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Retrocesso de Trump pode castigar setor privado de Cuba

Segundo especialistas, as medidas anunciadas hoje (16) atacarão as duas únicas fontes de crescimento que a ilha tem atualmente

Cuba: em 2016 chegaram à ilha 284.937 visitantes dos EUA (foto/Getty Images)

Cuba: em 2016 chegaram à ilha 284.937 visitantes dos EUA (foto/Getty Images)

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AFP

Publicado em 16 de junho de 2017 às 21h52.

Com suas novas restrições ao comércio e às viagens a Cuba, Donald Trump tenta atingir as finanças do regime de Raúl Castro, mas corre o risco de enfraquecer o nascente setor privado, muito dependente do turismo, alertam analistas.

Além das sanções comerciais contra as Forças Armadas cubanas, Trump anunciou novas restrições às viagens de americanos à ilha, que seu antecessor Barack Obama havia flexibilizado com a histórica aproximação iniciada no final de 2014 com o antigo inimigo da Guerra Fria.

O retrocesso também preocupa muitas companhias americanas, como a rede de hotéis Starwood, que inaugurou há um ano um Sheraton em Cuba.

Especialistas consultados pela AFP preveem uma queda nos Estados Unidos nas reservas de passagens de avião, de cruzeiros e de hotéis para visitar a ilha.

"Para a economia cubana e o setor privado essa mudança representa um duro golpe", avaliou Michael Shifter, presidente de Diálogo Interamericano, think tank com sede em Washington.

"As novas medidas vão atacar as duas únicas fontes de crescimento que atualmente tem a economia cubana: o turismo e o setor privado", destacou o economista cubano Pabel Vidal, da Universidade Javeriana de Cali, Colômbia.

Carta a Ivanka

Em uma carta enviada nesta semana à filha mais velha e assessora do presidente, Ivanka Trump, um grupo de 55 empreendedoras cubanas alertaram que "um retrocesso nas relações (entre Cuba e Estados Unidos) traria consigo a quebra de muitos (...) negócios" privados e o "sofrimento de todas as famílias que dependem deles".

Cerca de 300.000 americanos visitaram a ilha durante os primeiros cinco meses de 2017, o que representa um crescimento de 145% em relação ao ano anterior.

Em 2016 chegaram à ilha 284.937 visitantes dos Estados Unidos, 74% a mais do que em 2015.

Estas cifras são ainda limitadas em comparação com os quatro milhões de turistas que visitaram Cuba no ano passado, mas de acordo com a pesquisa do instituto norte-americano Estratégias de Opinião Pública, mais de 75% dos americanos que viajam à ilha se hospedam em casas privadas e 99% comem em restaurantes privados, popularmente chamados de "paladares".

O crescimento dos pequenos negócios privados, autorizados nos últimos anos pelo governo de Raúl Castro, "a demanda turística vinha crescendo, que em parte crescia devido ao fluxo de turistas americanos. Se esse fluxo for controlado e a demanda se retrair, negócios privados seriam duramente afetados", explicou Vidal.

E nada indica até o momento que esses efeitos possam ser mitigados pelos esforços anunciados pela Casa Branca de "estimular o livre-comércio" em Cuba.

"Uma redução do turismo dos Estados Unidos seria claramente um golpe não só para os táxis, mas para todos os negócios privados", declarou à AFP Carlos Alberto González, um taxista privado de 23 anos.

Contraproducente

Ao proibir qualquer comércio com o poderoso Grupo de Administração Empresarial (Gaesa, uma holding estatal controlada pelas Forças Armadas Revolucionárias), Trump tenta sancionar os militares, um pilar do governo Castro.

A Gaesa controla desde os anos 1990 amplos setores econômicos do país e em especial do turismo, que se tornou o motor da economia da ilha.

O golpe de Trump ao exército cubano, opinam analistas consultados, poderia deprimir ainda mais a economia que retrocedeu em 2016 (-0,9% do PIB), devido à queda dos envios de petróleo de sua aliada Venezuela.

"As companhias sob controle militar hoje são decisivas para operar os serviços turísticos. Caso restrinja-se sua capacidade para receber investimentos externos e operar pagamentos internacionais, a economia certamente sofrerá", advertiu Vidal.

No entanto, grande parte da economia estatal de Cuba fica fora do alcance das medidas de Trump, pois não é administrada pelas Forças Armadas, como é o caso do níquel, serviços médicos, rum, tabaco e produtos farmacêuticos.

Para Vidal, as medidas tomadas por Trump são "contraproducentes, pois afetam diretamente o povo de Cuba e não ajudam a promover as mudanças econômicas, sociais e políticas".

Pelo contrário, acrescenta Shifter, "essas medidas podem reforçar (os partidários da) a linha-dura em Cuba, pelo menos no curto prazo", em um momento em que Raúl Castro, de 86 anos, pretende passar em fevereiro do ano que vem a presidência a uma nova geração do Partido Comunista de Cuba (único).

À espera de uma reação do governo cubano, o jornal oficial Granma lamentou que Trump tenha optado por "um retorno à Guerra Fria".

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