O porta-voz russo disse que as relações entre os dois países afetam a estabilidade e a segurança no mundo (Peter Nicholls/Reuters)
AFP
Publicado em 9 de agosto de 2018 às 11h18.
Última atualização em 9 de agosto de 2018 às 11h20.
O Kremlin considerou, nesta quinta-feira (9), "absolutamente inaceitáveis" e "ilegais" as novas sanções econômicas anunciadas pelos Estados Unidos em relação ao ataque com Novichok no Reino Unido, mas disse "manter a esperança de estabelecer relações construtivas" com Washington.
"Consideramos absolutamente inaceitável o anúncio de novas restrições em relação ao caso de Salisbury e as consideramos ilegais", disse à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chamando Washington de "sócio imprevisível".
Também negou, mais uma vez, qualquer responsabilidade no envenenamento do ex-agente russo Serguei Skripal e de sua filha, Yulia.
"Desmentimos, mais uma vez, de maneira categórica, todas as declarações sobre qualquer tipo de envolvimento da Rússia", acrescentou.
Peskov afirmou, porém, "ter esperança em relações construtivas" com os EUA.
"Estas relações não são apenas do interesse dos nossos dois povos, mas também do (interesse) da estabilidade e da segurança no mundo", completou.
Menos de um mês após a cúpula de Helsinque entre Donald Trump e Vladimir Putin, ambos os países parecem ter voltado à confrontação.
O Departamento de Estado americano alegou ter constatado que "o governo russo usou armas químicas, ou biológicas, violando as leis internacionais" no caso do envenenamento no Reino Unido.
O anúncio das sanções provocou um terremoto nesta quinta na abertura dos mercados financeiros russos, que depois recuperaram a calma.
A moeda russa caiu até seu nível mais baixo em quase dois anos frente ao dólar (66 rublos por dólar), enquanto o euro valia 77 rublos, pela primeira vez, desde abril passado.
"O sistema financeiro russo é suficientemente sólido: demonstrou sua solidez em momentos difíceis", ressaltou Peskov, enquanto a Rússia continua submetida a estritas sanções desde a anexação da Crimeia de 2014.
O envenenamento do ex-agente duplo e de sua filha, expostos ao Novichok - um agente neurotóxico elaborado na época da União Soviética - foi atribuído pelo governo britânico à Rússia. Moscou nega reiteradamente seu envolvimento e pede provas.
Uma britânica de 44 anos, mãe de três filhos, morreu em 8 de julho, após ter sido exposta a veneno dentro de um frasco de perfume. A Polícia britânica disse se tratar do Novichok.
O Reino Unido celebrou as novas sanções americanas, considerando o gesto uma "mensagem unívoca à Rússia de que sua atitude impetuosa não ficará sem resposta".
As sanções de Washington, que afetam a exportação de alguns produtos tecnológicos russos, poderão custar "centenas de milhões de dólares" para a economia russa, indicou uma fonte americana que pediu para não ser identificada.
Outro funcionário do alto escalão do governo americano disse ainda que pode haver uma segunda rodada de sanções "draconianas", com a proibição de as companhias russas operarem em aeroportos dos Estados Unidos, ou até com o rompimento das relações diplomáticas.
"As sanções em si não são destruidoras, mas são um golpe no interesse dos investidores e minam a confiança dos investidores na Rússia", indicaram analistas do banco russo Alfa.
"Mas podem reduzir a pressão sobre a administração Trump para apoiar as sanções propostas por um grupo de senadores relacionadas com a suposta interferência nas eleições, que preveem a proibição de comprar dívida russa, o que seria potencialmente muito mais perigoso", acrescentaram.
Na quarta-feira, os mercados russos já se viram afetados pelas matérias publicadas pela imprensa cogitando essa possibilidade.
No final de 2016, a economia russa saiu de dois anos de recessão pelas sanções provocadas pela crise na Ucrânia e pela queda do preço dos hidrocarbonetos, dos quais a Rússia depende em grande parte.