Manifestante egípcio joga pedras contra forças policiais no Cairo (AFP/Mohammed Abed)
Da Redação
Publicado em 18 de dezembro de 2011 às 17h11.
Cairo - Longe de ter a normalidade retomada, o centro do Cairo registrou neste domingo amostras de indignação popular contra a repressão das forças de segurança no terceiro dia de distúrbios, sem que haja uma saída visível para o fim da violência.
Ao menos dez mortos, 500 feridos e 181 detidos são o saldo dos choques iniciados na sexta-feira durante a expulsão de um grupo de acampados que protestava em frente à sede do governo.
Em um ambiente de tensão crescente, os manifestantes e a polícia militar voltaram a se enfrentar nas imediações do Conselho de Ministros e do Parlamento, onde caíam pedras de ambos os lados.
Posicionados nos terraços de edifícios vizinhos, homens vestidos à paisana apedrejaram os manifestantes nas ruas Qasr al Aini e Sheikh Rihan, o que causou um alto número de feridos, levados em motos ou a pé até os hospitais.
Nesses pontos próximos à Praça Tahrir chegaram reforços militares, que também utilizaram canhões de água para dispersar os manifestantes, que lançavam coquetéis molotov.
A raiva podia ser notada nos rostos dos inúmeros egípcios que, em pequenos grupos, discutiam os últimos acontecimentos e as imagens impactantes da véspera, como a mulher agredida e desnuda pela polícia e o incêndio da Academia Científica do Egito, uma das maiores bibliotecas do país.
'A junta militar está se tornando um problema', disse à Agência Efe a egípcia Merbat Saad, enquanto um grupo de voluntários levava em malas alguns exemplares semicarbonizados recuperados da biblioteca destruída, que abrigava cerca de 200 mil volumes que datavam desde 1798.
Como foi feito há um mês na rua Mohamed Mahmoud, o Exército levantou um muro de concreto em Qasr al Aini, o que não impediu novos confrontos.
'Eles querem seguir construindo muros para nos encurralar e nos atacar', disse a jovem Mai Mohammed, para quem o tratamento das forças de ordem está sendo 'desumano'.
Há menos de um mês, a rua Mohamed Mahmoud, ao lado da Tahrir e próxima ao Ministério do Interior, foi o principal foco de tensão entre a polícia e os manifestantes durante mais de uma semana.
Na ocasião, os opositores exigiam a renúncia do Conselho Supremo das Forças Armadas, à frente do país após a queda do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro.
No entanto, as reivindicações ficaram agora diluídas em uma espiral de violência cujos responsáveis por enquanto não se conhece.
Se no sábado o primeiro-ministro, Kamal Ganzouri, responsabilizou os manifestantes pelos distúrbios, neste domingo a Procuradoria pediu à emissora de televisão estatal que entregue os vídeos que mostram o incêndio de edifícios governamentais para que seja possível encontrar os culpados.
Os manifestantes, por sua vez, responsabilizam diretamente o Exército, os 'baltagueya' (pistoleiros do regime de Mubarak) e os membros das forças de segurança infiltrados nos protestos.
Um dos fundadores do Movimento 6 de Abril, Ahmed Maher, ressaltou à Agência Efe que os culpados da violência 'são membros da polícia militar que se vestem à paisana para evitar que os soldados uniformizados sejam diretamente implicados'.
Os jovens revolucionários insistem em reivindicar um governo de salvação nacional que assuma o poder durante a transição democrática e rejeitam plenamente o Executivo de Ganzouri, nomeado pela junta militar por conta da crise anterior.
Porém, por enquanto os dirigentes militares não parecem dar o braço a torcer e negam qualquer tipo de responsabilidade nos distúrbios.
Por sua vez, o grupo político da Irmandade Muçulmana, o Partido Liberdade e Justiça (PLJ), que lidera os resultados das eleições à Câmara Baixa do Parlamento, reivindicou uma investigação 'urgente e imediata' para encontrar aqueles que 'instigam os crimes cada vez que o país se aproxima da estabilidade'.
O Egito está imerso em um longo processo eleitoral que por enquanto contou com 60% de participação, segundo os últimos números oficiais.