Hosni Mubarak: Egito lembra que no próximo sábado será o 3º aniversário da revolução que derrubou Hosni Mubarak (Maher Iskandar/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2014 às 11h03.
Cairo - A Anistia Internacional (AI) denunciou nesta quinta-feira que as autoridades egípcias estão reprimindo dissidentes e pisoteando os direitos humanos de um modo "sem precedentes", e que o cumprimento das reivindicações da revolução de 2011 está cada vez mais distante.
Em um novo relatório, divulgado em razão do 3º aniversário do início da revolta em 25 de janeiro, a AI lamenta que o governo egípcio tenha limitado a liberdade de expressão e reunião, introduzido "uma legislação repressiva" e dado carta branca para a polícia "agir acima da lei".
A diretora adjunta para o Oriente Médio e Norte da África da AI, Hasiba Hadj Sahraui, alertou que com essas medidas, o Egito se dirige com "passo firme rumo a um aumento da repressão e dos confrontos".
De acordo com Sahraui, as autoridades devem tomar medidas concretas para demonstrar que respeitam os direitos humanos e o Estado de direito, começando pela libertação dos presos políticos.
Se isto não acontecer, o "Egito provavelmente ficará com suas prisões abarrotadas de presos reclusos ilegalmente e com seus necrotérios e hospitais lotados com ainda mais vítimas da força arbitrária e abusiva da polícia", disse Sahraui.
Segundo a AI, as reivindicações da revolução de 2011 de dignidade e direitos humanos parecem "mais distantes que nunca" devido à repressão, à impunidade generalizada e à prisão dos principais ativistas do país.
"As autoridades devem reduzir a pressão sobre a sociedade civil e permitir os protestos pacíficos e outros meios de dissidência legítima. As políticas atuais representam uma traição a todas as aspirações da Revolução de 25 de Janeiro", ressaltou Sahraui.
O relatório, intitulado "Roteiro da repressão: não se vislumbra o fim das violações de direitos humanos", expõe a deterioração da situação dos direitos e liberdades no Egito desde a deposição do presidente Mohammed Mursi em julho de 2013.
"O Egito foi testemunha de uma série de terríveis golpes aos direitos humanos e de uma violência estatal sem precedentes nos últimos sete meses", afirmou a diretora.
O relatório acrescenta que as forças de segurança cometeram "graves violações de direitos humanos e utilizaram sistematicamente uma força excessiva, inclusive letal" contra os manifestantes.
Os número da AI apontam que desde 3 de julho de 2013, quando Mursi foi deposto, 1.400 pessoas morreram, principalmente em agosto, na evacuação dos acampamentos dos islamitas no Cairo, e milhares de membros e simpatizantes da Irmandade Muçulmana foram detidos.
Sahraui critica a utilização da luta contra o terrorismo para "justificar uma repressão generalizada que não distingue a dissidência legítima e os ataques violentos".
A organização considera que "a repressão mais nítida foi a da liberdade de expressão e reunião" e lembra a polêmica lei de protestos aprovada no final do ano passado.
"Existe um esforço para eliminar todos os observadores independentes, sejam ativistas, jornalistas ou ONGs. Trata-se de uma tentativa deliberada de dificultar o trabalho sobre os abusos cometidos pelo Estado", lamentou Sahraui.
O Egito lembra no próximo sábado, 25 de janeiro, o 3º aniversário da revolução que derrubou Hosni Mubarak, entre temores à explosão da violência pelos novos protestos convocados pelos islamitas.