Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h36.
São Paulo - O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, acordou atacado na última quinta-feira. Mal raiou o dia e ele carregou sua metralhadora giratória. No Twitter, atirou contra o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra - de quem é aliado - e contra o marqueteiro do tucano, Luiz Gonzalez. Entre outras coisas, disse que mal conhece Serra e que o tucano seria o responsável pela dispersão de seus aliados.
Também postou no microblog que a estratégia de campanha, desenhada por Gonzalez, estaria errada por omitir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E completou: Serra deveria pôr mais o pé na estrada para acompanhar a corrida às urnas nos estados.
Deputado cassado e réu no processo que investiga o mensalão - maior escândalo do governo Lula - Jefferson tem sido mencionado em perguntas direcionadas ao tucano sobre a aliança do PSDB com o PTB. Interlocutores dizem que o estopim para a revolta foi justamente esse: as respostas de Serra.
Na noite de quinta, Jefferson conversou com VEJA.com. Não baixou o tom. Conclamou o PSDB a ser mais firme. "O PSDB é o único grande partido que tem rosto para fazer oposição". Revelou estar insatisfeito com as diretrizes da campanha de Serra. "Estou me sentindo sufocado". E exigiu respeito. "Se tem constrangimento, não me receba".
Lula quer destruir a oposição
Se não assumir uma identidade agora, e se Dilma vencer a eleição, a oposição sai destruída deste pleito. Temos de nos contrapor a Lula, caso contrário, no futuro, ele fará o que quiser. Ele vai construir no Brasil um partido semelhante ao PRI, o antigo partido hegemônico mexicano, que governou a nação durante 71 anos, abrigando políticos domesticados, de todas as ideologias e matizes. Seremos todos lulistas, lutando por migalhas de poder.
O PSDB deveria reivindicar a herança de FHC
Querer se credenciar como herdeiro de Lula sem ser da família de Lula é um grande erro. É isso que a campanha de Serra está fazendo. Eu me lembro, na pré-convenção de Serra em Brasília, quando o Aécio Neves fez um discurso lembrando que o PT foi contra todas as grandes conquistas institucionais do período pós-ditadura. Foi um delírio. Esse é o discurso da oposição, não se pode renegar essa história.
Vamos pôr o Fernando Henrique Cardoso na TV para dizer o que ele fez. Vamos abraçar o seu legado. Os marqueteiros dizem que ele tem rejeição? A tucana Yeda Crusius tinha uma rejeição gigantesca no Rio Grande do Sul e a derrubou com o peito e a cara. O Lula cospe na herança de FHC. Ele reivindica méritos que não são exclusivamente deles. O próprio Bolsa-Família: ele foi aprofundado em oito anos, mas foi Ruth Cardoso quem deu início a esse tipo de programa.
Insatisfação com a campanha
Eu fico ouvindo na propaganda eleitoral aquela musiquinha horrível: "Depois do Silva, vem o Zé". Isso é crise de identidade. Eu estou me sentindo sufocado.
Falta de comunicação com Serra
Eu não consigo falar com o Serra. Eu não sei qual é o meu papel nesta eleição. O Sérgio Guerra se esforça para fazer a ponte, ele é um cara especial. Mas só estive com o Serra duas vezes, uma na casa do Geraldo Alckmin, e outra na convenção do PTB.
Roberto Jefferson quer ser respeitado
Não sou herói, mas também não sou vilão. Eu não sou bandido. Quando Serra foi ao Jornal Nacional, o William Bonner me transformou em condenado. Isso me deixa doente. O Serra reagiu de maneira constrangida. Se tem constrangimento, não me receba. No debate do UOL foi melhor, ele me defendeu. Agradeço a ele por isso.
A situação dentro do PTB
Se Dilma Rousseff ganhar, serei cobrado dentro do meu partido. Gim Argello vai crescer para cima de mim. Fernando Collor vai crescer para cima de mim. Mas vou estar de pé. Ganhar ou perder eleição é consequência da luta. Eu posso perder eleição, mas não a identidade. Eu não sou Lula. Eu não sou PT.
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