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Da Redação
Publicado em 25 de julho de 2012 às 17h23.
Damasco - A Rússia, aliada de Damasco desde o início da revolta, mostrou nesta terça-feira que está disposta a aceitar a saída do poder do presidente Bashar al-Assad, exigida pela oposição.
A violência no país deixou ao menos mais 47 mortos, incluindo 24 membros das forças governamentais mortos em combates contra desertores, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"Nunca dissemos ou impusemos como condição que Assad devesse necessariamente permanecer no poder ao final do processo político" na Síria, declarou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Guennadi Gatilov, à agência Itar-Tass.
O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão de oposição, havia considerado no final de maio que a saída do presidente Assad era "o único meio de salvar o plano" do emissário da Liga Árabe e da ONU Kofi Annan, indicando que "sem isso a situação corre o risco de explodir e ameaçar toda a região".
Enquanto a comunidade internacional, dividida, procura maneiras para pressionar o regime Assad, o presidente russo Vladimir Putin iniciou uma visita de três dias à China, em parte destinada às discussões sobre a crise na Síria.
China e Rússia estão unidas e se opõem a qualquer intervenção armada na Síria. Os dois países vetaram duas vezes resoluções no Conselho de Segurança da ONU que ameaçavam o governo de Bashar al-Assad com sanções.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pediu que Moscou e Pequim "contribuam com uma solução" para o conflito.
"Acredito que está claro que todos nós devemos intensificar nossos esforços para acelerar a transição política, e que esta deve ser a principal preocupação de nossa diplomacia", insistiu.
O ministro saudita das Relações Exteriores, o príncipe Saud al-Faisal, também pediu para "a Rússia deixar de apoiar o regime sírio e passar para uma ação em favor do fim dos combates e de uma transição política pacífica" no país, assegurando que esta mudança de posição "vai permitir salvaguardar seus interesses na Síria e no mundo árabe"
O príncipe saudita fez um apelo às monarquias do Golfo para ajudar os sírios a se defenderam "da máquina de morte" do governo de Damasco.
Segundo diplomatas e especialistas, Kofi Annan, que deve discursar na quinta-feira para o Conselho de Segurança e Assembléia Geral da ONU, começou a perceber o fracasso de seu plano e espera que a comunidade internacional faça tudo para cumpri-lo ou que encontre um "plano B".
Pressionada, a Síria autorizou o acesso humanitário da ONU e de ONGs a quatro regiões do país.
Após missões de reconhecimento no domingo, organizações humanitárias vão poder se instalar em Homs (centro), Idleb (noroeste), Deraa (sul) e Deir Ezzor (leste), para distribuir ajuda alimentar e médica.
O vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Fayçal Meqdad, reafirmou a vontade de Damasco em assegurar a aplicação do plano Annan e de "proteger a missão de observadores", enviados para monitorar o cessar-fogo diariamente ignorado há dois meses.
Apesar disso, o regime sírio declarou nesta terça-feira "persona non grata" vários embaixadores de países ocidentais, incluindo o dos Estados Unidos, em resposta à expulsão de embaixadores sírios na semana passada. A maiorias destes diplomatas já não se encontram em território sírio há meses.
Em todo o país, as operações repressoras e, sobretudo, os combates entre o Exército regular e os rebeldes continuam. Entre os 47 mortos desta terça-feira, há duas meninas, segundo o OSDH.
Na região de Latakia (noroeste), 22 soldados e 9 combatentes da oposição morreram em Al-Hiffa, de acordo com o OSDH, que relatou ainda "dezenas" de militares feridos.
Na província de Idleb (noroeste), quatro civis foram mortos em "uma intensa operação militar" em Kafrueid.
As forças do regime bombardearam a cidade rebelde de Homs (centro) e atacaram diferentes localidades. O OSDH indicou ainda o assassinato de dois oficiais em Deir Ezzor (leste) e Damasco.
Como consequência da violência, mais de 2.000 sírios se refugiaram na Turquia nos últimos três dias, anunciou o centro turco de gestão de situações de crise (AFAD), que contabiliza um total de 26.747 refugiados sírios nos campos do sul do país.
Ao menos 13.400 pessoas morreram em 15 meses de contestação, segundo o OSDH.