Onda de atentados em Damasco: declaração pode ser explicada pelo fato de a Rússia estar cada vez mais descontente com a rejeição a qualquer compromisso por parte do regime (AFP/Pp)
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2012 às 20h48.
Damasco - A Rússia, aliada de peso do presidente Bashar al-Assad, considerou pela primeira vez, nesta quinta-feira, a possibilidade de uma vitória dos rebeldes na Síria, onde a queda do regime é apenas "uma questão de tempo" para a Otan.
O governo sírio, que perdeu muito terreno nos últimos meses para os insurgentes, negou que tenha lançado mísseis Scud, como afirmaram uma autoridade americana e desertores, vendo nesses "rumores" um "complô".
"É necessário encarar as coisas de frente. O regime e o governo sírios perdem cada vez mais o controle do país", declarou o vice-ministro russo das Relações Exteriores Mikhail Bogdanov, afirmando que "não descarta" uma vitória da oposição.
Segundo uma fonte ligada à embaixada russa em Damasco, esta surpreendente declaração pode ser explicada pelo fato de a Rússia estar cada vez mais descontente com a rejeição a qualquer compromisso por parte do regime, que continua acreditando que está em condições de se impor militarmente.
Enquanto isso, estão sendo realizadas negociações entre Rússia e Estados Unidos por uma saída para a crise.
De acordo com um especialista, os Estados Unidos não querem repetir a desastrosa experiência do Iraque, onde mergulharam o país no caos depois da invasão de 2003, possibilitando o fortalecimento da Al-Qaeda e dos insurgentes ao desmantelar o Exército e os serviços de Segurança.
"Querem manter o Exército e os serviços, substituindo, certamente, os militares de mais alta patente, para manter a unidade do país e impedir os jihadistas de tomar o poder, mas há um ponto no qual os Estados Unidos não cedem, que é a saída de Bashar al-Assad. E este ponto a Síria se nega a negociar".
"Acredito que o regime sírio está a ponto de cair, é apenas uma questão de tempo", declarou, por sua vez, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen.
Em Damasco, o Ministério das Relações Exteriores desmentiu "categoricamente os rumores de que o Exército sírio havia lançado mísseis Scud", segundo a rede de televisão estatal.
Uma autoridade americana que pediu para não ser identificada disse na quarta que vários "Scud caíram na Síria". E nesta quinta-feira, um oficial desertor afirmou à AFP que a unidade à qual pertencia lançara mísseis Scud contra regiões rebeldes.
A queda do regime pode ser apenas uma questão de "semanas", declarou nesta quinta à AFP o ministro iraquiano das Finanças. Seu país vinha evitando até agora adotar qualquer posição pública sobre a Síria.
Novos atentados na periferia de Damasco
Para Karim Bitar, diretor de pesquisas do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), o uso de Scud "faz parte claramente da guerra psicológica do regime contra os rebeldes e os países que os apoiam".
Com os lançamentos, o regime "deseja lembrar novamente que mobilizará todas as suas forças na batalha, e não terá escrúpulo algum para atacar forte", acrescentou.
Diante dessa perspectiva, os militantes dos Comitês Locais de Coordenação (LCC) pediram que a população de Damasco "prepare centros de primeiros socorros, abrigos, geradores e provisões".
Novos atentados foram registrados nesta quinta perto de Damasco, um dia depois de uma onda de ataques que deixou 13 mortos na capital, cidade mais protegida do país, e em sua periferia.
Dezoito pessoas, entre elas sete crianças, morreram na explosão de um carro-bomba em Qatana, subúrbio sudoeste de Damasco, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que registrou a morte de quatro civis na cidade vizinha de Jdaidet Artouz, onde também explodiu um carro-bomba. A televisão estatal registrou oito mortos.
Na quarta-feira, três ataques, um deles com carro-bomba, tiveram como alvo o Ministério do Interior, causando a morte de nove pessoas, segundo o OSDH, sendo um deputado e oito militares.
A Frent Al-Nusra reivindicou nesta quinta-feira no Twitter a autoria desse atentado, afirmando que dois terroristas suicidas do grupo jihadista estavam envolvidos.
O ministro Mohammad Ibrahim al-Chaar, ficou ferido, segundo uma fonte de segurança, enquanto a imprensa oficial indicou após o ataque que seu estado de saúde era estável.
Enquanto isso, a oposição recebeu o apoio de peso de países árabes e ocidentais, que a reconheceram como "representante legítima" dos sírios.
Segundo um primeiro registro do OSDH, que indica mais de 42.000 mortos desde o início do conflito em março de 2011, 78 pessoas morreram nesta quinta-feira no país, incluindo 50 civis.