Após 9 anos de atrasos, local onde ficavam as torres gêmeas começa a perder o aspecto de cratera (Mario Tama/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de setembro de 2010 às 12h23.
Nova York - Nove anos depois dos atentados, novas torres finalmente estão sendo erguidas do Marco Zero, em Manhattan, mas a polêmica em torno do projeto de construção de um centro islâmico nas proximidades e os planos de um pastor evangélico de queimar o Alcorão darão ao 11/9 deste ano um tom especialmente amargo.
Se antes tudo o que importava era reconstruir o World Trade Center, agora parece que o projeto vai sair do papel, embora talvez não seja dessa vez que os americanos conseguirão se recuperar do trauma do 11 de setembro, quando terroristas islâmicos sequestraram aviões comerciais para usá-los como mísseis contra alvos simbólicos, matando quase 3.000 pessoas.
Após nove anos de atrasos constrangedores, o local onde ficavam as torres derrubadas pelos terroristas - um dos metros quadrados mais caros do mundo - começa a perder o aspecto de cratera aberta por um bombardeio.
Os primeiros 36 dos 106 andares da torre Um do World Trade Center já estão de pé, e um memorial dedicado às vítimas do 11/9, com duas fontes e um parque com 400 carvalhos será inaugurado no décimo aniversário dos atentados, no ano que vem; um museu também será construído no local em 2012.
"É difícil lembrar da tragédia do 11/9, mas a maneira como saímos dela é algo de que todos os americanos deveriam se orgulhar", declarou na terça-feira o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.
No entanto, mesmo esta conquista - assim como o macabro ritual anual de ler os nomes de todas as vítimas mortas nos atentados, em 2001 - devem ser ofuscados este ano por uma disputa polêmica acerca do islã, que ganhou contornos políticos nas últimas semanas.
Neste momento, o centro das atenções está a milhares de quilômetros de distância do Marco Zero - mais precisamente, em Gainesville, na Flórida, onde o pastor de uma igreja evangélica pretende organizar um evento público para queimar exemplares do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, no dia 11 de setembro.
Autoridades do mundo todo condenaram a iniciativa, do presidente americano, Barack Obama - que participará no sábado de uma cerimônia memorial no Pentágono, em Washington - ao papa Bento XVI, no Vaticano. No entanto, as leis de liberdade de expressão vigentes nos Estados Unidos parecem deixar pouco a fazer para impedir o ato.
Se o pastor levar sua ideia adiante, a queima de Alcorões certamente provocará reações iradas da comunidade muçulmana em todo o mundo, comparável à ira despertada pelas charges de Maomé desenhadas por um cartunista dinamarquês.
A queima do Alcorão, no entanto, é apenas a face mais lúgubre de um debate mais amplo, que envolveu até o presidente Obama: a construção de um centro islâmico e de uma mesquita a duas quadras do Marco Zero.
Um protesto contra o projeto foi convocado para sábado, quebrando uma regra tácita, que vinha até então sendo seguida, contra a politização de eventos que marcam o aniversário do 11/9. Outra manifestação, a favor da construção, acontecerá na sexta-feira.
O imã e os investidores por trás do projeto afirmam que sua iniciativa representa uma chance de integrar os muçulmanos moderados à sociedade americana.
"Nosso objetivo sempre foi tornar este centro um local de unificação e cura", escreveu o imã Feisal Abdul Rauf em um artigo, publicado na quarta-feira pelo jornal The New York Times.
O projeto tem o apoio declarado do prefeito Bloomberg, entre outros, e o próprio Obama defendeu o direito dos muçulmanos de construírem sua mesquita.
Aqueles que se opõem, no entanto, têm o suporte de outros políticos de peso no país, e consideram a construção do centro islâmico em local tão próximo do Marco Zero uma afronta.
A discussão ganhou contornos ainda mais políticos devido às eleições legislativas de 2 de novembro nos EUA, nas quais os republicanos tentarão recuperar peso no Congresso.
Com as tropas americanas afundadas no atoleiro Afeganistão e os serviços secretos revelando uma série de planos para atentados no país, os americanos estão em estado de grande tensão.
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