PSD: o partido teve que abandonar o poder em novembro de 2015 (Inquam Photos/Octav Ganea)
AFP
Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 10h47.
A Romênia entra em uma fase de incerteza um dia depois da ampla vitória dos social-democratas nas eleições legislativas, que permite prever uma disputa com o presidente de centro-direita, Klaus Iohannis, sobre a nomeação do primeiro-ministro.
O Partido Social-Democrata (PSD) retorna pela porta da frente após abandonar o poder no fim de 2015, depois que um incêndio em uma discoteca de Bucareste provocou uma onda de protestos contra a corrupção no país.
No domingo, o PSD recebeu 45,2% dos votos, muito à frente dos principais rivais de centro-direita, de acordo com os resultados oficiais.
O líder do partido, Liviu Dragnea, deixou claro que aspira ser o primeiro-ministro, apesar de ter sido condenado a dois anos de prisão com suspensão condicional da pena por fraude eleitoral, uma sentença que, de acordo com a lei, o inabilita para o posto.
"Não planejo presentear estes votos a ninguém, seja uma pessoa ou uma instituição. Dirigi a campanha, o partido, foi uma enorme responsabilidade. Não estou disposto a brincar com o voto", alertou Dragnea.
Iohannis anunciou antes da eleição que não daria posse a nenhuma pessoa envolvida em casos judiciais.
Dragnea, 54 anos, foi condenado por atos ocorridos na época em que era secretário-geral do PSD.
Após as eleições, ele pediu que o país evite qualquer "conflito inútil" que possa ameaçar a "estabilidade" da nação.
"Todos os homens políticos e todas as instituições devem respeitar o voto", declarou.
O cientista político Cristian Parvulescu pensa que Dragnea pode perder a batalha.
"Não acredito que Iohannis renuncie aos critérios de integridade que anunciou", disse à AFP.
A batalha entre Dragnea e Iohannis poderia, no entanto, provocar uma suspensão das funções do presidente pelo Parlamento, situação que aconteceu duas vezes com Traian Basescu, o antecessor de Iohannis.
O PSD teve que abandonar o poder em novembro de 2015, após um incêndio na discoteca Colectiv, em Bucareste, que deixou 64 mortos.
O fato da casa noturna ter infringido todas as normas de segurança foi considerado na ocasião um sintoma da corrupção endêmica que domina o país, incluindo os serviços de saúde.
Grandes manifestações provocaram a renúncia do primeiro-ministro social-democrata Victor Ponta, substituído por um governo de tecnocratas liderado pelo ex-comissário europeu Dacian Ciolos.
Mas o efeito dos protestos parece ter ficado no passado. Apenas 39,5% dos eleitores compareceram às urnas no domingo, o menor índice de participação desde o retorno da democracia em 1989.
"Os romenos tiveram um sonho, antes de voltar a dormir. Os políticos esperaram que o efeito das manifestações de 2015 passasse", afirmou o analista Cristian Tudor.
A sensação geral entre os romenos parece ser a de que votar não muda nada.
Membro da União Europeia desde 2007, a Romênia é um país em que a pobreza afeta 25% da população, o que leva muitos romenos a procurar emprego no exterior.
Neste contexto, o PSD conseguiu mobilizar os eleitores da área rural e os mais idosos com promessas de aumento de salários e pensões, assim como a redução de impostos.