Bucareste, na Romênia: diferenças entre campo e cidade não diminuíram desde 1990 (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 17 de fevereiro de 2011 às 07h49.
Targovishte, Romênia - Mais de quatro anos depois da integração à União Europeia (UE), quando Bucareste procura ingressar no espaço Schengen - convenção entre os países europeus sobre política de livre circulação na região - e o país se consolida como membro de pleno direito, a Romênia rural segue longe dos mínimos padrões comunitários de bem-estar e prosperidade.
Até os dias de hoje, 55% dos 21 milhões de habitantes da Romênia vive na área rural e boa parte não tem trabalho e sofrem com um sistema de saúde e de educação cheio de carências, praticamente inexistente.
"As diferenças entre a Romênia urbana e a Romênia rural não recuaram desde a época do ditador comunista Nicolae Ceausescu", explica à Agência Efe o demógrafo romeno Dumitru Sandu, que o desequilíbrio é referente à chegada, em 1990, da democracia e do capitalismo ao país.
A mortalidade infantil - um dado chave para medir a qualidade de vida na comunidade - na Romênia rural era em 2008 de 14 crianças para cada 1 mil nascidos vivos, seis pontos a mais do que nas cidades.
"Na maior parte da UE, a mortalidade infantil está abaixo de cinco por mil, e as diferenças entre as zonas rurais e urbanas são mínimas", comenta Sandu.
Se o centro de uma cidade romena pode se comparada com outros centros europeus, uma visita a qualquer comunidade rural é suficiente para advertir que ali a prosperidade ainda não chegou.
A constatação é clara. As ruas não têm asfalto e os campos estão vazios, sem qualquer cultivo. Qualquer dia dá para ver carroças e tratores à beira da estrada na região de Dambovita, ao sul do país e onde não se observa nenhum sinal de é possível trabalhar naquele local.
Também é difícil encontrar por essas ruas pessoas jovens, a maior parte deixou à cidade e buscou fortuna na Espanha e na Itália.
"Tudo vem desde então, quando caiu o comunismo", explica Procopie Toma, prefeito do povoado de Malu cu Flori, em Dambovita, cuja capital é Targovishte.
"As pequenas cooperativas públicas foram desmontadas e os terrenos foram repartidos em cotas muito pequenas. Como não existia uma mentalidade empreendedora e os pedaços de terra para cultivar eram quase insignificantes, a agricultura e a pecuária que tinham dado trabalho a maioria dos habitantes se transformou em uma atividade de subsistência", diz Tomada.
"As lutas políticas do início da década de 90 deixaram em segundo plano os critérios de eficiência para reestruturar o setor agrícola como fez a Tchecoslováquia e a Hungria", conta o professor Sandu.
Ao fim das raquíticas cooperativas comunistas, eliminadas sem alternativa, uniu-se em breve o fechamento da não menos frágil indústria, que mantida artificialmente pelo regime dava trabalho na cidade a uma parte dos habitantes do campo.
Sem fontes da receita e um plano de Estado que marginou o meio rural, os mais conformistas e de maior idade ficaram no campo, no melhor dos casos, comendo da horta e do que produzia a vaca e os dois porcos que possuíam.
A emigração foi durante anos a solução para os jovens e as remessas que mandavam ajudou a levantar algumas casas e a manter muitas famílias.
A entrada da Romênia na UE gerou esperança dos fundos europeus, que, pelos exemplos de desenvolvimento como espanhol deviam criar postos de trabalho, construir hospitais, escolas e estradas.
"Os fundos europeus poderiam aumentar as possibilidades da reativação da atividade agrícola, pois existem boas áreas cultiváveis", diz Florin Piclea, diretor da Cruz Vermelha da província nordeste de Neamt, uma das mais deprimidas do país, e conhecedor do problema do campo romeno.
"Infelizmente, poucos acedem a esses fundos", lamenta Toma enquanto mostra as ruas asfaltadas com dinheiro europeu.
Pelos dados oficiais, a Romênia só absorveu 1,6 bilhão de euros dos 19 bilhões de euros que a UE colocou à disposição até 2013, o que representa 9% do total atribuído.
"Não é principalmente um problema de corrupção, mas de falta de consolidação institucional na administração pública local e central", esclarece Sandu.
A burocracia e as formalidades exigidas assustam os prefeitos e a iniciativa privada, que ao não contar com a assessoria do Governo acaba renunciando ao financiamento comunitário.
Toma, quem obteve fundos europeus para levar água a boa parte do povo e espera obter mais para canalização, lamenta que "com a crise, os investimentos do Estado tenham recuado".