Eleições americanas: famílias ricas devem agir agora ou correm o risco de perder milhões de dólares, dizem consultores (Morry Gash/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 13 de outubro de 2020 às 10h06.
Famílias ricas dos Estados Unidos estão ouvindo de seus consultores que devem agir agora ou correm o risco de perder milhões de dólares.
Este seria o cenário caso o Partido Democrata reconquiste a Casa Branca e a maioria no Senado nas eleições de novembro. O ex-vice-presidente e candidato democrata Joe Biden propôs impostos substancialmente mais altos para os ricos, incluindo eliminar formas de escapar de um imposto de 40% sobre grandes fortunas.
Ao transferir bens para a próxima geração agora, os ricos podem aproveitar as generosas regras tributárias para heranças que foram introduzidas pelo presidente Donald Trump.
Mudanças na legislação tributária implementadas pelos republicanos em 2017 dobraram a quantia que as famílias ricas podem passar adiante sem pagar o imposto. O limite é de US$ 11,58 milhões para indivíduos e de US$ 23,16 milhões para casais este ano. Consultores experientes podem proteger muito mais do que isso usando técnicas de planejamento complexas — “brechas”, no entendimento de muitos democratas — que o governo Trump se recusou a banir.
“Temos recomendado que as pessoas escolham entre usar ou perder”, disse Jere Doyle, estrategista de planejamento de heranças da BNY Mellon Wealth Management. “É a era de ouro do planejamento de heranças para muita gente. Pode não haver nada parecido novamente.”
Se os americanos ricos esperarem e não fizerem nada até que o resultado das eleições fique claro, eles podem perder essa chance, afirmam os consultores.
Leva tempo para montar fundos de herança, decidir quais ativos devem ser doados e avaliar negócios e bens como obras de arte.
Planejadores e advogados esperam trabalhar bastante se acontecer uma grande vitória democrata, a chamada “onda azul”, em referência à cor associada ao partido.
“Se houver uma onda azul, as pessoas terão dificuldade até para encontrar advogados para atendê-las”, disse Edward Renn, sócio do escritório de advocacia Withers. “Haverá enorme demanda. Por isso estamos dizendo às pessoas que venham agora e que temos tempo para elas agora.”
Biden ainda não divulgou um plano tributário detalhado, mas já propôs várias maneiras de aumentar a arrecadação — quase todas voltadas para indivíduos ricos e grandes corporações — a fim de cobrir gastos extras com saúde, infraestrutura e na luta contra a mudança climática. No mês passado, a Moody’s Analytics estimou que os eventuais acréscimos de impostos por Biden — incluindo alíquotas maiores para corporações e indivíduos que ganham mais de US$ 400.000 por ano — trariam US$ 4,1 trilhões em 10 anos. A redução da faixa de isenção de imposto sobre patrimônio e doações para o patamar que estava em 2009 (US$ 3,5 milhões) resultaria em US$ 267 bilhões.
Donos de grandes fortunas já estão correndo contra o tempo.
As isenções de impostos sobre heranças estabelecidas pela legislação tributária de 2017 terminam em 2026, quando devem cair pela metade.
A ideia de doar boa parte do patrimônio a filhos e netos preocupa alguns milionários. Uma alternativa popular entre esses clientes é o fundo de acesso permanente para cônjuges (conhecido pela sigla SLAT), que permite que um indivíduo transfira sua riqueza, mas que a esposa ou marido tenha acesso ao dinheiro. Os SLATs “são o sucesso do momento, para dizer o mínimo, entre os casais”, disse Marshall Rowe, responsável por serviços para proprietários de empresas do Colony Group.