Sede da AIEA: depois de quatro horas e meia, as partes só coincidiram em qualificar as conversas como "construtivas" (Joe Klamar/AFP)
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2013 às 14h46.
Viena - Apesar do recente otimismo criado em torno de uma possível aproximação entre o Irã e a comunidade internacional, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não conseguiu alcançar muitos resultados concretos em sua mais recente rodada de negociação com a República Islâmica, a qual foi realizada nesta sexta-feira na sede da entidade em Viena, na Áustria.
Depois de quatro horas e meia, as partes só coincidiram em qualificar as conversas como "construtivas" e anunciaram uma nova rodada de negociações para o próximo dia 28 de outubro, embora não tenham confirmado o local onde esta será realizada.
"Revisamos o que foi discutido em reuniões prévias e levaremos isso para nossa próxima reunião", declarou Herman Nackerts, chefe do departamento de controles da AIEA.
"Concordamos nos reunir novamente no dia 28 outubro, quando começaremos com debates substanciosos para resolver todos os assuntos pendentes", acrescentou.
Aliás, Nackerts participa destas negociações pela última vez, já que ele se aposentará na próxima semana e, consequentemente, será substituído pelo finlandês Tero Varjoranta, quem também esteve presente no encontro de hoje.
Da parte iraniana, o novo enviado à AIEA, Reza Najafi, também confirmou o tom construtivo das conversas e expressou sua esperança em poder chegar a um acordo "o mais rápido possível".
"Tivemos uma conversa construtiva sobre uma série de assuntos. Concordamos em dar continuidade às negociações dia 28 de outubro para seguir com nossa cooperação", manifestou o embaixador iraniano.
Apesar das declarações feitas após o encontro, nenhum conteúdo concreto desta 11ª primeira rodada de negociações entre as duas partes foi divulgado, embora a AIEA tenha reafirmado sua intenção de ampliar as inspeções em torno do programa nuclear iraniano.Vários serviços de inteligência assinalam que existem fortes indícios de que experimentos clandestinos foram realizados no Irã com o objetivo de fabricar armas nucleares.
O governo iraniano, por sua vez, rejeita todas estas alegações, mas também nega o acesso às pessoas, documentos e lugares para os analistas da AIEA esclarecerem as denúncias.
A chegada do novo presidente iraniano, Hassan Rohani, evidenciou uma mudança de linguagem e tom por parte de Teerã, o que aumentou a esperança de um possível acordo dialogado solucionar esse impasse nuclear.
Os Estados Unidos reconheceram a possibilidade desse acordo, que, diante das boas intenções de Rohani e de sua nova equipe negociadora, pode ser concretizado em questão de meses.
Ontem, em Nova York, as seis potências do chamado grupo 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) se encontraram com o Irã - pela primeira vez em categoria de ministros das Relações Exteriores - para pactuar uma nova rodada formal de negociações, a qual será realizada entre os dias 15 e 16 de outubro em Genebra.
Nesse encontro, as autoridades deverão analisar a possibilidade de um acordo mais amplo para solucionar o conflito nuclear, enquanto os aspectos mais técnicos da inspeção internacional serão tratados em Viena.
"Dou boas-vindas à evolução (positiva) vista em Nova York, mas trata-se de um caminho diferente e independente do que nós fazemos aqui", declarou Naeckerts após o encontro de hoje.
A comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE), tem dúvidas sobre a natureza do programa nuclear do Irã, fato que forçou o Conselho de Segurança da ONU ditar quatro rodadas de sanções diplomáticas, políticas, nucleares e econômicas contra a República Islâmica.
A ONU exige que o Irã suspenda suas atividades atômicas mais delicadas, como o enriquecimento de urânio e a construção de um reator de água pesada, com capacidade para produzir plutônio. Essas duas substâncias, o urânio altamente enriquecido e o plutônio, servem de base para fabricação de bombas nucleares.
Durante seu discurso na Assembleia geral das Nações Unidas, Rohani destacou que seu país não visa a construção de armas atômicas, embora tenha ressaltado que não pensa em renunciar ao seu direito de ter acesso a todos os aspectos da tecnologia nuclear.