Nigel Farage e Jean Claude Juncker: líder eurocético e presidente da Comissão Europeia se cumprimentam antes do início da reunião (Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 28 de junho de 2016 às 12h48.
São Paulo – A reunião emergencial para debater a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o Parlamento Europeu contou com a visita surpresa de Nigel Farage, líder do Ukip, partido eurocético e de direita.
Durante o encontro no qual os deputados do Parlamento aprovaram uma resolução para que Londres esclareça os termos da sua saída do bloco, a aparição de Farage causou vaias e constrangimento.
Enquanto o presidente da Comissão Europeia Jean Claude Juncker abria a sessão, lamentando a decisão dos britânicos, mas deixando claro que o bloco respeitará o processo democrático, Farage aplaudiu sozinho.
Essa é a última vez que você está aplaudindo aqui, disse Juncker visivelmente irritado. Estou surpreso que você tenha aparecido aqui. Você está lutando pela saída, o povo britânico votou pela saída. Por que você está aqui?
Nigel Farage slow-claps Jean-Claude Juncker, who asks why the UKIP MEP is at European Parliament following Brexithttps://t.co/mNEUBN8ut4
— ITV News (@itvnews) 28 de junho de 2016
Mas aí chegou a vez do líder do Ukip tomar os microfones, e holofotes, no Parlamento. Em meio a vaias, desferiu ironias e ofensas aos deputados presentes. Sei que nenhum de vocês teve um trabalho adequado durante a vida, trabalhou em negócios ou comércio ou mesmo criou um emprego, disse Farage.
Nesse momento as vaias se tornaram ainda mais duras e foi necessária a intervenção do alemão Martin Schulz, o presidente do Parlamento. Sei que vocês estão agitados, mas vocês estão agindo, mas vocês estão agindo como os membros do Ukip, então, por favor, não os imitem. Senhor Farage, você não pode dizer que ninguém aqui fez um trabalho decente.
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A palavra voltou a Farage, que seguiu expondo os argumentos que justificam a saída britânica do bloco europeu e tentou convencer os parlamentares a aceitarem debater acordos bilaterais entre o país e a UE. As consequências (de não haver acordo) será pior para vocês do que para nós, desafiou o conservador, novamente vaiado.
O resultado do referendo da semana passada foi recebido com surpresa no mundo. Enquanto David Cameron renunciava ao posto de primeiro-ministro, Escócia anunciava a intenção de realizar um novo plebiscito sobre a sua independência e visando a permanência no bloco.
A libra atingiu o seu menor nível em 31 anos e agências de risco começaram a esfaquear as notas de crédito do Reino Unido, começando pela Standard & Poor’s, que reduziu a nota de AAA para AA, sendo então seguida pela Fitch, que reduziu de AA+ para AA.
As consequências desse movimento britânico para o país e para a UE ainda não estão claras, tampouco está claro quando, afinal, o governo acionará o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, o acordo que rege a união entre os europeus.
Do seu lado, a UE segue firme cobrando que o país inicie o seu processo o quanto antes e já reforçou que não fará quaisquer negociações informais com os britânicos enquanto o artigo não for invocado.