A ativista do clima, Greta Thunberg: em 2019, adolescente fez milhões de jovens se juntarem à sua iniciativa "Sextas-feiras pelo futuro" (Picture Alliance/Getty Images)
AFP
Publicado em 31 de dezembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 31 de dezembro de 2019 às 07h00.
São Paulo - Protestos e crises políticas de todos os tipos, ondas de calor excepcionais, Brexit e o processo de impeachment contra Donald Trump são alguns dos eventos que marcaram 2019. Abaixo, confira uma restrospectiva dos principais acontecimentos do ano em todo o mundo.
Em janeiro, o opositor venezuelano Juan Guaidó se proclama presidente interino e exige a saída de Nicolás Maduro, cuja reeleição é contestada em um país atolado em colapso econômico e uma grave crise humanitária. Guaidó é reconhecido 50 países, incluindo Brasil e Estados Unidos. Apoiado pelo Exército, Maduro permanece no poder.
No Haiti, dezenas de pessoas morreram desde meados de setembro em protestos pela renúncia do presidente Jovenel Moïse motivados pela escassez de combustível.
Em outubro, o Equador fica paralisado quase duas semanas após protestos pelo cancelamento dos subsídios aos combustíveis.
No Chile, o Parlamento decide, em meados de novembro, lançar um referendo para rever a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), após um mês de manifestações violentas contra as desigualdades socioeconômicas que deixaram cerca de vinte mortos e mais de 2.000 feridos.
A Bolívia cancela em 24 de novembro a polêmica reeleição do presidente Evo Morales, após quatro semanas de protestos, que causaram dezenas de mortes e acusações de fraudes nas urnas. Abandonado pela polícia e pelo exército, o primeiro presidente indígena do país renuncia em 10 de novembro, a pedido das Forças Armadas, e decide se asilar no México, denunciando o que chamou de golpe de Estado.
Na Colômbia, o presidente de direita Iván Duque também enfrenta protestos atípicos desde o dia 21 de novembro, com três greves nacionais e manifestações em massa.
Em 22 de fevereiro, começam na Argélia manifestações maciças contra a candidatura ao quinto mandato de Abdelaziz Buteflika, bastante enfraquecido desde que sofreu um acidente vascular cerebral em 2013.
Em 2 de abril, o presidente renuncia sob a pressão das ruas e do Exército. No entanto, os argelinos continuam manifestando-se , determinados a se livrar de todo o "sistema" estabelecido desde a independência em 1962.
Em 11 de abril, no Sudão, Omar Al Bashir, no poder há 30 anos, é derrubado pelo Exército após quatro meses de um movimento popular desencadeado pela triplicação do preço do pão. Em agosto, um Conselho de Transição é estabelecido.
No Iraque, um protesto social contra a corrupção, o desemprego e o declínio dos serviços públicos começa em 1º de outubro, antes de se tornar uma grave crise política. No início de dezembro, mais de 420 pessoas morreram nos protestos e milhares ficaram feridas.
No Líbano, em 17 de outubro, o anúncio de um imposto - posteriormente suspenso - em chamadas feitas por meio do serviço de mensagens WhatsApp provoca uma forte reação popular e a demissão do primeiro-ministro, Saad Hariri. Os manifestantes continuam a exigir a saída de toda a classe política, considerada corrupta e incapaz de acabar com a estagnação econômica.
O Irã é palco de vários dias de agitação em meados de novembro, após o aumento no preço da gasolina. As autoridades relatam cinco mortes, mas de acordo com a Anistia Internacional, foram mais de 200.
Em 27 de outubro, Donald Trump anuncia a morte do líder do grupo do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al Baghdadi, durante uma operação militar dos EUA no noroeste da Síria.
Al-Baghdadi, considerado responsável por vários abusos e atrocidades no Iraque e na Síria e ataques sangrentos, detonou os explosivos que levava consigo e morreu no vilarejo onde estava escondido.
No final de março, as forças árabe-curdas, auxiliadas pelos Estados Unidos, se apoderam de Baghuz, a última fortaleza síria do EI, selando o fim do califado. Mas ainda existem células adormecidas em toda a Síria e em outros países do mundo.
Em meados de março, as aeronaves 737 MAX, da fabricante americana Boeing, ficam paradas em solo após dois acidentes envolvendo a Lion Air e a Ethiopian Airlines, com um total de 346 mortos.
O sistema automático para impedir que o avião caia é questionado e a crise já custou cerca de US $ 10 bilhões à fabricante, que enfrenta processos das vítimas e investigações das autoridades americanas.
No final de dezembro, a empresa anuncia a demissão de Dennis A. Muilenburg e que David Calhoun, veterano da indústria e especialista em crises, assumiria o posto.
A Espanha chega ao final do ano exausta politicamente após duas eleições gerais em abril e novembro, ambas vencidas pelo Partido Socialista que, no entanto, não atinge a maioria para formar um governo. Foram quatro eleições em quatro anos.
Entre as duas eleições, em 14 de outubro, o Supremo Tribunal espanhol condena nove líderes da independência catalã a sentenças que podem chegar a 13 anos de prisão por tentativa de secessão em 2017.
Esse veredicto desencadeia uma reação violenta dos cidadãos na Catalunha que se traduz em protestos maciços que se estendem por vários dias e frequentemente terminam em duros confrontos entre manifestantes e policiais.
A saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), decidida pelos britânicos em um referendo em 2016 e inicialmente previsto para 29 de março de 2019, foi adiada três vezes. Agora, ao que tudo indica, finalmente acontecerá no dia 31 de janeiro de 2020.
Em 2019, os britânicos demoraram a chegar a um acordo sobre as condições do divórcio. Os deputados rejeitam primeiro um acordo alcançado com a UE pela primeira-ministra Theresa May e depois um segundo texto negociado por seu sucessor, Boris Johnson, que consegue aprovar a realização de eleições antecipadas para 12 de dezembro. Após se consagrar vitorioso, Boris faz o acordo passar entre os parlamentares em dezembro.
Em 15 de abril, o telhado e a estrutura da Catedral de Notre Dame, em Paris, são devastados por um incêndio. Os bombeiros conseguem salvar o edifício gótico. Uma corrente humana extrai quase todos as obras e relíquias.
O incêndio em um dos monumentos mais visitados da Europa causa uma comoção mundial, resultando em 922 milhões de euros em promessas de doações para sua reconstrução, que levará anos.
Em abril, uma equipe internacional de cientistas revela a primeira imagem de um buraco negro. Trata-se de um círculo escuro no meio de um halo flamejante, no centro da galáxia M87, a cerca de 50 milhões de anos-luz de distância da Terra.
Em maio, Teerã começa a se dissociar do acordo internacional de 2015 sobre seu programa nuclear, em resposta à retirada dos EUA do pacto, em 2018, e à restauração de sanções.
A tensão entre Washington e Teerã aumenta após sabotagem e ataques de navios no Golfo, atribuídos ao Irã, que nega.
Em 14 de setembro, os rebeldes huthis iemenitas, apoiados por Teerã, reivindicam ataques à infraestrutura de petróleo na Arábia Saudita.
Em 7 de novembro, o Irã retoma as atividades de enriquecimento de urânio em sua planta subterrânea de Fordo (180 km ao sul de Teerã).
Desde junho, Hong Kong sofreu a crise mais séria desde a sua devolução para a China, em 1997, com manifestações quase diárias cada vez mais violentas contra a crescente interferência de Pequim e por reformas democráticas.
Em 24 de novembro, os candidatos pró-democráticos obtêm uma vitória esmagadora nas eleições locais.
Julho de 2019 é o mês mais quente da história recente, com registros de altas temperatura na Europa e no Polo Norte. Em agosto, a Islândia se despede de sua primeira geleira extinta, enquanto outras 400 estão ameaçadas.
Em agosto e setembro, incêndios são registrados em regiões inteiras da Amazônia devido ao desmatamento, o que causa fortes críticas à política do presidente Jair Bolsonaro.
A Austrália enfrenta incêndios sem precedentes em novembro.
A jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg faz milhões se juntarem à sua iniciativa "Sextas-feiras pelo futuro" (Friday for the Future), na qual jovens estudantes fazem greve nesse dia da semana para protestar contra as mudanças climáticas.
No início de agosto, os Estados Unidos abandonam o tratado sobre armas nucleares de alcance intermediário (INF), concluído durante a Guerra Fria com Moscou.
O presidente Donald Trump anuncia que está se retirando do norte da Síria, formaliza a saída do acordo de Paris sobre o clima e inicia uma guerra comercial com seus parceiros, em particular a União Europeia e a China, cuja economia desacelera consideravelmente.
A oposição democrata nos Estados Unidos inicia em 24 de setembro um procedimento para o impeachment de Donald Trump, suspeito de abuso de poder por pedir à Ucrânia que investigue o democrata Joe Biden, um possível oponente nas eleições presidenciais de 2020.
Em audiências públicas, testemunhas, incluindo vários diplomatas, apresentam numerosos elementos de acusação contra o presidente.
Em 5 de dezembro, a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, formaliza o pedido de redação das acusações para submeter Trump a um julgamento político, alegando que seu abuso de poder para seu próprio benefício político "não nos deixa outra opção a não ser agir".
Em um tuíte, a porta-voz de Trump, Stephanie Grisham, diz que "os democratas deveriam estar envergonhados" do processo de destituição contra um presidente que "não fez nada além de liderar nosso país".
"Esperamos um julgamento justo no Senado", concluiu a porta-voz. De fato, espera-se que maioria republicana no Senado barre o impeachment.
Em 9 de outubro, a Turquia lança uma ofensiva contra a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), um aliado dos ocidentais na luta antijihadista, mas descrita como "terrorista" por Ancara devido a seus vínculos com o Partido da Trabalhadores do Curdistão (PKK).
A operação, iniciada após Donald Trump anunciar a retirada das tropas americanas do norte da Síria, provoca protestos internacionais.
Ancara, que deseja estabelecer uma "zona segura" no norte da Síria para instalar dois milhões de refugiados sírios na Turquia, encerra sua ofensiva em 23 de outubro, após dois acordos negociados em separado com os Estados Unidos e a Rússia.
Desde 5 de dezembro, a França enfrenta um grande conflito social contra o projeto de reforma previdenciária, com uma enorme greve nos transportes públicos.
O governo quer fundir os 42 regimes de pensão existentes em um sistema "universal", suprimindo os regimes especiais com o do metrô de Paris e da companhia ferroviária da SNCF.
A crise se soma ao movimento dos Coletes Amarelos, iniciado no final de 2018, que às vezes resulta em níveis significativos de violência.
Onze pessoas morreram desde o início dos protestos, enfraquecidas ao longo dos meses, e milhares foram feridas.
Nos Estados Unidos e na Europa, os gigantes da Internet Google, Apple, Facebook e Amazon, criticados por abusos em torno da proteção de dados pessoais ou por suspeitas de monopólio (mercado de publicidade, pesquisa on-line, comércio eletrônico), são alvo de investigações, ameaças de desmantelamento e multas (US$ 5 bilhões para o Facebook nos Estados Unidos).
As gigantes da web enfrentam a mídia pela distribuição do conteúdo da imprensa que recuperam, capturando a maior parte da receita de publicidade on-line.
Na França, o Google e o Facebook se recusam a pagar à imprensa "direitos relacionados", um mecanismo autorizado de compartilhamento de receita através da transposição de uma diretriz europeia adotada no final de março.