Hitler: o estudo confirma que em 1942, 60 dos 123 músicos ativos da orquestra eram militantes do partido nazista (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 12 de março de 2013 às 11h32.
Viena - Uma medalha dedicada a Adolf Hitler e um anel de honra para um criminoso de guerra nazista nos anos 1960 são alguns dos novos elementos do passado obscuro da mítica Orquestra Filarmônica de Viena, tornados públicos no domingo, dia 10, à noite.
Cerca de 20 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, entre 1966 e 1967, e após sair da prisão onde cumpria pena por crimes de guerra, Baldur von Schirach recebia a réplica do Anel de Honra da Filarmônica de Viena que tinha obtido em 1942 e aparentemente perdido depois.
Os historiadores dão por seguro que foi assim, mas o ato, que não foi oficial, segue cercado de mistério e incógnitas.
Segundo os resultados de um estudo dos historiadores Oliver Rathkolb, Fritz Trümpi e Bernadette Mayrhofer, tudo aponta que a pessoa que fez a entrega do prêmio foi o trompetista Helmut Wobisch, então diretor-executivo da orquestra.
Ao que parece, Wobisch era um nazista convencido: filiou-se ao partido nacional-socialista alemão NSDAP em 1933, quando a formação estava proibida na Áustria; pertenceu depois à temida "SS", o esquadrão de elite de Hitler e sabe-se que trabalhou como espião nazista.
Apesar de ter sido demitido da famosa orquestra após a guerra, voltou a ser contratado pouco depois, em 1950, e a partir de 1953 ocupou inclusive o cargo de diretor-executivo.
O estudo confirma que em 1942, 60 dos 123 músicos ativos da orquestra eram militantes do partido nazista e que só quatro deles foram despedidos após o fim do regime.
Os dados, que podem ser acessados no site da Filarmônica de Viena (wienerphilharmoniker.at), estão entre os que mais indignaram a opinião pública, por se tratarem de fatos que não aconteceram sob a pressão da ditadura nazista, mas muito depois.
A prestigiada orquestra foi objeto de críticas por suas reservas ao abrir os arquivos e reconhecer publicamente os episódios mais obscuros de seu passado.
Mas, como amanhã se completam 75 anos da anexação da Áustria pela Alemanha nazista, o conjunto erudito deu um passo adiante ao permitir que os três historiadores postassem na página da orquestra os resultados de seus trabalhos, que continuarão sendo divulgados.
Agora podem ser lidas, assim, as biografias dos músicos judeus que foram demitidos da orquestra, deportados, perseguidos, assassinados e exilados entre 1938 e 1945.
Entre as novidades que o estudo trouxe à tona, há vários documentos que mencionam uma das medalhas de ouro Nicolai que outorga a orquestra, dedicada "Ao Führer" (Adolf Hitler).
Até este momento não se sabia da existência dessa medalha e por enquanto não há informação sobre a suposta entrega do prêmio.
"Resumindo: pode-se constatar que a entrega de anéis de honra e medalhas Nicolai a altos funcionários do NSDAP e sa medalha de ouro para Adolf Hitler, ainda não totalmente esclarecida, foi uma adulação, muito desonrosa, ao regime desumano e totalitário", sentencia Rathkolb.
Por sua vez, o historiador e deputado do partido ecologista Os Verdes Harald Walser afirmou hoje que "as revelações sobre a atuação dos dirigentes da Filarmônica de Viena confirmam os piores temores" e pediu que uma comissão independente de historiadores faça um estudo ainda mais minucioso.
"Ainda há muito a esclarecer", disse o deputado em recentes declarações à Efe, acrescentando que a orquestra resistia a esclarecer totalmente seu passado e só agia sob pressão midiática.
O mesmo foi admitido ontem à noite inclusive pelo presidente da Filarmônica, Clemens Hellsberg, durante a apresentação de um documentário sobre o passado da orquestra sob o regime nazista, baseado justamente nas pesquisas publicadas agora na internet.
Por trás da decisão de tornar essas conclusões públicas, está a "grande pressão midiática", reconheceu o músico à imprensa e admitiu, ainda, que "já era hora" de permitir um "olhar de fora" sobre aqueles tristes eventos.