Síria: este avanço acelera o êxodo da população (Abdalrhman Ismail/Reuters)
AFP
Publicado em 7 de dezembro de 2016 às 12h57.
As forças do governo sírio assumiram o controle de toda a Cidade Antiga de Aleppo, seu coração histórico, após a retirada dos rebeldes, cada vez mais asfixiados em seu antigo reduto.
Este avanço acelera o êxodo da população: 80.000 pessoas fugiram da zona leste de Aleppo desde o início, em 15 de novembro, da ofensiva do regime, informou nesta quarta-feira a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Os deslocados buscaram refúgio nos bairros controlados pelo governo na zona oeste da cidade e em áreas controladas pelas forças curdas, explicou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmane.
Os combatentes rebeldes se retiraram das partes da área antiga que ainda controlavam depois que as tropas do regime de Bashar al-Assad reconquistaram os bairros vizinhos de Bab al-Hadid e Aqyul.
"Recuaram pelo temor de um cerco na área antiga", explicou a ONG.
O exército sírio e seus aliados avançam rapidamente na parte leste de Aleppo e já controlam mais de 75% da área, incluindo toda a parte ao leste da cidadela histórica.
Centro turístico de Aleppo, a Cidade Antiga de Aleppo abrigava hotéis e restaurantes, totalmente desertos desde o início da guerra.
Durante a noite, o exército executou intensos bombardeios em áreas ainda controladas pelos rebeldes, como o bairro de Al-Zabdiya, segundo o OSDH.
Ao menos 15 pessoas, incluindo uma criança, morreram na terça-feira na zona leste de Aleppo.
Ao todo, ao menos 369 civis, entre eles 45 crianças, morreram nesta área desde o início da ofensiva.
Do outro lado, a zona oeste da cidade, controlada pelo regime, é alvo diário de tiros rebeldes, que provocaram a morte de 92 civis, incluindo 34 crianças, desde o dia 15.
Além disso, um coronel russo, Ruslan Galitsky, assessor militar na Síria, morreu em Aleppo após um bombardeio dos rebeldes, anunciou nesta quarta-feira o exército russo.
O oficial, de um dos mais altos escalões já mortos na Síria desde o início da intervenção russa, ficou ferido há alguns dias durante um ataque rebelde com artilharia a oeste de Aleppo, uma zona sob controle governamental.
Mais de 20 militares russos morreram na Síria desde 30 de setembro de 2015, quando a Rússia começou a intervir no conflito em apoio ao regime de Bashar al-Assad.
Neste contexto, os rebeldes sírios em Aleppo pediram um cessar-fogo imediato de cinco dias e a evacuação dos civis dos bairros do leste para outra região em mãos dos insurgentes, segundo um comunicado de vários grupos rebeldes.
A declaração, consecutiva à reconquista de 75% dos bairros rebeldes do leste de Aleppo pelas tropas governamentais, pede também negociações sobre o "futuro da cidade", uma vez que seja superada a crise humanitária.
"Nós não dormimos, a situação é muito difícil", disse à AFP Um Abdu, uma mulher de 30 anos que deixou o bairro de Bab al-Hadid com seu marido, seus cinco filhos e sua mãe. "Os últimos quatro dias foram muito estressantes", acrescentou.
Hassan Atleh, que deixou seu bairro de Bayada, relata as dificuldades que teve para comprar bens de primeira necessidade desde o início do cerco de Aleppo em julho.
"Os aumentos de preços foram surpreendentes. Foi muito difícil conseguir leite ou fraldas para o meu filho de 8 meses. Felizmente as pessoas ajudam umas as outras", declarou.
Principal aliado de Assad, a Rússia anunciou negociações esta semana em Genebra (Suíça) com os Estados Unidos para discutir a evacuação de milhares de rebeldes da zona leste de Aleppo.
Mas a reunião foi cancelada. O chanceler russo, Sergei Lavrov, culpou Washington, que negou responsabilidades do fracasso das discussões.
Lavrov e seu colega americana John Kerry devem se encontrar nesta quarta ou quinta-feira em Hamburgo (Alemanha), à margem da reunião anual da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Kerry apelou nesta quarta-feira para a retomada das negociações entre regime e oposição. "A Rússia diz que Assad está pronto" para negociar, "e eu sou a favor de colocar isso à prova, mesmo se Aleppo cair", disse Kerry.
Mas, com os seus sucessos militares, Damasco descartou qualquer cessar-fogo em Aleppo.