Navalny: A organização indicou em seu site que, segundo um balanço da manhã deste sábado, “mais de 101 pessoas foram detidas em dez cidades” (SERGEI GAPON/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 17 de fevereiro de 2024 às 09h54.
A polícia russa deteve mais de 100 pessoas durante as manifestações em homenagem a Alexei Navalny, falecido nesta sexta-feira na prisão onde estava detido, informou neste sábado o grupo de defesa dos direitos humanos OVD-Info. A organização indicou em seu site que, segundo um balanço da manhã deste sábado, “mais de 101 pessoas foram detidas em dez cidades”, a maioria em São Petersburgo e onze na capital, Moscou.
Principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, Navalny morreu aos 47 anos na prisão, informaram as agências locais nesta sexta-feira. Em comunicado, o Serviço Penitenciário Federal afirmou que ele "sentiu-se mal após uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência".
Médicos da instituição teriam sido chamados, e "todas as medidas de reanimação necessárias foram realizadas, mas não tiveram resultados positivos". O órgão afirmou que as causas da morte estão sendo apuradas.
Quando soube que foi sentenciado a dois anos e oito meses de prisão em regime fechado, em 2021, Navalny olhou para sua esposa, Yulia, e disse que "tudo ficaria bem". O mais ferrenho opositor de Putin fez uma aposta alta ao regressar a Moscou após ter sido envenenado, em agosto de 2020, e passado por um tratamento na Alemanha. Sua prisão era esperada, mas a iminência de seu desaparecimento da vida pública jogou o movimento oposicionista russo — e mesmo o governo — em um terreno desconhecido.
Ao contrário de outras figuras que dominam a política russa, Navalny não possuía laços com oligarquias ou famílias tradicionais, nem fez sua base nos tempos da União Soviética. Nascido nos arredores de Moscou e filho de pequenos empresários, ele passou alguns verões na Ucrânia, de onde vinha parte de sua família e onde aprendeu o idioma local. No final dos anos 1990, formou-se em Direito na Universidade Russa da Amizade dos Povos, instituição criada nos anos 1960 e que teve entre seus alunos o líder palestino Mahmoud Abbas e o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. Navalny possuía ainda formação em finanças, um conhecimento que se mostrou útil em suas incursões no ativismo político.
Alexei Navalny fez seu nome ao expor a corrupção oficial, rotulando a Rússia Unida, legenda de Putin, como “o partido dos vigaristas e ladrões”. Em 2006, começou a escrever um blog sobre corrupção focado nas grandes corporações que comandavam a economia russa.
Em vez de se basear em denúncias anônimas, utilizou uma estratégia pouco usual: investiu 300 mil rublos (o equivalente na época a R$ 21 mil) em ações de empresas do setor petrolífero. Assim, pressionava pela liberação dos números das operações e tinha acesso a informações que usaria em suas postagens.
Um dos casos mais emblemáticos foi a denúncia de um desvio de US$ 4 bilhões na operadora de oleodutos Transneft, ocorrido em 2007 e revelado por Navalny em 2010. Apesar da documentação, o caso, que chegou ao conhecimento de Vladimir Putin, não resultou em condenações ou popularidade positiva.
— Esse lado financeiro dele teve um impacto mais negativo que positivo — declarou ao GLOBO Angelo Segrillo, professor de história na Universidade de São Paulo (USP). — Ele foi acusado de querer ganhar dinheiro com essa estratégia.