ser suspensas "se e quando" ocorrer um cessar-fogo pleno na Ucrânia.
Kerry também alertou contra o potencial "extremamente destrutivo" de qualquer operação militar do Exército ucraniano e dos separatistas pró-russos na Ucrânia.
"O uso da força, por quaisquer das partes nesse momento [do conflito ucraniano], seria extremamente destrutivo", avaliou Kerry, jogando um balde de água fria nas ambições do presidente Petro Porochenko de retomar, por exemplo, o controle do aeroporto de Donetsk.
À margem do Mar Negro, o encontro de Kerry com os dois líderes russos se estendeu por oito horas.
"Quero expressar a gratidão do presidente (Barack) Obama pela vontade da Rússia de se comprometer com essas discussões", disse Kerry, após as reuniões.
"Não há nenhum substituto para as conversas diretas para tomar decisões-chave, em particular em um período tão complexo e que evolui tão rápido como o atual", afirmou o secretário de Estado.
O líder da diplomacia americana expressou que há uma "necessidade urgente" para os Estados Unidos de cooperar com a Rússia diante dos desafios globais. Na quarta-feira, Kerry segue para Antalya, na Turquia, onde participa da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Já Lavrov declarou "compreender a necessidade de se evitar passos que possam infligir danos em longo prazo nas relações bilaterais" entre as duas potências em diversos temas.
No início do dia, em um ambiente descontraído, Kerry depositou uma coroa de flores, acompanhado de Lavrov, em um memorial de soldados soviéticos mortos na Segunda Guerra Mundial.
Lavrov entregou ao colega americano uma caixa de batatas russas. A brincadeira remete a um episódio parecido, em janeiro de 2014, quando Kerry presenteou o chanceler russo com batatas americanas.
Ambos os diplomatas manifestaram que Moscou e Washington devem continuar o diálogo para tentar resolver suas diferenças.
Kerry estava acompanhado da chefe da delegação dos Estados Unidos, Wendy Sherman, que viaja na quarta-feira para Viena. Ela participará de um novo ciclo de conversas entre as potências do chamado grupo P5+1 e o Irã.
Relações deterioradas
Os dois países atravessam seu pior momento nas relações bilaterais desde o fim da URSS, em 1991. A viagem de Kerry à residência de verão de Putin foi a primeira de um alto funcionário americano à Rússia desde o início do conflito na Ucrânia.
Moscou se queixa das sanções impostas por Estados Unidos e Europa por seu papel na crise ucraniana, e Washington afirma que a Rússia não aplica estritamente o acordo de cessar-fogo negociado em Minsk para acabar com um conflito que já deixou 6.100 mortos e ao menos um milhão de deslocados.
Ambos vão se concentrar em atingir um único objetivo: "conseguir que aqueles que firmaram os acordos de 12 de fevereiro (em Minsk) respeitem-nos", disse o chanceler russo.
Embora haja "algumas contradições e divergências com relação às origens" do conflito no leste da Ucrânia, "compartilhamos a visão de que é possível resolver a crise somente implementando uma trégua", disse Lavrov.
Sobre a Síria, outro tema em discussão, Kerry afirmou que "todos entendem que a unidade (...) é chave para um bom acordo".
"Rússia e Estados Unidos são aliados neste esforço", frisou, acrescentando que a venda de mísseis russos S-300 a Teerã "não viola a lei internacional".
O comunicado não fez menção às discussões sobre o programa nuclear iraniano, cujo acordo definitivo deve ser alcançado antes de 30 de junho. Nesse tema, Kerry transmitiu a Putin que é importante manter a unidade.
Antes do encontro, qualificado de "franco" por fontes diplomáticas das duas potências, a Rússia destacou sua disposição de manter uma "cooperação construtiva", mas sem "coerções".
"A Rússia está disposta a uma cooperação construtiva com os Estados Unidos (...) mas tal cooperação será possível apenas sobre uma base justa e equitativa", destacou a chancelaria em Moscou.
A crise diplomática atual "não é nossa responsabilidade", acrescentou Moscou.