Oficiais carregam caixas metálicas envolvidas pela bandeira americana durante a transferência dos restos mortais de vítimas não identificados do 9/11 (Reuters/Eric Thayer)
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2014 às 12h28.
Milhares de restos mortais não identificados de vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York foram transferidos neste sábado, em uma cerimônia discreta, para o Marco Zero, o local onde ficavam as Torres Gêmeas, transformado agora em memorial e museu.
A transferência foi criticada por algumas famílias de vítimas, que consideraram um "insulto" que os possíveis restos mortais de parentes tenham sido colocados em um espaço sob a terra no museu do 11/9, construído no local dos ataques que deixaram quase 3.000 mortos.
A transferência aconteceu com um cortejo sóbrio de 15 veículos, que partiu durante o início da manhã da sede o Instituto Médico Legal de Nova York, na zona leste de Manhattan.
Veículos do Departamento de Polícia, carros dos Bombeiros e caminhonetes da Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey integraram o cortejo, que chegou pouco depois das 7H00 (8H00 de Brasília) ao local do museu e memorial no sudoeste de Manhattan.
Os restos mortais foram transportados em "caixas metálicas retangulares para traslados militares, envolvidas pela bandeira americana", disse à AFP o porta-voz da polícia, Carlos Nievas.
Convidados pelas autoridades, alguns parentes das vítimas que aprovaram a transferência se aproximaram do prédio.
Das 2.753 pessoas declaradas desaparecidas no World Trade Center (WTC), 1.115 não foram identificadas, o que representa quase 40% do total, segundo as autoridades de Nova York.
O governo recuperou 21.906 restos mortais na área dos atentados, mas 7.930 não coincidiram com nenhuma das mostras de DNA fornecidas por familiares das vítimas.
"Sacrilégio" para algumas famílias
O novo local de descanso dos restos mortais fica a 20 metros de profundidade e o público não terá acesso. Permanecerá controlado pelo Instituto Médico Legal de Nova York.
Mas um grupo de parentes protestou fora do prédio contra a decisão da prefeitura, considerada um "insulto" e um "sacrilégio".
"A cidade se negou a perguntar entre as famílias das vítimas para conhecer sua opinião porque sabem que a maioria está contra este plano", afirmou Sally Regenhard, vice-presidente da Associação de Pais e Famílias de Bombeiros e Vítimas do 11/9 no WTC.
"Queremos um local separado e diferenciado no prédio. Há espaço suficiente", completou a mulher, que perdeu o filho Christian nos atentados.
Rosaleen Tallon, irmã do bombeiro Sean Tallon, que morreu nos ataques, afirmou que os "restos humanos são sagrados, identificados ou não", e que é "muito duro" explicar aos filhos a decisão da prefeitura.
A prefeitura enviou na semana passada uma carta aos familiares que anunciava a transferência, que segundo o texto seria realizada de "maneira respeitosa e digna".
Para Charles G. Wolf, que perdeu a esposa Katherine nos atentados e esteve no prédio durante a transferência, as autoridades "fizeram o que era correto".
"Me senti orgulhoso cuando vi os caixões com a bandeira americana" disse à AFP. Para Wolf, "não podiam fazer mais".
O Museu do 11/9 abrirá ao público no dia 21 de maio, mas as autoridade estabeleceram um "período de homenagem" de cinco dias, de 15 a 20 de maio, dedicado a, entre outros, familiares de vítimas dos atentados, trabalhadores e equipes de emergência do WTC, assim com aos sobreviventes.
A partir do dia 15, os parentes das vítimas "terão a oportunidade de visitar a Sala de Reflexão, um espaço privado com acesso exclusivo a eles", segundo a carta da prefeitura.
O novo WTC inclui cinco torres, o memorial e museu, um centro de transportes público, quase 550.000 metros quadrados para o comércio varejista e um centro de artes.