Fotojornalista Pablo Grillo, foi atingido por um projétil enquanto cobria os eventos (AFP)
Redatora
Publicado em 14 de março de 2025 às 15h10.
Última atualização em 14 de março de 2025 às 16h24.
Uma manifestação de aposentados, realizada na quarta-feira, 12, em Buenos Aires, teve desdobramentos violentos e resultou em ao menos 20 feridos, um deles em estado grave, e mais de 120 detidos. A marcha, inicialmente organizada por aposentados em protesto contra a queda do poder aquisitivo de suas pensões, contou com o apoio de torcedores de futebol e movimentos sociais, e acabou gerando intensos confrontos com a polícia.
Os manifestantes, entre os quais estavam torcedores de diversos clubes como River Plate, Boca Juniors e Racing, se concentraram nas imediações do Congresso e na Praça de Maio, onde entoaram palavras de ordem contra o governo de Javier Milei e a ministra da Segurança, Patricia Bullrich. Um dos feridos, o fotojornalista Pablo Grillo, foi atingido por um projétil enquanto cobria os eventos, o que gerou uma grande repercussão. Seu pai responsabilizou publicamente as autoridades, alegando que havia uma ordem para "matar" os manifestantes.
Além disso, durante os confrontos, um carro de patrulha e uma moto policial foram incendiados. A polícia, por sua vez, utilizou caminhões de água, gás de pimenta e balas de borracha para tentar controlar a situação. O governo de Buenos Aires confirmou que mais de 120 pessoas foram detidas durante os distúrbios, que ocorreram no início da tarde e se estenderam até a noite, quando novas manifestações e panelaços foram registrados em diferentes pontos da cidade.
Os protestos dos aposentados, que acontecem semanalmente há anos, ganharam força nos últimos meses, especialmente após o impacto das políticas econômicas de Milei, que resultaram em aumentos significativos nos preços de medicamentos e serviços essenciais. De acordo com o governo, aproximadamente 60% dos aposentados recebem o benefício mínimo, equivalente a cerca de 340 dólares (R$ 1.980), o que gerou um ambiente de insatisfação entre esse público.
Em entrevista à imprensa, o chefe de gabinete, Guillermo Francos, acusou grupos políticos de oposição de estarem por trás da violência, mencionando especificamente o kirchnerismo e a esquerda como responsáveis por financiar e organizar os atos. Segundo Francos, o objetivo dessas ações seria desestabilizar o governo e gerar caos no país. A ministra Bullrich, por sua vez, afirmou que os manifestantes estavam "preparados para matar" e que muitos deles tinham antecedentes criminais.
No cenário político, o protesto em Buenos Aires fez crescer as tensões entre governo e oposição. A manifestação se expandiu rapidamente para outros setores da sociedade, com uma crescente onda de apoio de torcedores de futebol e organizações sociais. “Isso que começou com um grupo de torcedores do Chacarita possibilitou colocar na agenda um tema que não estava sendo debatido, que é a situação dos aposentados”, comentou o cientista político Iván Schuliaquer.
O impacto social dos cortes nas pensões também foi destacado por manifestantes, como Cristina Delgado, uma aposentada de 85 anos, que comparou a atual situação à repressão sofrida durante regimes militares. "Eu passei por quatro ditaduras, mas isso aqui é pior, porque é na democracia", declarou.
Ainda na noite de quarta-feira, a Plaza de Mayo foi novamente palco de protestos, com a exigência de libertação dos manifestantes detidos e uma condenação à repressão policial. A repressão aos protestos e as acusações políticas geraram uma reação rápida da população, ampliando o debate sobre as políticas econômicas de Milei e a situação dos aposentados no país.
*Com AFP.