Perito da ONU recolhe amostras na Síria: recuo dos EUA e dos países ocidentais na hora de atacar a Síria levará a uma intensificação dos combates (Ammar al-arbini/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2013 às 13h23.
Londres - Uma resolução da ONU para neutralizar as armas químicas na Síria será de muito difícil aplicação, caso seja aprovada, e não impedirá a intensificação da guerra, apontam analistas.
O ataque com armas químicas de 21 de agosto nos subúrbios de Damasco provocou centenas de mortes e levou o governo dos Estados Unidos a ameaçar com um ataque o regime de Bashar al-Assad, ao qual atribui a ação.
A resposta militar pode não acontecer se o Conselho de Segurança da ONU aprovar uma proposta russa para colocar o arsenal químico do regime Assad sob controle.
Executar a operação parece difícil em meio a uma guerra e, de todos os modos, o recuo dos Estados Unidos e dos países ocidentais na hora de atacar a Síria levará a uma intensificação dos combates.
Estas são as conclusões dos analistas reunidos nesta quinta-feira em Londres na apresentação do "Relatório Estratégico 2013", do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).
"As ações militares em defesa dos princípios de dissuasão são mais efetivas se seguem o princípio de Macbeth: 'se você precisa fazer algo, seriam melhor fazer rápido'", disse John Chipman, diretor geral do IISS, em referência ao adiamento da resposta americana.
"Aqueles que consideravam eliminar o arsenal químico sírio como a questão principal, poderiam ver cumprido seu objetivo minimalista. Mas que a diplomacia sobre o uso de armas químicas acelere a diplomacia para a resolução da guerra civil é outro tema diferente", completou.
"Os rebeldes sírios têm um sentimento de abatimento e abandono, um sentimento de que a ajuda não chega e que tido isto beneficia os radicais", explicou Emile Hokayem, analista de segurança no Oriente Médio do IISS.
"Vamos observar uma luta intensa nas próximas semanas, com mais violência nas facções rebeldes e um regime tentanto beneficiar-se do sentimento de abandono de seus inimigos", disse.
"Os combates vão ganhar força, provavelmente veremos mais massacres, só porque existe a impressão de que não chegará ajuda externa. Portanto é um 'salve-se quem puder'", completou Hokayem.
"As comdições para que os grupos da oposição se unam a um processo de paz diminuíram".
Mark Fitzpatrick, diretor do programa de não-proliferação do IISS, recordou que "nunca se deu uma situação na qual a comunidade internacional tenha tentado reunir, apreender e destruir armas de destruição em massa durante um conflito em marcha".
"O melhor exemplo é o Iraque, uma vez acabada a guerra, e mesmo assim levou meses para reunir os equipamentos e anos para destruir o arsenal. Na Líbia passaram anos e ainda não conseguiram destruir todo o gás mortada", recordou.
"Assim é imensamente difícil. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos acredita que seriam necessários 75.000 soldados para apreender as armas químicas na Síria".
Estes soldados, argumentou Hokayem, não poderiam ser russos, os principais aliados de Bashar al-Assad.
"Se eu fosse um comandante rebelde, diria: 'tragam-me os russos, mais objetivos'", afirmou.
O secretário de Estado americano, John Kerry, e o chanceler russo, Serguei Lavrov, se reúnem nesta quinta-feira e sexta-feira em Genebra para negociar a proposta, algo que lembra os grandes momentos da Guerra Fria.
Eles tentam recuperar a via diplomática no conflito na Síria, que em dois anos e meio deixou mais de 110.000 mortos.
A proposta tem o consentimento de Damasco. Assad anunciou que colocaria o arsenal do país sob controle internacional.