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Revolta líbia contrasta com movimentos do Egito e da Tunísia

Ao contrário dos outros países africanos, regime não pôde ser derrubado através de manifestações pacíficas

Rebelde na Líbia: observadores otimistas pensaram que regime cairia rapidamente (Roberto Schmidt/AFP)

Rebelde na Líbia: observadores otimistas pensaram que regime cairia rapidamente (Roberto Schmidt/AFP)

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Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2011 às 19h29.

Cairo - A revolta popular contra Muammar Kadafi, que já é considerada uma guerra civil, contrasta com o desenlace relativamente pacífico das revoluções da Tunísia e do Egito, inspiradoras da onda de protestos contra os regimes autoritários da região.

A prisão, em 15 de fevereiro, do advogado Fethi Terbil desencadeou a revolta contra Kadafi. Os meios de comunicação pensavam que o líder líbio seria derrubado por manifestantes pacíficos, como aconteceu com os presidentes tunisiano, Zine El Abidine Ben Ali, e egípcio, Hosni Mubarak.

Mas a violência da repressão dirigida pelo regime de Kadafi ou a formação de "frentes" mostraram que, na Líbia, as coisas seriam diferentes do que o que aconteceu na Tunísia e no Egito.

"O que está acontecendo já é uma guerra civil", afirmou Arshin Adib-Moghadam, especialista em Líbia da Escola de Estudos Orientais e Africanos, de Londres. "Nenhuma das duas partes retrocede, por isso é muito provável que haja uma longa guerra de desgaste", acrescentou.

Depois da rápida deserção de chefes militares e soldados e as renúncias de ministros (Interior e Justiça) e embaixadores, alguns observadores mais otimistas chegaram a pensar que o regime viria logo abaixo.

"Mas acho que Kadafi previu que haveria deserções", explica Fred Wehrey, da americana RAND.


Essas deserções ocorreram apenas em certas regiões, em particular no leste do país, onde se concentram opositores históricos ao regime.

Bairros de Trípoli e cidades situadas ao sul da capital também tentaram revoltar-se durante as duas primeiras semanas de protestos, mas foram sufocados pelo regime, como aconteceu em Zawiya (oeste).

O "guia da revolução" despachou para Zawiya uma brigada de elite sob comando de um de seus filhos, Jamis. Médicos relataram por telefone à AFP cenas de guerrilha urbana e um "banho de sangue", com tanques disparando nas ruas.

"Parte da estratégia se baseia em instaurar um clima de terror para que a população não apoie a oposição", explica Wehrey.

"A oposição não está suficientemente equipada, mas luta com determinação. Dá a impressão de que está começando a usar táticas de guerrilha", acrescenta Adib-Moghaddam.

Para os especialistas, o conflito poderá durar um longo tempo, já que as características do território líbio e do estado das forças armadas e da insurreição impossibilitam grandes ofensivas.

"Nenhum dos dois bandos pode conquistar um território e mantê-lo. Quando se conquista um território, é preciso consolidar as posições e mantê-las de forma duradoura", indica Wehrey.

Os combates são intensos em torno das cidades das zonas petrolíferas do leste do país. Dessa forma, o regime lançou-se a conquistar a cidade de Brega, na parte oriental do país, para controlar o petróleo e "cortar" a eletricidade de Bengahzi, centro da insurreição.

Por sua parte, os insurgentes procurar cortar os recursos do líder líbio, que optou por distribuir dinheiro para a população para obter seu apoio.

"Em curto prazo, a família Kadafi tem recursos suficientes para manter o país funcionando. Não creio que possam derrubá-lo ou que ele vá renunciar por motivos econômicos", concluiu Adib-Moghadam.

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