Ativistas contrários ao governo ucraniano se aquecem em barricada de Kiev: Kiev continua ocupado por manifestantes que ergueram barricadas (AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de fevereiro de 2014 às 15h58.
Kiev - A Rússia advertiu nesta quarta-feira a Ucrânia após uma visita ao país da chefe da diplomacia europeia Catherine Ashton, sugerindo que uma mudança de lado poderia impedir a ajuda prometida a Kiev.
Já a União Europeia, representada por Ashton, pediu à Ucrânia que se esforce para sair da crise que atinge o país há mais de dois meses.
A Rússia, preocupado com o atraso pela Ucrânia do pagamento de suas contas de gás, pediu esclarecimentos sobre suas últimas manobras políticas, enquanto os protestos pró-europeus continuam, indicou um porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
De acordo com o porta-voz, o presidente Putin não irá voltar atrás em seu compromisso de conceder um auxílio de 15 bilhões de dólares para a Ucrânia e de reduzir em 30% o preço do gás russo entregue ao seu vizinho, desde que Kiev respeite seus compromissos com Moscou.
"Se todo mundo seguir rigorosamente os acordos firmados, ninguém precisará mudar alguma coisa", declarou Peskov a uma rádio russa, sem especificar quais seriam as obrigações ucranianas.
Ele confirmou informações segundo as quais o Kremlin irá monitorar as manobras do novo governo de Kiev, que substituirá o de Mykola Azarov, que renunciou na semana passada, e a utilização dos fundos adiantados pela Rússia.
"Vai levar tempo até que o novo chefe do governo ucraniano seja capaz de explicar a Moscou o quão longe seguirá a política da equipe anterior", disse ele.
No final de janeiro, a dívida de gás de Kiev chegou a 3,29 bilhões de dólares, segundo indicou a empresa russa Gazprom.
Além disso, a representante da diplomacia europeia indicou nesta quarta-feira em Kiev ser necessário "muito mais" em matéria de reformas e desejou que "as mudanças acelerem", após se reunir com o presidente Viktor Yanukovytch e com os principal líderes da oposição ucraniana.
Ela informou que a UE está disposta a apoiar as reformas e contribuir para a investigação sobre os episódios de violência registrados no mês passado.
O apoio ocidental à economia da Ucrânia, atualmente em estudo, não será uma "montanha de dinheiro", advertiu, no entanto.
Por sua vez, o presidente ucraniano disse que a reunião se concentrou, principalmente, sobre a reforma constitucional, exigida pela oposição, e que o poder não rejeita a priori.
No entanto, a oposição deseja a adoção da Constituição de 2004 para reduzir rapidamente os poderes presidenciais, enquanto Yanukovytch exige a elaboração de uma nova Carta Magna, o que levaria muito mais tempo.
"Nós temos que voltar para a Constituição de 2004 e, em seguida, discutir com calma uma nova Constituição", declarou nesta quarta-feira ao Parlamento, um dos líderes da oposição, Vitali Klitschko. Caso contrário, será preciso eleições antecipadas, alertou.
E se não houver uma decisão rápida, "haverá uma nova escalada de protestos", preveniu.
Queda da moeda ucraniana
A gravidade da crise foi ilustrada nesta quarta-feira pela queda de mais de 5% da hryvnia em relação ao dólar e ao euro.
Um economista consultado pela AFP evocou um "início de pânico" e considerou que a comunidade empresarial poderia estar deixando os fundos do país, como visto nas últimas semanas.
O presidente Yanukovytch deverá discutir os seus problemas diretamente com o presidente Vladimir Putin, que ele encontrará na sexta-feira, à margem dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi.
É pouco provável que algo substancial aconteça em Kiev antes deste encontro, segundo os meios políticos ucranianos.
A crise na Ucrânia foi provocada no final de novembro pelo abandono surpresa por Kiev de um acordo de associação com a UE em detrimento de uma aproximação com Moscou.
O movimento de contestação se transformou em uma rejeição ao sistema presidencial adotado por Yanukovytch.
O centro de Kiev continua ocupado por manifestantes que ergueram barricadas. Em janeiro, os confrontos fizeram ao menos quatro mortos e 500 feridos.