Manifestantes pró-democracia encaram policiais em Hong Kong (Xaume Olleros/AFP)
Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2014 às 16h12.
Londres - A "revolução dos guarda-chuvas" começa a pesar na economia local, e ameaça o status de praça financeira internacional de Hong Kong se houver violência.
Os protestos na ex-colônia britânica se intensificaram desde domingo, e dezenas de milhares de manifestantes exigem sufrágio universal sem limites, provocando a maior crise política em Hong Kong desde que os britânicos devolveram o território à China, em 1997.
A interrupção do transporte público, o fechamento de algumas agências bancárias e a suspensão de viagens de negócios são por enquanto os efeitos dos protestos neste território do sudeste da China com sete milhões de habitantes e cuja economia tem um peso equivalente às de Chile, Filipinas e Egito.
Se os protestos se prolongarem, "o turismo e o comércio, que em conjunto representam 10% do Produto Interno Bruto do país, serão muito afetados", disse Gareth Leather, da consultoria Capital Economics, para quem Hong Kong pode sofrer uma recessão.
As consequências financeiras de um agravamento da situação concentram todos os temores, já que a ilha e seus territórios representam uma importante engrenagem do motor capitalista da região e mais além.
Centenas de bilhões de dólares são movimentados todos os dias nos mercados de divisas, de matérias-primas, no sistema interbancário e na Bolsa de Hong Kong, onde pesos pesados do setor financeiro (como HSBC), das telecomunicações (China Mobile) ou da energia (PetroChina) são negociados.
O mercado de Hong Kong é considerado o terceiro mais eficiente do mundo, atrás apenas de Nova York e Londres, de acordo com o ranking da empresa Z/Yen com sede na capital britânica, elaborado por meio de uma ampla pesquisa bianual de profissionais.
Cingapura, a beneficiada?
Esta plataforma financeira foi constituída pacientemente, em particular durante a segunda metade do século XX, pelos cidadãos de Hong Kong, pelo chineses que fugiram dos comunistas que chegavam ao poder em Pequim em 1949, pelos britânicos e outros ocidentais.
"Durante o período colonial britânico, Hong Kong foi testemunha de um período de relativa paz e prosperidade", disse o analista independente Howard Wheeldon, que cita apenas alguns poucos incidentes entre os diferentes segmentos da população.
As agitações esporádicas, no entanto, nunca ameaçaram a imagem de tranquilidade demonstrada por Hong Kong, que na encruzilhada de influência americana, soviética e chinesa durante a Guerra Fria.
A devolução da colônia à China há 17 anos não rompeu este equilíbrio apreciado pelos investidores, apesar das tensões periódicas entre as forças democráticas e os partidários da linha oficial chinesa.
Segundo Ivan Tselichtchev, professor de Economia na Universidade de Gestão de Niigata (Japão) e especialista na região, a força de Hong Kong no tabuleiro financeiro está relativamente pouco ameaçada porque "as autoridades chinesas e de Hong Kong têm poder e recursos suficientes para conter problemas significativos".
Mas, acrescenta, "estes protestos colocam em destaque o risco político associado à prática de 'um país, dois sistemas', introduzida por Pequim em 1997" para salvaguardar o sistema capitalista da economia britânica.
"O risco é estrutural, e os investidores vão pensar mais nisso", sustentou.
Tudo dependerá de como as autoridades administrarem a disputa. Pequim sabe muito bem o impacto devastador que uma imagem de repressão feroz teria sobre a economia de Hong Kong e da China em seu conjunto.
"O governo de Hong Kong provavelmente não vai tolerar por muito tempo a ocupação das principais artérias comerciais e pode permitir que a polícia utilize a força para esvaziar as ruas. E não é possível descartar o envio das forças de segurança", disse Leather, da Capital Economics.
"Tal cenário seria um golpe para a situação de Hong Kong como centro financeiro internacional, que depende da manutenção de um estado de direito, de um governo estável e de uma agradável qualidade de vida", afirma.
A cidade-Estado de Cingapura será, provavelmente, a principal beneficiada com a saída de bancos e serviços financeiros se o dano colateral da repressão também afetar a confiança em centros chineses como Shenzhen e Xangai.