Presidência de Rohani criou esperança nos círculos diplomáticos de que o clérigo moderado, com ligações com todas as facções do Irã (Raheb Homavandi/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2013 às 14h45.
Dubai - Ao escolher ministros conhecidos mais por sua experiência do que por suas opiniões políticas, o presidente Hassan Rohani propôs um gabinete que representa uma conquista rara na política iraniana, satisfazer tanto as facções reformistas quanto as conservadoras.
A presidência de Rohani criou esperança nos círculos diplomáticos de que o clérigo moderado, com ligações com todas as facções do Irã, seja alguém com quem o Ocidente possa conversar e ao menos aliviar a tensão pela disputa nuclear.
Talvez querendo tirar vantagem da onda de boa-vontade, Rohani entregou sua lista de indicações ministeriais ao Parlamento imediatamente após ser empossado, no domingo.
Aliados dos conservadores derrotados por Rohani na eleição de junho ainda dominam o Parlamento, e fazer com que aprovem cada um de seus ministros será o primeiro desafio do presidente.
Mas Rohani também tem uma conta a pagar com os reformistas, afastados do poder porém mais populares, que retiraram suas candidaturas no último minuto e apoiaram a campanha de Rohani.
"Agradar a uma única facção iraniana através de indicações do gabinete já é uma tarefa bem difícil. Agradar a todas elas pode ser comparado a completar o cubo de Rubik", disse Meir Javendanfar, um analista do Centro Interdisciplinar de Israel especializado no Irã.
A principal escolha para o gabinete de Rohani é Mohammad Javaz Zarif, que foi nomeado ministro das Relações Exteriores.
Ex-embaixador na ONU, Zarif esteve envolvido em negociações secretas de bastidores com os Estados Unidos ao longo de três décadas, e sua nomeação é um forte sinal de que Rohani quer abrir canais que foram fechados sob o governo de seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad.
Zarif, educado nos EUA, serviu tanto sob o pragmático presidente Akbar Hashemi Rafsanjani nos anos 1990 quanto sob o reformista Mohammad Khatami, antes de voltar para a academia quando Ahmadinejad assumiu a Presidência em 2005.
Outro grande nome é o de Bijan Zanganeh, a escolha de Rohani para ministro do Petróleo. Bem respeitado entre os colegas da Opep, Zanganeh também serviu tanto sob Khatami quanto sob Rafsanjani.
Tais escolhas contrastam com a era Ahmadinejad, na qual a lealdade política era recompensada acima da experiência, e diplomatas e autoridades competentes eram expulsos dos ministérios em favor dos aliados do presidente, muitos com pouca experiência.
Embora poucos duvidem da habilidade diplomática de Zarif, ele pode parecer um pouco próximo demais do campo reformista para alguns no Parlamento.
O mesmo poderia ser dito de Zanganeh e de Mohammad Ali Najafi, um tecnocrata escolhido como ministro da Educação que visitou o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, para falar em nome dos líderes reformistas da oposição que estão sob prisão domiciliar depois dos protestos antigoverno que se seguiram à eleição presidencial de 2009.
Um site da oposição, no entanto, disse na semana passada que Rohani mostrou sua lista de gabinete a Khamenei antes de apresentá-la ao Parlamento. Se for verdade, é improvável que o Parlamento rejeite os indicados, já que eles foram implicitamente aprovados pelo líder, a figura mais poderosa do Irã.