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Roberto Azevêdo diz que deixa direção da OMC para evitar mais caos

Saída do brasileiro da direção da OMC antes do planejado chega em uma fase delicada, com o comércio global passando por um dos piores momentos da história

Azevêdo: “Estou saindo porque, francamente, acho que é a melhor coisa para mim, para minha família e para a organização” (World Economic Forum/Divulgação)

Azevêdo: “Estou saindo porque, francamente, acho que é a melhor coisa para mim, para minha família e para a organização” (World Economic Forum/Divulgação)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 14 de maio de 2020 às 13h30.

Última atualização em 14 de maio de 2020 às 14h17.

Roberto Azevêdo disse que sua decisão de deixar a Organização Mundial do Comércio um ano antes é a melhor maneira de evitar mais caos na aliança, já abalada por ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelo início da recessão global.

“Estou saindo porque, francamente, acho que é a melhor coisa para mim, para minha família e para a organização”, disse Azevêdo, diretor-geral da OMC, em entrevista por telefone à Bloomberg News na quinta-feira, acrescentando que o tempo foi um fator importante na decisão. “Não estamos fazendo nada agora. Não há negociações, está tudo parado. Não há nada acontecendo em termos de trabalho normal.”

A saída de Azevêdo antes do planejado, em setembro de 2021, chega em um momento delicado para a OMC: o comércio global deve encolher para mínimas históricas e projeções apontam a pior retração econômica desde a Grande Depressão. Uma das principais funções da organização com sede em Genebra, arbitrar disputas comerciais, também foi restringida pelos Estados Unidos no ano passado.

Azevêdo, de 62 anos, disse que seria melhor renunciar antes a fim de evitar uma situação em que o processo de seleção de seu sucessor ofuscasse a próxima conferência ministerial da OMC.

Processo de sucessão

Embora a OMC ainda não tenha marcado uma data para a próxima reunião bienal, Azevêdo disse que, se ocorrer em junho de 2021, os preparativos seriam “completamente destruídos” pelo processo de sucessão.

Ele disse que isso “mataria” a reunião, que “é uma peça muito crítica para o processo de reforma da OMC e para o futuro da organização.”

E, embora as operações da OMC estejam paralisadas devido à pandemia, a organização já enfrentava dificuldades. O sistema de solução de controvérsias da OMC foi prejudicado no ano passado, depois que os Estados Unidos bloquearam todos os indicados ao órgão de apelação e membros da OMC não conseguiram concluir uma negociação comercial multilateral em meia década.

Azevêdo reconhece que sua partida repentina poderia reforçar a narrativa de uma OMC quebrada e ineficaz.

“Pode contribuir para isso”, disse. “Mas, basicamente não é verdade. Se eu ficar, o vírus desaparecerá? O vírus não desaparecerá. Se eu ficar, os Estados Unidos e a China, de repente, vão apertar as mãos e dizer: ‘OK, deixemos o passado ser passado’? Não, isso não vai acontecer. Nada vai mudar se eu ficar.”

Energia

Agora é hora de sangue novo no comando da OMC, disse Azevêdo “Espero que um novo diretor-geral injete exatamente esse tipo de energia e vigor que acho extremamente necessários.”

“O navio não está afundando”, disse. “Este navio está navegando bem e o que estou fazendo é passar o comando do navio a outra pessoa.”

Azevêdo não quis dizer quais seriam seus próximos passos, mas deixou claro que não busca carreira política no Brasil como a esposa, Maria Nazareth Farani Azevêdo, que é embaixadora do Brasil nas Nações Unidas.

“Não sei”, disse. “Vou perguntar à minha esposa.”

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