Usinas nucleares na Ucrânia (.)
Agência de notícias
Publicado em 30 de novembro de 2024 às 14h42.
A Rússia atingiu instalações críticas de transmissão de eletricidade ligadas a usinas nucleares durante seu último ataque à rede rede elétrica da Ucrânia na quinta-feira, informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Foi o terceiro ataque desse tipo num intervalo de aproximadamente três meses, intensificando as preocupações entre especialistas sobre a possibilidade de um desastre nuclear.
Segundo a agência, os ataques russos atingiram subestações elétricas cruciais para que as três usinas nucleares operacionais da Ucrânia pudessem transmitir e receber energia. Embora nenhum dano direto aos reatores tenha sido relatado, todas as usinas reduziram sua produção como medida de proteção, e uma delas foi desconectada da rede elétrica.
"A infraestrutura de energia da Ucrânia é extremamente frágil e vulnerável, colocando a segurança nuclear em grande risco", afirmou Rafael Mariano Grossi, chefe da AIEA, em comunicado divulgado na noite de quinta-feira.
A Rússia tem atacado a infraestrutura de energia da Ucrânia desde o primeiro inverno da guerra, há dois anos, em um esforço para colapsar sua rede e dificultar a vida dos ucranianos. Durante a maior parte desse período, os ataques se concentraram em termoelétricas e hidrelétricas, além de suas instalações de transmissão, causando apagões generalizados em todo o país.
Ainda assim, a rede elétrica da Ucrânia não entrou em colapso, principalmente porque grande parte de sua geração de energia depende de usinas nucleares, que foram amplamente poupadas de ataques aéreos.
A estratégia russa de destruir subestações conectadas a usinas nucleares é mais recente e parece ter o objetivo de colapsar a última grande capacidade de geração de energia da Ucrânia, segundo especialistas. Os ataques contra as subestações começaram no final de agosto, informou a AIEA.
As subestações são essenciais porque distribuem a energia dos reatores para o resto do país. As três usinas nucleares em operação na Ucrânia, um total de nove reatores, fornecem cerca de dois terços da capacidade de geração de energia do país atualmente, de acordo com Shaun Burnie, especialista nuclear do Greenpeace Ucrânia.
Duas usinas ficam no oeste da Ucrânia, nas regiões de Rivne e Khmelnytskyi, enquanto outra fica mais ao sul. Uma quarta usina nuclear, perto da cidade de Zaporíjia, ao sul, foi capturada pelas forças russas no início da guerra.
As subestações também têm uma segunda função, não menos importante: fornecer eletricidade para as usinas nucleares, necessária para resfriar os reatores e o combustível usado. "A perda da função de resfriamento em um ou mais reatores levaria inevitavelmente ao derretimento do combustível nuclear e a uma liberação radiológica em grande escala", alertou o Greenpeace em nota compartilhada com o New York Times.
Especialistas da ONU fizeram um alerta semelhante em um comunicado publicado na segunda-feira. Eles disseram que "mais danos ao sistema elétrico da Ucrânia poderiam levar a um apagão de eletricidade que aumentaria o risco de reatores nucleares em operação perderem o acesso à rede para alimentar seus sistemas de segurança". Tal evento, segundo a declaração, poderia levar a um grave desastre nuclear.
As autoridades ucranianas tentaram destacar a nova ameaça nos últimos meses. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse à Assembleia Geral da ONU em setembro que a Rússia estava planejando possíveis ataques catastróficos às "usinas nucleares e à infraestrutura da Ucrânia, com o objetivo de desconectar as usinas da rede elétrica".
Em resposta, o governo ucraniano concordou com a AIEA em setembro sobre enviar missões de monitoramento a subestações ligadas a usinas nucleares para avaliar os danos e tentar evitar novos ataques. A agência visitou sete subestações neste outono (hemisfério norte), documentando "danos extensos" e concluindo que a capacidade da rede "de fornecer uma fonte de alimentação externa confiável" para as usinas nucleares havia sido "significativamente reduzida".
As autoridades ucranianas gostariam que a AIEA enviasse pessoal com frequência, ou mesmo permanentemente, para inspecionar as subestações, na expectativa de que sua presença pudesse impedir novos ataques russos. O Greenpeace disse na nota que "o governo russo precisa do apoio ativo da AIEA para apoiar suas ambições globais de energia nuclear e, portanto, não pode arriscar a segurança do pessoal da AIEA em seus esforços contínuos para destruir o sistema elétrico da Ucrânia".
Mas até agora, conforme destacado pelos especialistas da ONU, a agência conduziu apenas uma missão de monitoramento, sem anunciar outras visitas.
Na sexta-feira, a Ucrânia continuou a lidar com as consequências do grande ataque da Rússia à sua rede elétrica do dia anterior. A Ukrenergo, a operadora nacional de eletricidade, introduziu desligamentos intermitentes em todo o país para reduzir a tensão no sistema. Algumas áreas, como as regiões de Kherson e Mykolaiv, no sul do país, também ficaram sem energia em sua maior parte por causa dos ataques, disseram as autoridades locais.
As autoridades ucranianas disseram que a Rússia utilizou munições cluster — armas que se fragmentam no ar, espalhando fragmentos de bombas menores em uma área mais ampla — para atacar a rede. Essas munições às vezes não detonam imediatamente, o que representa uma ameaça persistente e atrapalha a atuação dos trabalhadores do setor de energia enviados para consertar as instalações danificadas, que precisam esperar até que a área seja limpa do material bélico não detonado. A Ucrânia também usou munições de fragmentação na guerra.
— O uso desses elementos de fragmentação complica significativamente o trabalho de nossas equipes de resgate e engenheiros de energia na mitigação dos danos, marcando mais uma escalada vil nas táticas terroristas da Rússia — disse Zelensky na quinta-feira.
Apesar dos riscos, alguns trabalhadores do setor de energia permanecem no local das usinas durante os ataques para operar equipamentos essenciais. Oleksandr, chefe de gerenciamento de produção em uma usina de energia térmica administrada pela DTEK, a maior empresa privada de energia da Ucrânia, disse que estava trabalhando durante um ataque recente.
— Havia dois de nós trabalhando no ponto de controle central da estação — disse Oleksandr, cujo sobrenome não pôde ser divulgado por motivos de segurança. — Consegui gritar 'Abaixe-se!' para meu colega e, instantaneamente, tudo ficou escuro: A poeira subiu, o gesso voou. A explosão ocorreu na área da turbina, a 150 metros de distância, no momento em que estávamos caindo no chão.