Guerra: Ucrânia abre nova frente no território russo (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 8 de abril de 2025 às 10h09.
Última atualização em 8 de abril de 2025 às 10h25.
O Ministério da Defesa da Rússia anunciou nesta terça-feira, 8, que suas tropas reconquistaram a vila de Guyevo, localidade na região de Kursk que estava sob controle do Exército ucraniano desde a ofensiva lançada no ano passado, que Moscou reverteu quase que completamente.
O novo avanço russo foi confirmado no dia seguinte ao anúncio do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de que seus soldados abriram uma nova frente de guerra na região russa de Belgorod, também na fronteira, em uma tentativa de conseguir algum ganho territorial que possa repercutir em uma condição mais favorável durante a negociação de um possível cessar-fogo.
As disputas na fronteira entre Rússia e Ucrânia acontecem em um momento em que as negociações de cessar-fogo abertas pelos EUA parecem ter ficado em segundo plano, após o avanço inicial de Donald Trump para levar as partes à mesa de negociação. Apesar do compromisso de Kiev e Moscou sobre a suspender ataques a infraestruturas civis e a embarcações no Mar Negro — embora haja acusações mútuas de violação —, não há um caminho trilhado para o fim do conflito.
Enquanto as tropas russas avançam sobre Kursk, que já teve cerca de 1,3 mil km² de território ocupado por soldados ucranianos, na maior maior invasão de um Exército estrangeiro à Rússia desde a Segunda Guerra Mundial, as atenções de Moscou se voltam para a região ucraniana de Sumy, onde realizou incursões nas últimas semanas.
Em contrapartida, Kiev tenta criar uma nova frente de pressão sobre solo russo. O presidente Zelensky confirmou na segunda-feira que os seus soldados já estão realizando incursões na região de Belgorod, vizinha a Kursk e também na fronteira com a Ucrânia. Muitos dos soldados que combatem no novo front, em determinado momento estiveram em Kursk, mas foram forçados a recuar diante do avanço russo.
Um dos regimentos ucranianos envolvidos na operação em Belgorod é a 47ª Brigada Mecanizada, a primeira composta inteiramente por militares ucranianos treinados por países da Otan, equipada com armamento ocidental. Diferentemente de Kursk, onde os ucranianos têm recuado às pressas e sofrido muitas baixas, em Belgorod eles estão no ataque — um alívio moral para as tropas semelhante ao sentido em agosto passado, nos estágios iniciais da invasão em Kursk.
— Só os russos estão divulgando nossos avanços em Belgorod, e estão falando a verdade. Nosso Estado-Maior não fala nada porque o sucesso da operação depende da confidencialidade — disse Vasili, operador de artilharia da 47ª Brigada, ao El País.
Os desdobramentos da guerra preocupam Washington, que desde o retorno de Trump à Casa Branca tem tentado encaminhar a capitulação do conflito. Em uma declaração a jornalistas na segunda-feira, o presidente afirmou estar descontente com os bombardeios russos sobre a Ucrânia.
— Assim que estamos nos reunindo com a Rússia, estamos nos reunindo com a Ucrânia, e estamos nos aproximando mais ou menos, mas não estou contente com todo o bombardeio que está acontecendo na última semana. É algo horrível — disse o republicano.
Horas antes de Trump conversar com jornalistas, o Kremlin havia dito que apoia a ideia de uma trégua na Ucrânia, mas que tinha muitas "perguntas" sobre como funcionaria esse acordo, e rechaçou insinuações americanas e europeias de que estava prolongando as conversas sobre paz para ganhar tempo.
Os serviços de inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia asseguram que Vladimir Putin quer ver as regiões russas livres de forças ucranianas antes do dia 9 de maio — data em que se celebra a vitória soviética sobre a Alemanha nazista, uma ocasião de grande simbolismo patriótico para os russos, que dizem avançar com a “operação militar especial” para “desnazificar” a Ucrânia. Kiev, no entanto, decidiu que fará o possível para atrapalhar o objetivo.