Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, durante comício em Caracas (Yuri Cortez/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 29 de julho de 2024 às 11h36.
O presidente Nicolás Maduro declarou vitória nas eleições da Venezuela, realizadas no domingo, 28. A oposição, no entanto, não reconheceu o resultado, assim como vários países no exterior.
Segundo dados do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), com 80% dos votos apurados, Maduro teve 51% dos votos, ante 44% de Edmundo González, principal nome da oposição.
O resultado foi questionado porque a oposição diz não ter conseguido acesso aos dados detalhados da apuração, como as atas de votação geradas em cada seção eleitoral.
Nas horas seguintes, vários países e entidades questionaram o resultado e pediram transparência, incluindo Estados Unidos, União Europeia, Argentina e Chile. Veja a seguir o que pode acontecer agora, e outras respostas sobre a situação.
As medidas mais esperadas são novas sanções: uma lista de vetos a negócios envolvendo a Venezuela.
Além disso, pode haver um maior isolamento da Venezuela na região, como o fim de relações diplomáticas e comerciais e a retirada de embaixadores de Caracas. O Peru, por exemplo, chamou seu embaixador em Caracas para consultas.
No entanto, há dúvidas se o constrangimento internacional poderá ter efeitos práticos, pois Maduro já lidou com isso em outras eleições. Em 2018, a oposição questionou a vitória de Maduro, que disputava a reeleição, e não o reconheceu como presidente.
Naquele ano, diversos países, incluindo Estados Unidos, Brasil e União Europeia, não reconheceram a vitória de Maduro.
Em seguida, Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, se declarou como presidente interino. Ele foi reconhecido como presidente por vários países, incluindo o Brasil e os Estados Unidos, mas não conseguiu assumir de fato o controle do país. Maduro resistiu no poder, com apoio dos militares.
Em resposta, os Estados Unidos e a União Europeia aplicaram mais sanções contra a Venezuela. As medidas dificultaram a situação econômica do país e do governo Maduro, mas ele resistiu no poder.
Maduro tem apoio da Rússia e conseguiu manter negócios com a China, Irã e Cuba, o que ajuda o país a conseguir vender petróleo ao mercado externo e, assim, aliviar os efeitos das sanções.
A oposição disse que não conseguiu obter acesso aos dados completos da votação, como as atas de todas as seções eleitorais.
Líderes de oposição, como Maria Corina Machado, disseram que obtiveram cerca de 40% das atas e que, nelas, Edmundo González vence com 70% dos votos.
Houve muitos relatos de intimidação, com policiais ou homens armados tentando impedir que membros da oposição acompanhassem a contagem de votos nas seções eleitorais, algo que a lei venezuelana permite.
Edmundo González e Maria Corina Machado, os principais líderes da oposição, disseram ter vencido as eleições e que vão provar isso a partir da divulgação das atas detalhadas.
No entanto, não está claro se o CNE fará a divulgação desses dados, e nem como a oposição poderá pressionar o órgão a fazer isso.
Até a manhã desta segunda, a oposição não havia convocado protestos no país.
Rússia, China, Cuba, Honduras, Nicarágua e Bolívia cumprimentaram Maduro publicamente pela vitória.
Brasil, Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Itália, Argentina, Chile, Uruguai, Panamá e Peru, entre outros, divulgaram notas pedindo transparência na divulgação dos resultados, sem reconhecer a vitória de Maduro.
Em nota na manhã desta segunda, 29, o Itamaraty disse que acompanha o processo com atenção e que aguarda a divulgação dos resultados detalhados da votação.
Com isso, o Brasil faz pressão sobre Maduro, por não reconhecer rapidamente o resultado divulgado por seu governo e cobrar publicamente os dados detalhados da votação, algo que o governo venezuelano não disse se irá fazer.
Maduro comemorou a vitória e disse que quer dar início a um "grande diálogo nacional" para buscar novos consensos, e que convocará todos os setores da economia e da política do país.
"Na Venezuela, haverá paz, estabilidade, respeito à lei e à Justiça", disse.