Mundo

Reunião do Mercosul começa nesta segunda sem resposta para acordo com a União Europeia

A cúpula contará com a presença do presidente anfitrião, o argentino Alberto Fernández, e seus colegas do Uruguai, Luis Lacalle Pou; do Paraguai, Mario Abdo; e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva

Mercosul: Fundado em 1991, o Mercosul chega à cúpula em meio a um novo capítulo de tensões causadas pelas assimetrias entre os parceiros (Mtcurado/Getty Images)

Mercosul: Fundado em 1991, o Mercosul chega à cúpula em meio a um novo capítulo de tensões causadas pelas assimetrias entre os parceiros (Mtcurado/Getty Images)

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 3 de julho de 2023 às 07h05.

Última atualização em 3 de julho de 2023 às 08h48.

Os países do Mercosul se reúnem nesta segunda-feira, 3, em Puerto Iguazú, na Argentina, para o primeiro dia do encontro entre os presidentes membros do bloco. A reunião acontece sem que um projeto detalhado para contrapor as exigências ambientais da União Europeia nas negociações do acordo de livre-comércio tenha sido firmado, enquanto crescem as insatisfações do Uruguai com o bloco sul-americano.

A cúpula contará com a presença do presidente anfitrião, o argentino Alberto Fernández, e seus colegas do Uruguai, Luis Lacalle Pou; do Paraguai, Mario Abdo; e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que receberá a presidência "pro tempore" do bloco até o final do ano na terça-feira.

Ausente das decisões dos chefes de Estado estará, porém, um dos assuntos mais importantes da agenda do Mercosul hoje: uma resposta detalhada às novas exigências ambientais da Europa. Desde seu vazamento em março, elas criaram uma nuvem de desconfiança mútua e colocam em dúvida qualquer conclusão do acordo Mercosul-UE alcançado em 2019.

"Estamos muito próximos de apresentar nossas avaliações aos parceiros do Mercosul", disse o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Mauricio Carvalho, embora seja improvável que se vá chegará a conclusões a tempo de Puerto Iguazú.

Lula tem liderado as críticas ao bloco europeu de 27 países por formular uma série de exigências ambientais adicionais relacionadas ao setor agropecuário e estabelecer sanções pelo descumprimento de vários compromissos do Acordo de Paris sobre o clima de 2015.

"Não é possível que tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo ameaça a um parceiro estratégico", disse o presidente brasileiro durante um fórum em Paris sobre financiamento da luta contra a mudança climática.

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o chefe de governo alemão, Olaf Scholz, estavam presentes na audiência, entre outras autoridades europeias.

Acordo Mercosul e UE emperrado

Depois de mais de 20 anos de duras negociações, UE e Mercosul alcançaram um acordo de livre-comércio em 2019, que ficou paralisado devido à resistência dos setores agrícolas de alguns países europeus.

A investida de Lula contra as novas demandas europeias parece ofuscar o otimismo da UE em concluir o acordo este ano, expressado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em sua turnê pela América Latina neste mês, que incluiu Buenos Aires e Brasília.

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, admitiu nesta semana que o novo documento "não foi bem recebido" pelos países sul-americanos e disse que a Europa ainda espera uma "resposta concreta" às suas solicitações.

Lula abriu, por sua vez, outra frente, assegurando que o Brasil "não cederá" em proteger sua indústria local nas compras governamentais. Segundo o acordo, elas ficariam abertas em igualdade de condições para empresas europeias.

Seu governo persiste em manter as negociações. A principal economia latino-americana deseja alcançar um "bom resultado equilibrado e adequado as duas partes", afirmou Carvalho.

Para Bruno Binetti, especialista em assuntos internacionais do think tank americano Inter-American Dialogue, o máximo que pode sair da cúpula é "uma agenda concreta perante a UE" com "exigências". "Mas não acredito que estejamos nessa etapa", disse à AFP.

Na reunião, também estarão presentes autoridades da Bolívia, país em processo de adesão ao Mercosul, e representantes dos Estados associados, que abrangem toda a América do Sul - exceto a Venezuela, que está suspensa.

Insatisfação do Uruguai

Fundado em 1991, o Mercosul chega à cúpula em meio a um novo capítulo de tensões causadas pelas assimetrias entre os parceiros. O Uruguai, a menor economia juntamente com o Paraguai, mostra um crescente incômodo dentro do bloco.

O governo de centro-direita de Luis Lacalle Pou avança em direção a um acordo de livre-comércio com a China e solicitou a adesão ao Acordo Transpacífico, sem o consentimento dos demais parceiros.

Este mês, o chanceler Francisco Bustillo colocou a necessidade de "mudar o status" do Uruguai no Mercosul, argumentando que "não há interesse do Brasil, da Argentina, nem do Paraguai de aprofundar e avançar no esquema de integração".

Após Puerto Iguazú, os sul-americanos terão outro encontro com os europeus. A UE e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) farão uma cúpula em 17 e 18 de julho, em Bruxelas, a primeira em oito anos.

Acompanhe tudo sobre:MercosulLuiz Inácio Lula da SilvaUnião Europeia

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru